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terça-feira, 21 de outubro de 2014

O Dia

                       * Sérgio Paulo Muniz Costa

O debate da presente eleição presidencial recebeu muitas críticas pela falta de relevância dos temas ou pelo viés ofensivo para o qual descambou, mas, conquanto seja de estranhar que essas preocupações só tenham ocorrido depois que o candidato Aécio Neves respondeu ataques da mesma natureza daqueles que desconstruíram a candidatura de Marina Silva, o que verdadeiramente está em jogo é a percepção do que significa para o Brasil a reeleição da candidata do PT. E, ao contrário das críticas costumeiras que recebe, neste aspecto, a oposição política está cumprindo o seu papel, ao lançar uma poderosa palavra de ordem para o Brasil ir às urnas e defender a escolha que ali fizer. O que na verdade falta é apercebermo-­‐nos da seriedade da situação em que vivemos, na qual a oposição vem a público pronunciar, com todas as letras, o que significa o dia da eleição.
Toda ditadura é intrinsicamente corrupta, uma verdade histórica que contraria a imagem de severidade e austeridade com que ela procura se justificar. “Hitler ficava feliz por satisfazer o desejo infinito de seus subalternos pelos adornos materiais do poder e do sucesso, sabedor que a corrupção em escala maciça assegurava lealdade”(IAN KERSHAW). O ocaso da União Soviética revelou, mais do que uma abismal ineficiência econômica, a mais pervertida relação entre poder e privilégios de que se tem notícia, materializada na nova classe da Nomenklatura, composta pelos gestores do partido comunista que tudo controlavam e viviam como barões cercados da precariedade e penúria da população. Também são conhecidos o gosto do ditador norte-­‐coreano Kim Jong-­‐ Il (1941-­‐2011) por vinhos franceses e a sua bilionária conta bancária, bem como vão aflorando as notícias sobre a fortuna e vida luxuosa dos Castro à custas de Cuba. São constatações que não devem surpreender, pois sem a corrupção a ditadura não tem como sobreviver.
Toda ditadura é desestabilizadora, outra verdade extraída do obituário dos totalitarismos do século XX. Ela não pode se conter num dado estado de coisas, por que, na ausência de competição democrática, o seu centro de poder se torna isolado e vulnerável, tendo, portanto, de promover seguidas “revoluções” expressas em medidas excepcionais, tanto na política interna, quanto na externa. É a fuga permanente para o futuro, consubstanciada, internamente no arbítrio sobre a sociedade, e externamente, na promoção ou apoio de agressões e hostilidade ao sistema internacional que, em sua visão ideológica, contraria seus objetivos. Sem esse “continuum de radicalização”, ditadura alguma é capaz de se sustentar. Quem acalenta projetos ditatoriais não foi, não é e não será honesto, e tampouco benevolente, com tudo e com todos, nem mesmo com seus acólitos, todos meros peões de seu poder. É simplesmente fatal pensar o contrário.

Há cerca de vinte anos, durante um simpósio promovido sobre as tendências políticas do pensamento brasileiro, perguntei a uma personalidade em ascensão na política nacional do que mais precisava o Brasil naquele momento: se da liberdade, a “ausência da constrangimento e de restrição” (MERQUIOR), a liberdade negativa; ou da autonomia, a “fruição livre de direitos estabelecidos ... associada a um sentido de dignidade” (Ibid.), a liberdade positiva. A resposta foi inequívoca: era da autonomia, da liberdade positiva, que mais necessitávamos: a liberdade protegida pela lei e costumes; a liberdade de participar dos negócios da sociedade; a liberdade de consciência e de crença; e a liberdade de vivermos como nos apraz. Dávamos os primeiros passos para a consolidação de nossa democracia, e parecia natural que, uma vez afastados os resquícios de autoritarismo político, a ênfase recaísse na fruição consciente e responsável de direitos. O entusiasmo de alguns painelistas em responder nesse sentido contrastou com o silêncio constrangedor de outra presença. Naquele momento, não era possível avaliar o por quê.
Seria desalentador apenas constatar o quanto regredimos nesses vinte anos, ao deixarmos que a preocupação com o desenvolvimento de nossa autonomia fosse substituída pela luta em prol da preservação de nossa liberdade. Só isso basta para reconhecer que algo muito errado nos aconteceu, sociedade brasileira: permitir que um projeto de poder que jamais escondeu, por princípios e convicções, em discursos e ações, o seu vínculo com a ditadura viesse a nos colocar diante de uma escolha impensável.
Mais animador é a certeza de que somos uma democracia, imperfeita sem dúvida, como tantas, mas ainda capaz de reconhecer o significado da eleição de 2014, que, pelo seu próprio conceito, remete-­‐se em importância a um futuro que vai além dela mesma, pois preservar a liberdade é mais prudente do que sofrer para restaurá-­‐la. Poucas vezes na história das ideias na política brasileira um apelo tão poderoso foi lançado ao eleitorado. É essa ideia que dará nome ao dia da eleição, mesmo depois que ele tiver passado:

O dia da libertação.

* Historiador 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

CLAMOR GERAL!


"A divergência e o debate são comuns e saudáveis em uma democracia. Podemos discordar em muitos pontos, mas tenho certeza que concordamos nos principais valores básicos, essenciais à sociedade que sonhamos para o futuro.
Podemos discordar das privatizações, mas não precisamos aceitar que a roubalheira, o aparelhamento político e a incompetência tomem conta das nossas estatais.
Podemos admirar os programas sociais do PT, mas não precisamos aceitar um governo que mente descaradamente que seus adversários acabariam com eles em um óbvio terrorismo eleitoral.
Podemos não gostar dos EUA, mas não precisamos apoiar um governo que se alia às piores ditaduras do mundo e defende países terroristas.
Podemos não gostar da Globo ou da Veja, mas não precisamos de um governo que tenta controlar a imprensa.
Podemos não gostar do PSDB, mas não podemos aceitar um governo, que se dizia guardião da ética, viver mergulhado em escândalos diários, e se aliar e defender a escória da política nacional como Maluf, Collor, Renan, Sarney, Jader Barbalho.
Podemos não gostar do Aécio, mas não podemos permitir que todas essas práticas sejam incentivadas, premiadas e perpetuadas.  

Podemos querer outras alternativas, mas não podemos deixar no poder uma quadrilha cuja cúpula, mesmo presa na Papuda, é tratada como heróis e continua filiada ao partido!
Não podemos deixar que continuem a sambar na nossa cara, infiltrando membros no STF para livrar seus pares, comprando o legislativo com mesadas, sangrando nosso país em benefício próprio e de ditaduras e pseudodemocracias. Se fizermos isso será um atestado de que somos tão sem-vergonhas quanto eles, que NADA nos choca e tudo pode nessa terra porque não temos mais qualquer capacidade de indignação.
Se você não concorda com isso, é hora de mudar. Voto nulo, branco ou abstenção é o mesmo que endossar suas práticas.
É hora de união contra aqueles que tentam rachar o país, com um discurso irresponsável e preconceituoso de "nós" contra "eles", "pobres" contra "ricos", "negros" contra "brancos", "povo" contra "elite branca"...
Ricos, pobres, mulatos, negros, brancos, sudeste, nordeste, centro-oeste, norte, sul, Aécio, Marina, Eduardo Jorge, não importa... Todos juntos contra a podridão desse grupo corrupto e incompetente. 
Autor Desconhecido.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Basta de PT

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• Dilma foi a terceira pior presidente em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto e Fernando Collor
 
- O Globo
 
Estamos vivendo um momento histórico. A eleição presidencial de 2014 decidirá a sorte do Brasil por 12 anos. Como é sabido, o projeto petista é se perpetuar no poder. Segundo imaginam os marginais do poder — feliz expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello quando do julgamento do mensalão —, a vitória de Dilma Rousseff abrirá caminho para que Lula volte em 2018 e, claro, com a perspectiva de permanecer por mais 8 anos no poder. Em um eventual segundo governo Dilma, o presidente de fato será Lula. Esperto como é, o nosso Pedro Malasartes da política vai preparar o terreno para voltar, como um Dom Sebastião do século XXI, mesmo que parecendo mais um personagem de samba-enredo ao estilo daquele imortalizado por Sérgio Porto.
 
Diferentemente de 2006 e 2010, o PT está fragilizado. Dilma é a candidata que segue para tentar a reeleição com a menor votação obtida no primeiro turno desde a eleição de 1994. Seu criador foi derrotado fragorosamente em São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Imaginou que elegeria mais um poste. Não só o eleitorado disse não, como não reelegeu o performático e inepto senador Eduardo Suplicy, e a bancada petista na Assembleia Legislativa perdeu oito deputados e seis na Câmara dos Deputados.
 
A resistência e a recuperação de Aécio Neves foram épicas. Em certo momento da campanha, parecia que o jogo eleitoral estava decidido. Marina Silva tinha disparado e venceria — segundo as malfadadas pesquisas. Ele manteve a calma até quando um dos seus coordenadores de campanha estava querendo saltar para o barco da ex-senadora.
 
E, neste instante, a ação das lideranças paulistas do PSDB foi decisiva. Geraldo Alckmin poderia ter lavado as mãos e fritado Aécio. Mas não o fez, assim como José Serra, o senador mais votado do país com 11 milhões de votos. Foi em São Paulo que começou a reação democrática que o levou ao segundo turno com uma vitória consagradora no estado onde nasceu o PT.
 
Esta campanha eleitoral tem desafiado os analistas. As interpretações tradicionais foram desmoralizadas. A determinação econômica — tal qual como no marxismo — acabou não se sustentando. É recorrente a referência à campanha americana de 1992 de Bill Clinton e a expressão "é a economia, estúpido". Com a economia crescendo próximo a zero, como explicar que Dilma liderou a votação no primeiro turno? Se as alianças regionais são indispensáveis, como explicar a votação de Marina? E o tal efeito bumerangue quando um candidato ataca o outro e acaba caindo nas intenções de voto? Como explicar que Dilma caluniou Marina durante três semanas, destruiu a adversária e obteve um crescimento nas pesquisas?
 
Se Lula é o réu oculto do mensalão, o que dizer do doleiro petista Alberto Youssef? Imagine o leitor quando o depoimento — já aceito pela Justiça Federal — for divulgado ou vazar? De acordo com o ministro Teori Zavascki, o envolvimento de altas figuras da República faz com que o processo tenha de ir para o STF. E, basta lembrar, segundo o doleiro, que só ele lavou R$ 1 bilhão de corrupção da Refinaria Abreu e Lima. Basta supor o que foi desviado da Petrobras, de outras empresas e bancos estatais e dos ministérios para entender o significado dos 12 anos de petismo no poder. É o maior saque de recursos públicos da História do Brasil.
 
Nesta conjuntura, Aécio tem de estar preparado para um enorme bombardeio de calúnias que irá receber. Marina Silva aprendeu na prática o que é o PT. Em uma quinzena foi alvo de um volume nunca visto de mentiras numa campanha presidencial que acabou destruindo a sua candidatura. Não soube responder porque, apesar de ter saído do PT, o PT ainda não tinha saído dela. Ingenuamente, imaginou que tudo aquilo poderia ser resolvido biblicamente, simplesmente virando a face para outra agressão. Constatou que o PT tem como princípio destruir reputações. E ela foi mais uma vítima desta terrível máquina.
 
O arsenal petista de dossiês contra Aécio já está pronto. Os aloprados não têm princípios, simplesmente cumprem ordens. Sabem que não sobrevivem longe da máquina de Estado. Contarão com o apoio entusiástico de artistas, intelectuais e jornalistas. Todos eles fracassados e que imputam sua insignificância a uma conspiração das elites. E são milhares espalhados por todo o Brasil.
 
Teremos o mais violento segundo turno de uma eleição presidencial. O que Marina sofreu, Aécio sofrerá em dobro. Basta sinalizar que ameaça o projeto criminoso de poder do petismo. O senador tucano vai encontrar pelo caminho várias armadilhas. A maior delas é no campo econômico. O governo do PT gestou uma grave crise. Dilma foi a terceira pior presidente da história do Brasil republicano em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto — que teve no seu triênio presidencial duas guerras civis — e Fernando Collor — que recebeu a verdadeira herança maldita: uma inflação anual de quatro dígitos. O PT deve imputar a Aécio uma agenda econômica impopular que enfrente radicalmente as mazelas criadas pelo petismo. Daí a necessidade imperiosa de o candidato oposicionista deixar claro — muito claro — que quem fala sobre como será o seu governo é ele — somente ele.
 
Aécio Neves tem todas as condições para vencer a eleição mais difícil da nossa história. Se Tancredo Neves foi o para que o Brasil se livrasse de 21 anos de arbítrio, o neto poderá ser aquele que livrará o país do projeto criminoso de poder representado pelo PT. E poderemos, finalmente, virar esta triste página da nossa história.
 
Marco Antonio Villa é historiador

domingo, 5 de outubro de 2014

MEU LAMENTO DE VERGONHA


 
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
 Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
Assim, um pobre brasileiro
De povo dito faceiro
Pergunto-me o dia inteiro
Quando sairemos desse chiqueiro?

Um país tão maravilhoso
Com umas terras tão benditas
Que tem destino horroroso
Com essa canalha maldita
Políticos tão asquerosos
Ladravazes sem qualquer pudor
E ainda assim poderosos
Que perpetuam nosso horror
Súcia em tudo maldita
Sanguessuga do que é público
Que provoca tanta desdita
E o povo? Olha a tudo abúlico!
Povo desprovido de cultura
Que se vende por tão pouco
Talvez sirva uma dentadura
Ou em seu barraco um reboco
Onde estão os homens honrados?
Por onde anda a probidade?
Esses, que pena – estão acuados
Perdidos nessa imoralidade
E nesse beco que parece
Não possuir uma saída
O que nos resta – uma prece?
Fingir que não há desdita?
Eu acredito que não
Não desisto de minha terra
Resolva-se então no canhão
E que seja bem-vinda a guerra
Nenhuma grande Nação
Em toda a história do Mundo
Obteve glória e projeção
Sem caudais de sangue profundo
Desvios de todos os valores
Degradação da família
São hoje alguns fatores
Que a todos corrompe e vicia
Confesso, sinto-me envergonhado
De ser de um povo tão fuleiro
Um território privilegiado
Mas – é triste ser brasileiro
E assim, nas calhas de roda
Gira, a esmagar a razão
Esse comboio de corda
Que se chama coração
Saint-Clair Paes Leme – poeta de botequim pé-sujo,
com a licença poética do fantástico Fernando Pessoa