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terça-feira, 29 de julho de 2014

Santander: Verdades que não cabem num extrato

Doze anos depois da ‘carta’, um extrato assusta o PT


O episódio que começou com a singela opinião de um analista do banco Santander e terminou num pedido de desculpas, na vitimização do PT e na demissão de funcionários do banco mostra o crescente constrangimento do debate de ideias no Brasil, já tão pobre e imbecilizado.

Dizer que, se Dilma for reeleita, a Bolsa vai cair e o dólar vai subir é como “prever” que o rio corre para o mar, ou que o dia amanhecerá depois da noite.

Ao tentar envenenar a análise clara do Santander, o PT só prova que, além de ser mau gestor da economia, o partido está cada vez mais medroso, mais cheio de mimimi, e mais distante da democracia.

Senhoras e senhores, liberais e conservadores, petistas e tucanos: O dinheiro não aceita desaforo. O dinheiro não é “amigo” de uns, nem tem antipatia com outros. Ele não é um ente político nem partidário. Ele é um freelancer que só busca uma coisa: retorno sobre o investimento. Boa parte do PIB nacional já “votou” no PT em 2006 e até em 2010, uma época em que o partido deixou a economia em paz no seu tripé e foi cuidar dos programas sociais.

Mas, ensinam os livros de economia, os donos do dinheiro são sujeitos excêntricos: eles só acham possível obter retorno quando as regras são claras e estáveis, quando a inflação está baixa, e quando o País cresce. Infelizmente — para a Presidente Dilma, para o mercado e para o País — seu governo falhou nos três quesitos. Nada pessoal, Presidente.

O Santander está certo: se este governo que produz PIBinho atrás de PIBinho e que faz com que empresários represem investimentos for reeleito, as empresas brasileiras valerão menos, o dólar valerá mais, e a economia continuará crescendo pouco ou nada. Isto é uma realidade econômica, mas se você não entende o sentido da frase “não existe almoço grátis”, nem precisa continuar lendo.

Qualquer brasileiro pode se lixar para o valor das empresas, dar de ombros para o valor do dólar, e não se ligar na taxa de crescimento do Brasil — apesar das três coisas terem impacto na sua vida e na do seu vizinho — e pode votar na Presidente Dilma. É um direito dele, assim como deveria ser direito de um analista de banco…. analisar os incentivos dos agentes econômicos, como fizeram os funcionários do Santander.

É curioso que, na eleição de 2002, o então candidato Lula (então conhecido no mercado como Satã) entendeu a importância de se comunicar com o mercado (ainda conhecido no PT como Satã) em sua famosa “carta ao povo brasileiro” — mais conhecida, na piada que a história consagrou, como “carta ao banqueiro brasileiro”. Para quem não se lembra, era uma carta em que o PT jurava que ia honrar as dívidas e não bagunçar a economia que FHC havia acabado de consertar.

É isto mesmo, companheiros. Saboreiem a ironia: o partido que um dia teve a coragem de escrever uma carta pública, renunciando a 20 anos de nonsense econômico, hoje se faz de vítima histérica de uma opinião nada controversa escrita num reles extrato. Pior: não quer que sua política econômica passe pela análise de profissionais de uma empresa financeira que é paga para orientar seus correntistas.

Rui Falcão, presidente do PT, disse ao Estadão: “O que aconteceu é proibido, porque você não pode fazer manifestações que por qualquer razão interfiram na decisão de voto. E aquele tipo de afirmação pode sim interferir na decisão do voto.”

Levada ao limite, a tese de Falcão impediria o debate político, já que qualquer cidadão que emite uma opinião “interfere” na decisão de voto de alguém. Se fosse assim, só nos restaria sentar e assistir à propaganda eleitoral, aquele espaço onde existe tudo, menos verdade.

Os esforços do PT de se fazer de vítima do mercado nessa estória revelam a pobreza intelectual do partido, sua incapacidade de lidar com críticas e seu oportunismo em bancar a vítima. Nos EUA, quando os democratas estão na frente numa corrida eleitoral, os bancos frequentemente dizem que isso é má notícia para o mercado (“vendam suas ações”), pois democratas tendem a querer mais impostos e mais gastos. Apesar disso, não há registro do Partido Democrata ameaçar o JP Morgan ou a Goldman Sachs de “interferir no processo”.

Quanto ao Santander, que assumiu o “erro” e pediu desculpas, também aprendemos uma coisa: Nem o banco mais umbilicalmente conectado com o Governo — com exceção dos próprios bancos estatais — conseguiu controlar uma opinião que, de tão óbvia, passou despercebida por qualquer controle interno.

A postura subalterna do Santander — noves fora a covardia inominável de demitir seu time de analistas — não é, entretanto, de se estranhar. O banco é como o capital: só quer saber de seu retorno. É um negócio amoral.

Já da política se espera muito mais — o livre debate de ideias — e é preocupante que os políticos não estejam à altura das expectativas.

No final das contas, o extrato do Santander só mostrou uma democracia com saldo negativo.

Por Geraldo Samor

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O 9 de Julho, de Getúlio ao PT - FERNÃO LARA MESQUITA


O ESTADO DE S.PAULO - 23/07

São Paulo comemorou este mês o 82.º aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, que muito pouca gente, neste Estado e no resto do Brasil, sabe o que foi. É impróprio, aliás, usar verbos no passado para tratar deste assunto, pois a luta de 1932, que começara pelo menos 50 anos antes com o Movimento Abolicionista, que desaguou na República e se confunde com a história deste jornal, é exatamente a mesma de hoje.

Gira em torno da seguinte pergunta: onde se quer instalar a sociedade brasileira emancipada, no campo da civilização ou no da barbárie? No Estado de Direito, com a lei igual para todos, ou nas variações do caudilhismo populista, onde fala quem pode e obedece quem tem juízo? Numa meritocracia, em que só a educação e a dedicação no trabalho legitimam a diferença, ou no sistema em que a cooptação e a cumplicidade com a corrupção são os únicos caminhos para o poder e para a afluência?

O Movimento Abolicionista é o primeiro na História do Brasil a surgir nas ruas, não nos palácios, e a tomar o País inteiro numa avassaladora mobilização cívica. Nasceu sob inspiração direta da Revolução Americana. Muitos de seus principais líderes brancos e negros frequentaram as mesmas "lojas maçônicas" lá, nos Estados Unidos, onde a elite do Iluminismo fugida do absolutismo monárquico europeu, regime sob o qual viviam o Brasil e o resto do mundo de então, iniciou o debate que resultaria no desenho das instituições da democracia moderna.

Tratava-se de uma humanidade escaldada por 2 mil anos dormindo sob o risco de sua majestade acordar de mau humor e mandar torturá-la até a morte sem ter de dar explicações a ninguém. Para garantir que nunca mais fosse assim aqueles conspiradores estabeleceram os princípios fundamentais da democracia que até hoje não se instalou por aqui: o império incontestável da lei, inclusive e principalmente sobre os governantes; a vontade popular, democraticamente aferida, como única fonte de legitimação dessa lei, e o mérito no trabalho como única fonte de legitimação do poder econômico; a descentralização do poder para garantir a fiscalização mais direta possível dos representados sobre os representantes, concentrando nos municípios todas as decisões e os serviços públicos que pudessem ser prestados no âmbito deles; nos Estados, apenas as que se referissem aos assuntos que envolvessem mais de um município; e na União, só as que não pudessem ser resolvidos por essas duas instâncias, mais as relações internacionais.

Para reduzir ainda mais o espaço para que as tentações do mando não produzissem os efeitos que sempre produzem no caráter dos homens, determinou-se que cada uma dessas instâncias de governo fosse dividida em três Poderes autônomos e independentes entre si, uns encarregados de fiscalizar os atos dos outros.

Não foi à toa, portanto, que os brasileiros oprimidos que testemunharam esse verdadeiro milagre se tivessem encantado a ponto de dedicar sua vida a fazê-lo acontecer também no Brasil.

Foi em nome desses princípios que nasceu a República. E foi para preservá-los que foram feitas a Revolução de 1930, a Revolução de 1932, a redemocratização de 1945, o contragolpe de 1964 e a redemocratização de 1985.

Getúlio traiu, como Lula, a bandeira da "ética na política", que levou os dois ao poder, em 1930 e em 2002. Getúlio, adiando a convocação de uma Constituinte e nomeando títeres como governadores dos Estados até que São Paulo se levantasse contra a sua ditadura não declarada, em 1932; Lula, aliando-se a todos os "carcomidos" da política, que se elegeu atacando, para se perenizar no poder.

Foram 87 dias de uma guerra desigual contra os Exércitos da União. São Paulo foi derrotado militarmente, mas teve uma vitória moral tão indiscutível que Getúlio, depois de devolver o governo do Estado a lideranças paulistas (na pessoa de Armando Salles de Oliveira), sentiu-se constrangido a convocar finalmente a Constituinte que deu ao Brasil, em 1934, a única Constituição verdadeiramente democrática que o País teve.

Tão democrática que o caudilho não conseguiu conviver com ela e "fechou" o País, em 1937, impondo a sua própria lei e reinstalando a ditadura. Um movimento semelhante ao que o PT repetiu agora com o Decreto 8.243, que segue vigendo, recorde-se, e determina que nossas leis passarão a ser feitas não mais exclusivamente por um Congresso legitimado pelo voto de todos os brasileiros, mas pelos "movimentos sociais" que o partido escolher.

Um dos primeiros atos da ditadura varguista foi queimar cerimonialmente as bandeiras dos Estados da Federação. O PT também trata de centralizar o poder, mas por meio de uma sucessão de medidas provisórias e outros expedientes sub-reptícios que, passo a passo, vão tirando atribuições e fontes de arrecadação dos Estados e municípios, de modo a deixá-los totalmente dependentes da União.

Getúlio fechou o Congresso; o PT subornou o Congresso. Getúlio instalou um Poder Judiciário teleguiado; o PT criou um Poder Judiciário colonizado. Getúlio instituiu o regime em que "para os amigos, (o Estado dava) tudo; para os inimigos, (o Estado aplicava) a lei"; o PT instituiu o sistema dos vazamentos seletivos para a imprensa dos "podres" de seus adversários políticos, verdadeiros ou falsos, de par com as suítes especiais nos presídios para os poucos "amigos" condenados antes da desmontagem do Poder Judiciário. Getúlio criou a indústria de base e a distribuiu entre os "amigos" que financiavam o regime; o PT reverteu a economia democratizada que recebeu na política dos "campeões nacionais" donos de monopólios financiados com dinheiro público, hoje os maiores contribuintes de suas campanhas. Getúlio seduziu o povão com a outorga de direitos sem a contrapartida de deveres; o PT seduziu o povão com os salários sem a contrapartida do trabalho. Getúlio criou os sindicatos pelegos sustentados pelo Estado; Lula e o PT são o produto direto deles.

São Paulo resistiu sozinho a Getúlio; São Paulo vem resistindo quase sozinho ao PT. A luta de 1932, portanto, ainda não acabou. E em outubro próximo haverá mais uma batalha decisiva.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A MÁSCARA DO GIGANTE

O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar formosos sonhos. Mas no futebol, assim como na política, é mau viver sonhando e sempre preferível se ater à verdade, por mais dolorosa que seja



Fiquei muito envergonhado com a cataclísmica derrota do Brasil frente à Alemanha na semifinal da Copa do Mundo, mas confesso que não me surpreendeu tanto. De um tempo para cá, a famosa seleção Canarinho se parecia cada vez menos com o que havia sido a mítica esquadra brasileira que deslumbrou a minha juventude, e essa impressão se confirmou para mim em suas primeiras apresentações neste campeonato mundial, onde a equipe brasileira ofereceu uma pobre figura, com esforços desesperados para não ser o que foi no passado, mas para jogar um futebol de fria eficiência, à maneira europeia.
Nada funcionava bem; havia algo forçado, artificial e antinatural nesse esforço, que se traduzia em um rendimento sem graça de toda a equipe, incluído o de sua estrela máxima, Neymar. Todos os jogadores pareciam sob rédeas. O velho estilo – o de um Pelé, Sócrates, Garrincha, Tostão, Zico – seduzia porque estimulava o brilho e a criatividade de cada um, e disso resultava que a equipe brasileira, além de fazer gols, brindava um espetáculo soberbo, no qual o futebol transcendia a si mesmo e se transformava em arte: coreografia, dança, circo, balé.
Os críticos esportivos despejaram impropérios contra Luiz Felipe Scolari, o treinador brasileiro, a quem responsabilizaram pela humilhante derrota, por ter imposto à seleção brasileira uma metodologia de jogo de conjunto que traía sua rica tradição e a privava do brilhantismo e iniciativa que antes eram inseparáveis de sua eficácia, transformando seus jogadores em meras peças de uma estratégia, quase em autômatos.

Não houve nenhum milagre nos anos de Lula, e sim uma miragem que agora começa a se dissipar

Contudo, eu acredito que a culpa de Scolari não é somente sua, mas, talvez, uma manifestação no âmbito esportivo de um fenômeno que, já há algum tempo, representa todo o Brasil: viver uma ficção que é brutalmente desmentida por uma realidade profunda.
Tudo nasce com o governo de Luis Inácio 'Lula' da Silva (2003-2010), que, segundo o mito universalmente aceito, deu o impulso decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil, despertando assim esse gigante adormecido e posicionando-o na direção das grandes potências. As formidáveis estatísticas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística difundia eram aceitas por toda a parte: de 49 milhões os pobres passaram a ser somente 16 milhões nesse período, e a classe média aumentou de 66 para 113 milhões. Não é de se estranhar que, com essas credenciais, Dilma Rousseff, companheira e discípula de Lula, ganhasse as eleições com tanta facilidade. Agora que quer se reeleger e a verdade sobre a condição da economia brasileira parece assumir o lugar do mito, muitos a responsabilizam pelo declínio veloz e pedem uma volta ao lulismo, o governo que semeou, com suas políticas mercantilistas e corruptas, as sementes da catástrofe.
A verdade é que não houve nenhum milagre naqueles anos, e sim uma miragem que só agora começa a se esvair, como ocorreu com o futebol brasileiro. Uma política populista como a que Lula praticou durante seus governos pôde produzir a ilusão de um progresso social e econômico que nada mais era do que um fugaz fogo de artifício. O endividamento que financiava os custosos programas sociais era, com frequência, uma cortina de fumaça para tráficos delituosos que levaram muitos ministros e altos funcionários daqueles anos (e dos atuais) à prisão e ao banco dos réus.
As alianças mercantilistas entre Governo e empresas privadas enriqueceram um bom número de funcionários públicos e empresários, mas criaram um sistema tão endiabradamente burocrático que incentivava a corrupção e foi desestimulando o investimento. Por outro lado, o Estado embarcou muitas vezes em operações faraônicas e irresponsáveis, das quais os gastos empreendidos tendo como propósito a Copa do Mundo de futebol são um formidável exemplo.
O governo brasileiro disse que não havia dinheiro público nos 13 bilhões que investiria na Copa do Mundo. Era mentira. O BNDES (Banco Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social) financiou quase todas as empresas que receberam os contratos para obras de infraestrutura e, todas elas, subsidiavam o Partido dos Trabalhadores, atualmente no poder. (Calcula-se que para cada dólar doado tenham obtido entre 15 e 30 em contratos).

As obras da Copa foram um caso flagrante de delírio e irresponsabilidade

As obras em si constituíam um caso flagrante de delírio messiânico e fantástica irresponsabilidade. Dos 12 estádios preparados, só oito seriam necessários, segundo alertou a própria FIFA, e o planejamento foi tão tosco que a metade das reformas da infraestrutura urbana e de transportes teve de ser cancelada ou só será concluída depois do campeonato. Não é de se estranhar que o protesto popular diante de semelhante esbanjamento, motivado por razões publicitárias e eleitoreiras, levasse milhares e milhares de brasileiros às ruas e mexesse com todo o Brasil.
As cifras que os órgãos internacionais, como o Banco Mundial, dão na atualidade sobre o futuro imediato do país são bastante alarmantes. Para este ano, calcula-se que a economia crescerá apenas 1,5%, uma queda de meio ponto em relação aos dois últimos anos, nos quais somente roçou os 2%. As perspectivas de investimento privado são muito escassas, pela desconfiança que surgiu ante o que se acreditava ser um modelo original e resultou ser nada mais do que uma perigosa aliança de populismo com mercantilismo, e pela teia burocrática e intervencionista que asfixia a atividade empresarial e propaga as práticas mafiosas.
Apesar de um horizonte tão preocupante, o Estado continua crescendo de maneira imoderada – já gasta 40% do produto bruto – e multiplica os impostos ao mesmo tempo que as “correções” do mercado, o que fez com que se espalhasse a insegurança entre empresários e investidores. Apesar disso, segundo as pesquisas, Dilma Rousseff ganhará as próximas eleições de outubro, e continuará governando inspirada nas realizações e logros de Lula.
Se assim é, não só o povo brasileiro estará lavrando a própria ruína, e mais cedo do que tarde descobrirá que o mito sobre o qual está fundado o modelo brasileiro é uma ficção tão pouco séria como a da equipe de futebol que a Alemanha aniquilou. E descobrirá também que é muito mais difícil reconstruir um país do que destruí-lo. E que, em todos esses anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, viveu uma mentira que seus filhos e seus netos irão pagar, quando tiverem de começar a reedificar a partir das raízes uma sociedade que aquelas políticas afundaram ainda mais no subdesenvolvimento. É verdade que o Brasil tinha sido um gigante que começava a despertar nos anos em que governou Fernando Henrique Cardoso, que pôs suas finanças em ordem, deu firmeza à sua moeda e estabeleceu as bases de uma verdadeira democracia e uma genuína economia de mercado. Mas seus sucessores, em lugar de perseverar e aprofundar aquelas reformas, as foram desnaturalizando e fazendo o país retornar às velhas práticas daninhas.
Não só os brasileiros foram vítimas da miragem fabricada por Lula da Silva, também o restante dos latino-americanos. Por que a política externa do Brasil em todos esses anos tem sido de cumplicidade e apoio descarado à política venezuelana do comandante Chávez e de Nicolás Maduro, e de uma vergonhosa “neutralidade” perante Cuba, negando toda forma de apoio nos organismos internacionais aos corajosos dissidentes que em ambos os países lutam por recuperar a democracia e a liberdade. Ao mesmo tempo, os governos populistas de Evo Morales na Bolívia, do comandante Ortega na Nicarágua e de Correa no Equador – as mais imperfeitas formas de governos representativos em toda a América Latina – tiveram no Brasil seu mais ativo protetor.
Por isso, quanto mais cedo cair a máscara desse suposto gigante no qual Lula transformou o Brasil, melhor para os brasileiros. O mito da seleção Canarinho nos fazia sonhar belos sonhos. Mas no futebol, como na política, é ruim viver sonhando, e sempre é preferível – embora seja doloroso – ater-se à verdade.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

O correto uso do papel higiênico

Esta foi a última coluna escrita por João Ubaldo Ribeiro, que seria publicada no dia 20 de julho

O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.
Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores. Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.
Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção? O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares. Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.
Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo. E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.
Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social. Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide. Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.

João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) era escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras  - Cadeira 34

quarta-feira, 16 de julho de 2014

ACABARAM-SE OS JOGOS DE BOLA


Talvez, agora, se volte a dar bola

Para a péssima qualidade,

Que ainda tem nossa escola.

Segundo alardeia a propaganda

Da nossa ex-torcedora presidente,

Esta, que tem uma fala errática,

99% das crianças estão matriculadas.

Mas, que pena desses meninos:

Assim como ela, não fazem um plural

Nem mesmo uma concordância,

E não conseguem resolver

A mais trivial operação matemática.


Vão mudar as manchetes dos jornais.

Em vez do gol e da alegria de quem o faz,

Talvez agora se volte a mostrar

O povo sofrido e maltratado

Nas filas, corredores e portas

Dos nossos parcos e porcos hospitais.


Acabaram-se os jogos de bola.

Vão-se os policiais das ruas,

O Exército volta à caserna.

Já não haverá mais festança

Financiada com o dinheiro

Que era da segurança.

Acabaram-se os jogos de bola.

Não haverá mais meio expediente.

Voltam a ser os de sempre,

Os esperados dias de feriado.

E ainda magoado pela derrota

O povo vai voltar a trabalhar

De trem, constantemente, quebrado.

De Metrô, aonde vai apertado.

De ônibus, onde é assaltado.


Mas há um perigo maior

Rondando nossa sociedade.

Talvez pior do que não ter hospital,

Ter uma educação de má qualidade,

Usar meios de transporte

Onde se é tratado como animal,

Ou ser assaltado no próprio quintal.

A turma que quer ficar no poder,

Entende que, pelo "voto direto",

Adquiriu o direito de fazer

Tudo aquilo que bem entender. 
 
                                                  Não vão pestanejar, nem titubear:

                                                    Sua agenda, totalmente baseada

                                                     Em uma ideologia ultrapassada,

                                                    Vão fazer de tudo para implantar.

                                                   Vão mentir como sempre fizeram,

                                                      Até se convencer que a mentira

                                                       É a pura expressão da verdade.

                                                           Não vão parar, vão persistir.

                                                     Insistir, jamais desistir, é o mote,

                                                  Até prevalecer sua visão distorcida

                                                    Do que vem a ser "democracia".

                                                                ACORDA BRASIL!!!

                                                           Rio de Janeiro, 14/07/2014,


Após a vitória da eficiência, da organização e de um planejamento feito não para arrecadar votos, mas para vencer o campeonato mundial de futebol. Enfim, após a bela vitória da Alemanha na Copa do Mundo FIFA de 2014.

 
Jorge Bastos Costa

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Só Esporte?



O Brasil todo foi humilhado assistindo sua seleção de futebol ser derrotada pela Alemanha por 7x1 na Copa do Mundo e, para piorar, no Mineirão, um dos maiores do País. Alguns dirão que há coisas muito piores, mesmo em termos de humilhação, para uma nação grande como o Brasil.

Sim, felizmente, estamos longe de tempos e circunstâncias como os de guerra, onde a humilhação da derrota se traduz em perdas muito mais duras do que a frustração num campeonato mundial de futebol. Mas é impossível negar que, longe dos campos de batalha, algo muito grave aconteceu ao Brasil em 8 de julho de 2014, como aconteceu em 16 de julho de 1950.

Ninguém ousará negar que o Maracanazzo de 50 nos custou muito. Havíamos saído da 2ª Guerra Mundial como a única nação latina vencedora, não ocupada ou destruída, e credora comercial. Tínhamos, portanto, bons motivos para construir o Maracanã, o maior estádio de futebol do mundo, para sediar a primeira copa depois da guerra. Porém, nossa teimosa falta de consciência do que estava em jogo permitiu que ingenuidades e vaidades concedessem à pífia seleção de um pequeno país vizinho, local de muitas lutas pela fronteira do Brasil, lutas jamais esquecidas por eles, mas sempre diluídas na eterna amnésia brasileira, a vitória que virou um fantasma de sessenta anos.

Como diz hoje um famoso comentarista televisivo: isso é esporte! Sim, é esporte, mas é algo mais. O Maracanazzo não alterou nossa forma de organização política e soberania, mas nos custou muito em autoestima, confiança e prestígio, e como não poderia deixar de ser, em oportunidades. De uma hora para outra, quando encetávamos nossa caminhada para o desenvolvimento, voltamos à imagem do desajeitado e fraco jeca tatu.

Ninguém duvide: o que aconteceu em 8 de julho de 2014 terá consequências. Os brasileiros que assistiram o que se passou no Mineirão na tarde de terça-feira continuarão, por muito tempo, a tentar compreender o que houve. Nesse nosso momento de tragédia, a referência à tragédia dos outros pode nos ajudar a fazer dessas consequências algo útil.

Nos dias da guerra e pós-guerra na França, que iam do negro ao cinza-chumbo, o ícone do existencialismo, Jean Paul Sartre, forjou o eterno "não interessa o que fizeram a você, mas o que você vai fazer com o que fizeram a você". Seria muito bom que nós brasileiros fizéssemos algo assim para nós mesmos, nesse momento em que a tragédia Neymar nos mostrou que nada, absolutamente nada, está à prova de ficar pior, bem pior.

Como nada acontece do nada, as desculpas dos jogadores e o mea culpa do treinador são para lá de insuficientes para explicar o que nos aconteceu.

Não foi só em campo que uma seleção inexperiente, sem conjunto e cujos expoentes jogam em clubes estrangeiros expôs a nação brasileira ao fracasso, deboche e vexame. Foi antes e fora dos campos de futebol que essa tragédia se engendrou – e não é só a CBF, técnico e jogadores que devem fazer um profundo reexame de seu desempenho. É a sociedade brasileira que deve fazê-lo.

Se construímos estádios além de nossas capacidades e necessidades, escandalizando a opinião pública; se aceitamos formata-los de maneira estranha à nossa realidade social, expulsando a assistência de menor renda; se admitimos tamanha desídia nos preparativos de infraestrutura, oportunizando tantos "pés no traseiro"; se vimos os dirigentes do futebol brasileiro fazerem definhá-lo, pulverizando no exterior o talento esportivo nacional, como esperar que tivéssemos lideranças capazes de colocar e apoiar em campo os melhores do País para fazerem o que o País tanto ama? Ou para o Brasil, como sede da copa de 2014, era irrelevante vencê-la?

Se o egoísmo e a pequenez de alguns cogitaram essa irrelevância, ela agora se revela absurda.

Brasileiros, fomos todos alcançados pelo desastre. O Maracanã, de ontem e de hoje, e as arenas bilionárias pelo País afora permanecem sem explicação, sentido e justificativa, muito mais do que pelos gastos e escândalos, pelas lágrimas das crianças de uma geração que por toda vida arcará com mais uma humilhação. Afinal, um país que leva tão a sério o futebol, que sacrificou tanto para um evento de futebol não pode se conformar, com tamanho desastre do seu futebol.

Agora só nos resta torcer para que a grande consequência do fracasso do Mineirão seja o inconformismo que fará com que essa geração descubra por si própria que o Brasil é muito mais do que futebol, que está longe de ser só esporte.


Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador

DP 8243 - Ou Novos Caminhos....


     
 
O País atravessa momentos de turbulência político-social, inéditos e perplexitantes. Tensões, boa parte delas induzidas, marcam o dia a dia do noticiário. A atmosfera psicológica do Brasil está saturada e nem sequer o clima, habitualmente distendido que cerca uma Copa do Mundo, ainda mais realizada em território nacional, escapou a tais deletérias influências.
A população tem assistido, estupefata, à realização de greves em serviços essenciais, muitas delas declaradas abusivas pela própria Justiça, que impõem graves inconvenientes e perturbações aos brasileiros ordeiros, que labutam e produzem nos grandes centros urbanos; tais greves têm gerado insegurança, que se traduz em depredações de bens públicos e privados e até em saques.
Grupos de chamados "sem-teto", altamente treinados e organizados, inclusive com a presença de estrangeiros, invadem terrenos e prédios urbanos, sendo recebidos, após seus atos criminosos, por autoridades - até mesmo pela Presidente da República - tornando assim o poder público e a sociedade refém de seus desígnios ideológicos.
Marchas do MST e de reais ou fictícios indígenas, manipulados por ONGs ou instituições como o Conselho Indigenista Missionário-CIMI ou similares, fazem encenações de enfrentamentos com policiais, registradas em fotografias que percorrem o mundo, transmitindo a falsa idéia de um Brasil que se contorce em estertores sociais e raciais.
Por outro lado, grupos extremistas anti-sistema, estilo "Black Bloc", promovem atos de protesto - por causas poucos definidas - espalhando a violência urbana, planejada e calculada, de modo a lançar o caos e atacar símbolos do capitalismo, no exercício do que qualificam como "ilegalidade democrática".
Por fim, diante do alastrar-se de fatores de incompreensão e de indignação, nas camadas profundas da população, em relação ao governo da Presidente Dilma Rousseff e ao Partido dos Trabalhadores, vozes como a do ex-Presidente Lula tentam disseminar um clima de luta e de ódio de classes, tão avesso ao sentir do brasileiro comum.
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É neste contexto tumultuado que surge um gravíssimo ataque às instituições e à ordem constitucional vigente, perpetrado através do Decreto presidencial nº 8.243, cuja efetivação poderia ser qualificada com uma tentativa de golpe de Estado incruento.
Editado pela Presidência da República no dia 23 de maio p.p., e publicado no Diário Oficial três dias depois, estabelece ele a "Política Nacional de Participação Social" e o "Sistema Nacional de Participação Social".
Sob o disfarce de tratar da organização e funcionamento da administração pública - invocando para tal até dispositivos constitucionais - e alegando que o sistema representativo contém falhas, o governo do Partido dos Trabalhadores, via decreto, tenta implementar um novo regime de organização do Estado, o qual visa "consolidar a participação social como método de governo".
Manejando habilmente sofismas e falácias sobre a "democracia direta", valendo-se de definições e disposições vagas, o Decreto submete a Administração Pública, em seus diversos níveis, aos "mecanismos de participação social".
Os "conflitos sociais", como, por exemplo, invasões de terras, de imóveis urbanos, de demarcação de terras indígenas, - tantos deles gerados artificialmente - serão mediados por elementos do governo e setores da sociedade civil, controlados por "coletivos, movimentos sociais, suas redes e suas organizações".
E a Secretaria-Geral da Presidência da República dirigirá uma burocrática e coletivista estrutura de conselhos, conferências, comissões, ouvidorias, mesas de diálogo, etc..
O Decreto 8.243 - que já chegou a ser comparado a um decreto bolivariano ou bolchevique - torna obsoletas as instituições do Estado de Direito, criando organismos informais (ou quase tanto) que condicionarão o Judiciário, o Legislativo ou o próprio Executivo.
Como é de conhecimento público, em grande medida tais "movimentos sociais", "coletivos" ou grupos da dita sociedade civil são influenciados, orientados e financiados pelo Partido dos Trabalhadores, pela "esquerda católica", bem como pelo próprio governo.
Fica assim instituído um sistema paralelo de poder, que consagra na prática uma ditadura do Executivo, na pessoa do Secretário-Geral da Presidência da República, atualmente o ex-seminarista Gilberto Carvalho, quem habitualmente faz a ponte entre o governo e a CNBB.
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A Presidente da República tenta desta forma impor ao País metas político-ideológicas do PT - alimentadas nos Fóruns Sociais Mundiais - e sempre repudiadas pela maioria dos brasileiros.
Desde há muito, certo tipo de esquerda - e sobremaneira a esquerda petista no poder, influenciada em maior ou menor grau pelo progressismo católico - tenta subverter o exercício do regime "democrático". Fiel a suas velhas convicções socialo-comunistas, eriça-se contra as instituições do que qualifica de "democracia burguesa", tentando vender a idéia de uma democracia direta e participativa, como mais autêntica e popular.
Já no primeiro mandato do Presidente Lula, enquanto o País estava embalado pela pseudo-moderação do projeto político de mudança do Brasil, expresso na Carta ao Povo brasileiro, o programa "Fome Zero" fazia uma primeira tentativa de instaurar no Brasil "conselhos populares" que, como alertaram certas vozes na época, mais não eram de que uma reedição dos conselhos da revolução cubanos ou dos coletivos chavistas.
Mais à frente veio a tentativa de controlar a imprensa pelo mesmo mecanismo de conselhos, manipulados por "movimentos sociais".
O PNDH3, baseado numa vaga e abrangente política de Direitos Humanos, constituiu nova tentativa de impor ao País um controle da sociedade e das instituições do Estado, por conselhos.
Por ocasião das manifestações de junho de 2013, a Presidente Dilma Rousseff em discurso televisionado a todo o País, voltou a acenar com o tema da democracia direta e a "voz das ruas". Veio, logo em seguida, a tentativa de impor ao País uma Constituinte específica para a reforma política.
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De todos os quadrantes da sociedade se têm erguido vozes que apontam o grave perigo criado ao futuro político do Brasil pelo Decreto presidencial nº 8.243. No Congresso Nacional há movimentos pronunciados para inviabilizar ou derrubar o referido Decreto. Outros setores ensaiam movimentos para recorrer ao Supremo Tribunal Federal, reclamando da inconstitucionalidade de tal Decreto.
O governo veio a público defender a medida, sempre baseado em subterfúgios e, segundo informa a imprensa, não está disposto a recuar. Aproveitando-se do período em que as atenções de muitas pessoas estão voltadas para a Copa do Mundo, contando ainda com já tão próxima campanha eleitoral, Dilma Rousseff e seus assessores no Planalto e no PT, parecem decididos a apostar no golpe institucional.
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Quando dos trabalhos da Constituinte de 1988, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou a obra "Projeto de Constituição angustia o País". Nele alertava para o fato de que elementos de nossa classe política, divorciados dos verdadeiros anseios do Brasil profundo, iriam arrastando inexoravelmente o Brasil para o esquerdismo radical.
E admoestava ainda que cada vez mais raros seriam os partícipes da farândola reformista da esquerda, "ganhos gradualmente pelo sentimento de inconformidade e apreensão nascido, a justo título, das camadas mais profundas da população".
O Decreto nº 8243 é, por certo, um grave exemplo dessa obstinação ideológica. A inconformidade, ainda que silenciosa, é também uma realidade que cresce, apesar das máquinas de propaganda tentarem menosprezá-la ou distorcer-lhe o sentido.
O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira faz um apelo às forças vivas da Nação para que, num concerto geral dos espíritos clarividentes, alertem para o perigoso rumo ao qual nos encaminha o Decreto 8.243, obstruindo-lhe legalmente o caminho.
Caso não seja derrubado, o Decreto nº 8.243 terá operado uma transformação radical nas instituições do Estado de Direito, esvaziando o regime de democracia representativa, deixando o País refém de minorias radicais de esquerda e de ativistas, abrindo as portas para a tão almejada fórmula do atropelo e do arbítrio, típica dos regimes bolivarianos.
                                Adolpho Lindenberg
          Presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
 
 

 
 
 
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segunda-feira, 7 de julho de 2014

ODORICO & ODORICA

Lena Castello Branco

Há um consenso de que nossa cultura é profundamente marcada pelo bacharelismo. Ou seja: pela valorização do bacharel, aliada ao culto à oratória rebuscada.
Costuma-se atribuir aos primeiros educadores em terras Tupiniquins – os jesuítas – o amor exagerado dos brasileiros ao que se convencionou chamar de ornamentos do espírito e do estilo. Com suas escolas de ler e escrever e seus colégios, os inacianos marcaram nossa sociedade com os fundamentos da civilização cristã e ocidental, aos quais se acrescentaram traços ameríndios e africanos. O culto do latim e da retórica deixou marcas indeléveis na maneira de ser e de pensar do brasileiro, educado segundo a pedagogia da “ratio studiorum”.
Certo é que no Brasil se aprecia quem “fala bonito”. Ainda hoje, refere-se como algo peculiar a certas regiões do interior – sobretudo do Nordeste – o culto por um tipo de oratória que pretende somar referências clássicas a evocações de uma cultura vazia, expressa em frases rebuscadas.
Exemplo maior desse tipo de personagem é Odorico Paraguaçu, imaginário prefeito de Sucupira, inventado por Dias Gomes e transformado em arquétipo da vigarice e do beletrismo de fachada. Sua oratória empolada e suas frases sem sentido são emblemáticas da insinceridade dos candidatos que se aproveitam da ignorância do povo para eleger-se e manter-se indefinidamente no poder.
Acontece que Odorico Paraguaçu não existe de fato, mas faz parte de uma obra de ficção; e, como tal, passou a integrar a galeria das personagens-símbolo da cultura brasileira. Como Iracema, de José de Alencar, que representa o indígena; Tia Nastácia, de Monteiro Lobato, que personifica a mãe-preta; Rodrigo Cambará, de Érico Veríssimo, que dá vida aos heróis da fronteira e da conquista – e assim por diante.
Na vida real, em contrapartida, há personalidades que se assemelham a tipos forjados pela ficção mais delirante. Como é o caso da atual presidente, a senhora Dilma Vana Rousseff – que parece ter surgido da imaginação de alguém versado em intrigas políticas e confusões mentais.
Assim é que Sua Excelência elegeu-se presidente da República sem nunca ter explicado claramente suas convicções políticas e ideológicas. Parece mesmo que não conseguiria fazê-lo, tal a mixórdia das idéias que procura externar, quando não se limita à leitura do que escreveram para ela.
Se, em breve exercício lúdico, formos cotejar as frases do prefeito de Sucupira com as da nossa insigne presidente, será difícil escolher quais as mais estapafúrdias. Com todo o respeito, é como se houvesse um campeonato entre Odorico e Odorica - esta também personagem de ficção - tais as barbaridades que dizem.
A título de curiosidade, procure o leitor identificar quem é quem na seleção que se segue:
  • "É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humilde cidade."
  • O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”
  • Eu sempre escuto os prefeitos. Por que é que eu escuto os prefeitos? Porque é lá que está a população do país, ninguém mora na União, ninguém mora… ` Onde você mora?´ `Ah, eu moro no Federal´”.
  • "Isto deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta".
  • A auto-suficiência do Brasil sempre foi insuficiente”.
  • "Como diria o rei dos persas, Dario Peito de Aço, pra cada problemática tem uma solucionática. Se não disse, perdeu a oportunidade de ser citado por mim".
  • Em Vidas Secas está retratado todo problema da miséria, da pobreza, da saída das pessoas do Nordeste para o Brasil.”
  • "Vai ter uma confabulância político-sigilista sobre as nossas candidaturas".
  • Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente.”
  • A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e se sustenta, sustenta tudo isso abrindo o negócio.”
  • A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia.”
  • O dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais, sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás.
  • "Vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmente."

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Ave Maria