Muniz Costa
Os Direitos Humanos são a maior conquista dos povos ao longo da História.
Tornados universais após o horror do Holocausto na Segunda Guerra Mundial, eles
transpuseram quase todas as barreiras que separavam a humanidade na busca de um
futuro de paz. O Brasil teve papel relevante nessa arquitetura erguida há mais
de sessenta anos, como vitorioso na guerra e ator prestigiado daqueles primeiros
momentos da Organização das Nações Unidas, existindo muito boas razões para o
país proferir anualmente o discurso de abertura da Assembléia
Geral.
É uma lástima que
o governo brasileiro, ao voltar a abrir a assembléia Geral da ONU, esteja
comprometido no projeto de criação de uma comissão para apurar violações dos
Direitos Humanos patrocinada pela sigla e ideais do comunismo. A sociedade
brasileira, politicamente anestesiada, até pode se acomodar no desconhecimento,
mas não é possível esconder do mundo a ausência da URSS, Ucrânia, Bielorrússia,
Tchecoslováquia, Polônia e Iugoslávia, todos sob regime comunista, na causa dos
Direitos Humanos, quando se abstiveram, juntamente com a África de Sul e Arábia
Saudita, de votar na ONU a histórica declaração no dia 10 de dezembro de 1948.
Stalin, o supremo ditador totalitário remanescente, não estava interessado em
concessões a direitos e liberdades individuais no império comunista consolidado
à base de expurgos, assassinatos e deportações. Ademais, a retribuição russa à
barbárie nazista durante a guerra fez do Exército Vermelho o instrumento de
terror ideal para o domínio soviético da Europa Oriental que durou até o final
do século XX.
No Brasil de
hoje, se o caminho parece aberto para um governo que suprime o debate,
aproveitando-se da degradação da politica e recorrendo à propaganda enganosa
para impor um projeto sem qualquer preocupação com equilíbrio, transparência e
reconciliação nacional, do ponto de vista internacional é impossível que essa
incoerência deixe de trazer descrédito ao país. Inevitavelmente, as Forças
Armadas serão atingidas pelos trabalhos da comissão, porém, a grande prejudicada
será a politica nacional, na medida em aqueles que apelaram à violência em prol
da implantação de um sistema totalitário no País vierem a ser ungidos como
heróis, resultado previsível do que está em curso e já se delineia na
desenvoltura com que personagens controversos se movem ao arrepio da lei e da
ética. Jamais uma causa tão nobre teve propósitos e agentes tão espúrios. Jamais
um governo brasileiro foi tão longe para impor uma versão única do passado do
País. A comissão nunca pretendeu tratar do passado. Ela visa, a partir de uma
vingança, um futuro exclusivo e excludente. O Brasil se inclina perigosamente
para o lado errado da História.
No que diz
respeito às Forças Armadas, não pode ser esquecido que “a reflexão sobre a
realidade brasileira está, por assim dizer, embutida nos próprios alicerces da
condição e da experiência dos nossos militares. De todos os grupos sociais do
País, são eles, e em especial os do Exército, que têm a autêntica visão de
conjunto dessa realidade. E esse é um aspecto precioso, que a modesta vida do
oficial, nas guarnições espalhadas por sobre a nossa imensa geografia,
metaboliza em reflexão”. Os militares brasileiros têm historicamente o dever e o
direito de pensar o País, sem o que não poderão defendê-lo. A Nação tem que
ouvi-los e nesse sentido as modificações no projeto da comissão apresentadas
pelos comandantes militares devem ser tomadas em conta e não puramente
desconsideradas em nome de interesses políticos que não alcançam a grandeza e o
significado da disciplina e da subordinação militar às autoridades legalmente
constituídas. Somente os conteúdos originais do Estatuto dos Militares e dos
Regulamentos Disciplinares já teriam muito a ensinar a políticos, juristas e
militantes, partícipes ou não da nefasta comissão.
Com as armas
legítimas do estado e o sangue generoso do seu povo o Brasil defendeu a
democracia e os direitos humanos, como é até hoje reconhecido nos monumentos da
região da Emilia-Romanha na Itália onde os pracinhas combateram entre setembro
de 1944 e maio de 1945. No Monumento Votivo Militar Brasileiro em Pistóia se
lê:
“Esta terra
sagrada foi sepultura dos soldados brasileiros mortos no campo da honra pela
dignidade da pessoa humana. MCMXLV”
À luz da
História, a comissão pretendida pelo governo ultrapassou a questão da verdade ou
da mentira.
Trata-se de uma
infâmia.
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