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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Estrada 47 - uma homenagem à FEB


Temos finalmente um filme que retrata o esforço militar brasileiro durante a Segunda Guerra Mun­dial. Mas os detalhes da participação da FEB são mais complexos e emocionantes
Finalmente os brasileiros tiveram a oportunidade de assistir a um filme que procura retratar a parti­cipação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que combateu durante a 2a Guerra Mundial no Teatro de Operações da Itália, de setembro de 1944 a maio de 1945.
O filme, Estrada 47, dirigido por Vicente Ferraz, faz bonito, contando uma história bem humana no cenário de guerra com a plausibilidade possível a uma ficção e dentro da perspectiva da intelectuali­dade brasileira.
Foi uma surpresa neste 70o aniversário do final da guerra. Quem sabe, ampliando-se essa perspecti­va, tenhamos outros filmes sobre heróis bem reais, como o soldado Josino, o tenente Iporã ou o sar­gento Max Wolf.
Aí, quem vai se surpreender com a resposta do público vai ser o cineasta que mostrar o que esses homens foram e fizeram.
Mas, passados setenta anos do final da guerra, quem tem que se surpreender mesmo são os brasilei­ros, ao tomarem conhecimento da participação do seu país no maior conflito bélico da História.
Via de regra, as interpretações da participação do Brasil na guerra se restringem à FEB, tida por mo­desta, com uma única divisão, num teatro de operações secundário, quando a guerra já ia terminan­do.
Não existe atividade humana mais perigosa e dramática do que a guerra. Sabe-se como começa, mas ninguém sabe como ela acaba, e como acontecia ao programa do maior animador da TV brasi­leira, a guerra só acaba quando termina.
Não havia nenhum script para 2a Guerra Mundial terminar na Europa em 1945, e para quem pensa que ela estava vencida no final de 1944, sugere-se assistir na série Band of Brothers (HBO), o que enfrentaram os paraquedistas norte-americanos da 101a Divisão Aerotransportada, no Natal daquele ano, em Bastogne, diante da ofensiva alemã nas Ardenas - uma densa floresta que se estende da Bélgica e do norte da França ao Luxemburgo e Alemanha.
Na Itália, algo dessa natureza foi feito em menor escala. Na noite de 25 para 26 de dezembro, num lance de audácia, forças da 148a Divisão de Infantaria alemã (148a DI) e italianas atacaram o flanco esquerdo do V Exército, derrotando a 92a Divisão norte-americana.
A invasão aliada da Europa começara pela Itália, em julho de 1943 na Sicília e em setembro na pe­nínsula. Essa foi a frente destinada à FEB e, de todas da guerra, foi a mais mortífera para as divisões norte-americanas, onde o inimigo tinha a vantagem do terreno e dispunha de paraquedistas, blinda­dos e remanescentes do Afrika Korps.
Depois de junho de 1944, com a queda de Roma, o desembarque na Normandia e a retirada de seis divisões aliadas da frente italiana para o desembarque no Sul da França, o Teatro de Operações da Itália não se tornou secundário.
Transformou-se numa frente de sacrifício, na qual as divisões alemãs em número equivalente ao das aliadas tinham que continuar a ser aferradas por uma ofensiva a todo custo, como confessaria o pró­prio comandante do V Exército dos EUA, General Mark Clark, sob pena de os efetivos inimigos se transferirem para outras frentes.
Foi a essa altura da guerra na Itália que chegou a FEB, ou melhor, começou a chegar, por escalões, com parte da sua força de combate, da 1a Divisão de Infantaria Expedicionária (1a DIE), para receber equipamento e completar o seu adestramento, não numa frente onde lutavam sessenta divi­sões norte-americanas, como na França, mas naquela em que só restavam sete.
Em setembro de 1944, o Destacamento FEB, constituído à base do 6o Regimento de Infantaria (6o RI), de São Paulo, que viera do Brasil no 1o escalão, era a única reserva do V Exército.
No dia 15 desse mês, os brasileiros entravam em ação num setor onde os alemães recuavam para as suas novas posições na Linha Gótica, encaminhando-se as operações para o Vale do Sercchio, onde seriam alcançados os primeiros êxitos do Destacamento FEB, em Massarossa, Camaiore e Monte Prano, e experimentado o primeiro revés, por excesso de confiança, em Castelnuovo di Garfagnana, que traria lições valiosas.
O juízo sobre a atuação da FEB na Itália prescinde de patriotadas e chauvinismos, bastando fatos, números, cronologia e algum espírito crítico para obtê-lo.
Em novembro de 1944, a 1a DIE, com seus outros dois regimentos, o 1o RI, do Rio de Janeiro, e o 11o RI, de Minas Gerais, recém-chegados à Itália, foi toda à frente de combate, assumindo um setor de 15 Km de extensão, no qual deveria realizar operações ofensivas e defensivas.
A essa altura, a FEB era a combinação de um regimento exausto e de dois inexperientes, prestes a enfrentar não Osttruppen, tropas de voluntários russos e bielo-russos usados pelos alemães em ou­tras frentes, mas sim o verdadeiro Exército alemão, como as experimentadas 232a e 334a divisões.
Toda linha de contato com o inimigo era dominada pelo grande maciço montanhoso que ia de Mon­te Belvedere a Castelnuovo, encimado pelo Monte Castelo, que seria atacado quatro vezes pelos brasileiros, a 25 e 26 de novembro, integrando a Task Force 45 norte-americana, e a 29 de novem­bro e 12 de dezembro, sob a responsabilidade do comando da FEB. 
Neste último ataque, sob névoa e num terreno enlameado, os brasileiros chegaram a alcançar o topo de Monte Castelo, mas foram expulsos pelos contra-ataques alemães, ficando lá em cima, como tes­temunhas do sacrifício, os corpos dos nossos soldados que só seriam resgatados quando foi conquis­tada a posição em fevereiro do ano seguinte. 
A FEB entrara em combate e não mais sairia da linha de frente até o final da guerra. Era a única di­visão brasileira na guerra: se ela saísse, o Brasil deixava a luta.
Suspensas as operações ofensivas em dezembro de 1944, devido ao fracasso dos ataques contra as fortes posições alemãs, não só dos brasileiros em Monte Castelo, mas de todos os aliados, do V Exército dos EUA e do VIII britânico, da costa do Mar Tirreno à do Mar Adriático, a FEB iria viver a estabilização das operações nas alturas dos Apeninos, durante um dos mais rigorosos invernos da região.
Foi quando, entre patrulhas, golpes de mão e incursões de parte a parte, tropa e comando da FEB amadureceram para o que estava por vir.
Era a estrada 64, varrida pelas lentes e tiros alemães, que tinha que ser aberta para que os aliados conquistassem Bolonha.
O IV Corpo de Exército dos EUA (IV CEx), ao qual estava subordinado a 1a DIE, planejou para fe­vereiro de 1945 uma ofensiva preliminar à da primavera, na qual a divisão brasileira e a 10a Divisão de Montanha do Exército dos EUA (10a Div Mth) seriam empregadas juntas para expulsar os ale­mães do maciço que dominava a estrada 64.
No dia 21 de fevereiro, depois de substituir os americanos da 10a Div Mth que haviam conquistado Mazzancana, a 1a DIE, com o 1o RI, o Regimento Sampaio, no ataque principal, atacou e conquis­tou Monte Castelo.
Nos dias seguintes, brasileiros e norte-americanos iriam apoiar-se mutuamente até limparem de ale­mães as alturas que dominavam a 64.
A FEB já era outra, culminando esta fase com a elegante manobra sobre Castelnuovo, que levou à conquista, pela retaguarda, do famigerado monte Soprassasso, que se debruçava sobre a estrada 64.
Na segunda reunião preliminar realizada no quartel-general do IV CEx , antes da grande ofensiva da primavera, em abril,  o comandante da FEB, o General Mascarenhas de Moraes, ao propor que a di­visão brasileira protegesse o flanco esquerdo da 10a Divisão de Montanha, atacando Montese, res­pondeu em tom jovial à pergunta do comandante da divisão norte-americana sobre a capacidade da 1a DIE conquistar a cidade, perguntando ao seu colega se ele tinha certeza de que aproveitaria o êxito do sucesso brasileiro.
 Ao tomar conhecimento da conquista de Montese no primeiro dia da ofensiva aliada, 14 de abril, pela tropa do 11o RI, o Regimento Tiradentes, o General Crittenberger, comandante do IV CEx, dis­se ao seu estado-maior: “na jornada de ontem, só os brasileiros mereceram as minhas irrestritas con­gratulações; com o brilho do seu feito e seu espírito ofensivo, a Divisão brasileira está em condições de ensinar às outras divisões como se conquista uma cidade”.
Com o êxito da ofensiva aliada, os alemães perderam a Linha Gengis Khan, última posição defensi­va ao sul do Rio Pó, e suas divisões se precipitaram em fuga para o norte, buscando transpor o gran­de rio e adentrar à Áustria pelos Alpes.
A divisão brasileira, que não era motorizada, improvisou e, embarcando sua infantaria nas viaturas da artilharia, saiu em perseguição ao inimigo.
No dia 27 de abril, a vanguarda brasileira destruiu em Collechio a vanguarda de uma força alemã bem maior que se viu impedida de prosseguir sua marcha para o norte e foi cercada pela 1a DIE.
Não aceitando a rendição incondicional, a força alemã foi atacada pelo 6o RI, o Regimento Ipiran­ga, e enviou parlamentares solicitando a cessação dos combates. Era a 148a Divisão alemã, a mes­ma que realizara a audaciosa ação no Natal contra os norte-americanos, e os remanescentes da Divi­são Itália e da famosa  90a Panzergrenadier. veterana da África do Norte, num total de quase 15.000 homens, que se rendiam à 1a DIE, a única divisão aliada na Itália que logrou tal feito.
Nas palavras do General Mark Clark, “foi o magnífico final de uma atuação magnífica”. No dia 2 de maio os alemães se rendiam na Itália, a primeira frente de guerra na Europa onde se encerraram as hostilidades.
O Brasil foi à guerra e saiu dela muito diferente, caminhando para a democratização, a industrializa­ção e o desenvolvimento, no que pode ter sido a maior mudança de sua história de nação indepen­dente.  Embora a FEB seja o capítulo mais lembrado da participação do Brasil na 2a Guerra Mundi­al, para se compreender a importância dessa participação é fundamental conhecer também o esforço militar brasileiro na defesa de sua soberania no Nordeste e no Sul do País, saber da Batalha do Atlântico Sul da qual participamos, entender o papel geopolítico deste país continente e destrinchar as manobras diplomáticas que evitaram a extensão do conflito à América do Sul.  
Nestes dias em que o País parece ter esquecido tanta coisa, a começar a noção do interesse nacional pelo seu próprio governo, da participação do Brasil num dos acontecimentos mais importantes de nossa era, o que não pode ser esquecido é que ele andou pela estrada certa, a estrada certa da Histó­ria. 

terça-feira, 19 de maio de 2015

"Mais do que uma reforma política, o Brasil precisa de uma reforma moral"


A História não se repete, não tem leis e não se prevê. Querer juntar peças do quebra-cabeças da atua­lidade segundo uma pintura do passado é um erro comum de quem pretende usar a História como justificativa para seus desejos de poder.
No caleidoscópio de fatos, acontecimentos e personagens de qualquer história tudo que poderemos encontrar de comum é o homem, na sua imprevisibilidade, na sua adaptabilidade e, por que não re­conhecer, na sua genialidade.
Distinto de cada um de todos os outros homens, esse sujeito e ator da História se afirma na coletivi­dade em que vive, na qual deixa suas marcas, não só pela memória, mas também pelo rumo que lhe imprime por meio de suas ações.
Ações que ele empreende na busca incessante de reconhecimento pelos seus semelhantes. Todos nós, homens e mulheres, desejamos nos ver reconhecidos nas várias expressões de nossa existência, como mãe, marido, filho, esposa, pai ou filha, e assim por diante, também fora da esfera familiar.
Numa sociedade moderna, podemos buscar reconhecimento em inúmeras coletividades: desporti­vas, familiares, acadêmicas, profissionais, associativas, artísticas, conforme nossos laços, interesses e talentos, mas existe uma à qual dificilmente podemos nos eximir, aquela que nos impõe maiores direitos e deveres, aquela que nos concede existência legal e exige de nós indiscutível obediência, que é a sociedade politicamente organizada na forma do Estado.
Ao longo da História, a busca de reconhecimento no âmbito dessa coletividade política variou da democracia grega, que não admitia a não participação de seus cidadãos nos negócios públicos, ao estado totalitário do século XX, que desejava um homem amorfo, insensível e acrítico personifican­do o seu cidadão ideal. 
E foi ao longo de um complicado processo histórico, a que não faltaram tragédias, que chegamos à conformação política da sociedade moderna, na qual se equilibram obrigações gerais inegociáveis com salvaguardas de consciência e liberdade reconhecidas pelo Estado. 
Daí decorrem mecanismos, práticas e instituições que fazem a democracia funcionar pela represen­tação e soberania, sem as quais ela não seria viável, como partidos políticos, eleições, governo, Par­lamento e justiça, só para citar os mais visíveis.
Mas à medida que se amplia e consolida o moderno Estado democrático no Ocidente, vai se eviden­ciando um paradoxo, do qual o Brasil parece ser um caso emblemático, que é a crescente disfunção de uma comunidade política que interfere cada vez mais na vida do cidadão, mas é cada vez menos acreditada por esse cidadão.
A reforma que está sendo encaminhada no Congresso Nacional parece ir ao encontro da necessidade de resgatar a credibilidade da classe política, sem o que a nossa democracia viverá em constante vulnerabilidade, presa fácil da corrupção e do arbítrio, como estamos assistindo.
Mas cabe perguntar: reformar para quê? Qual será a grande motivação da representação política, tanto para representantes quanto para representados?
Para a representação política continuar a ser comprada com o dinheiro público? Para a soberania popular continuar a ser vendida no voto-bolsa? E ao fim e ao cabo, as condições de vida se deterio­rarem no País?
Felizmente, a Fenomenologia do Espírito, de Hegel, deixou de ser expressão de uma pretensa hege­monia marxista na interpretação da realidade política.
Pode-se objetar indefinidamente quanto à sua abrangência, tanto na versão de Fukuyama como na de Kojève, mas hoje ela se mostra útil para apontar essa lacuna incômoda na sociedade moderna que é a perda do desejo de reconhecimento pela virtude, um insumo essencial à vida social, e muito particularmente à política, a extensão cívica do social.
Sujeito e ator da História e da Política, o homem é o objeto de todas as melhorias que pretenda uma coletividade. Mas é preciso lembrar que, antes de conformarmos uma comunidade política, vivemos numa sociedade civil, cujo fim, conforme apontado por Aristóteles, é o viver bem, sendo ela menos uma sociedade de vida em comum do que uma sociedade de honra e virtude.
Mais do que uma reforma política, o Brasil precisa de uma reforma moral.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

MORALIDADE

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Moralidade
Qual, como, por quê e para quê?


Sérgio Paulo Muniz Costa

É pacífico que a corrupção que lavra hoje no Brasil é política. Não há dúvida de onde ela provém, a que serve e quem a promove. No entanto, mesmo conhecida sua natureza, seu significado talvez ainda não tenha sido percebido pela sociedade: a ameaça de um projeto de poder corruptor ao Estado de Direito no Brasil. E à luz dos fatos verificados na troca de comando da Petrobrás, o mecanismo desse projeto continua funcionando, com suas engrenagens quebradas pelas denúncias, escândalos e processos sendo reparadas na fôrma dos novos deslumbrados. Paralelamente, doutores se movem com desenvoltura nos bastidores da República, não para enfrentar a doença degenerativa da corrupção que vai se institucionalizando, mas sim para estancar a hemorragia das denúncias que contrariam seus patrões (pasmem) públicos.
Não foi sem sobressaltos que chegamos à condenação do mensalão, consumada tão somente por um ato heroico, não se esperando menores tergiversações em relação às falcatruas bilionárias que mais uma vez desaguarão ao STF, pior agora, quando não há heróis no horizonte da Nação.  Mas o desastre do comprometimento de tantas pessoas de suma responsabilidade com a corrupção e a perspectiva real de vitória do poder corruptor leva à conclusão de que o problema do País está além da corrupção em si mesma, para cujo enfrentamento a legalidade é condição necessária mas insuficiente.
O maior filósofo moderno, Immanuel Kant (1724 -1804), cuja inteira obra partiu da premissa da autoconsciência, coroou a sua visão sobre política, direito e virtude na Metafísica dos Costumes (1797), a qual ele dividiu em duas legislações que prescreveriam ações internas e externas ao indivíduo: a ética que converteria as ações internas em dever e esse dever em motivação; e a jurídica que não incluiria esse dever na lei, tendo-o por externo, inexigível a obrigação do agente para com ele. Daí se extraem duas conclusões. A primeira é a de que a legislação ética é superior à legislação jurídica, na medida em que nesta última basta a concordância da ação com a lei, sem importar a sua motivação, enquanto que na primeira se faz necessário que o dever pela lei seja simultaneamente a motivação para a ação. Outra conclusão, deduzida da primeira quanto às ações dos indivíduos, é a de que uma legalidade eficaz deve proceder da moralidade. Se tanto não for suficiente para provar o papel determinante da moralidade no comportamento do homem, basta nos lembrarmos de outra assertiva da mesma lavra, segundo a qual uma pessoa não está submetida a nenhuma outra lei além daquela que dá a si mesma, em outros termos, de que não há moral sem liberdade.  
Se o perpasse pela metafísica dos costumes de Kant nos autoriza a inferir a prevalência da moralidade, em sua Lógica (1800), ele a colocou explicitamente no campo prático como fim último a que se deve referir todo o uso de nosso conhecimento, o desafio de operacionalização do bem; em sua Antropologia de um Ponto de Vista Pragmático (1796-1797), indicou os sinais externos da moralidade pelos quais o homem eticamente bom pode se tornar querido e admirado, a estética do bem; e na sua Crítica da Faculdade de Julgar (1790) asseverou que só como ser moral o homem pode ser o fim final da criação, pelo qual atinge o seu fim subjetivo, a felicidade, o propósito do bem. Esses preceitos de Kant se podem resumir em fazer com que as pessoas ajam por convicções (ações internas); que encontrem maneiras de agir bem (prática moral); que emanem a imagem do bem (estética moral); que deem bons procedimentos a si mesmas (leis) e que se vejam como fins transcendentais (fim último da criação).
Difícil? Promova-se a educação, que torna cada pessoa capaz de julgar por si mesma; respalde-se a família, a experiência primeira e fundamental na legislação ética; valorize-se a religião, a “moral em relação a Deus como legislador”; e difunda-se o civismo, a confluência das legislações ética e jurídica no bem comum. E enquanto não se forja no País uma geração mais informada sobre os seus direitos e deveres, antes de tudo, para consigo mesma, que se leve em boa conta a experiência de quantos serviram ao Exército Brasileiro e ao Brasil, a qual, impessoal e modestamente, se resume abaixo.

SUBSÍDIOS PARA A MORALIDADE NO TRATO DA COISA PÚBLICA
1.     RESPONSABILIDADE E AUTORIDADE
Trate sua atividade-meio com o mesmo cuidado que dedica à sua atividade-fim. Ambas servem à sociedade e são custeadas com recursos públicos. Jamais delegue responsabilidade sobre qualquer atividade e nunca conceda autoridade a quem não tenha capacidade e não mereça confiança.
2.     ORGANIZAÇÃO E MÉTODO
Organize processos, rotinas, atividades e instalações. Seja flexível quando necessário, mas não altere a todo momento as normas e procedimentos, e nem aceite emergências e queimas de etapas sem justificativas.
3.     RESPEITO ÀS PESSOAS
Respeite a integridade pessoal e profissional de quem exerce suas atribuições funcionais. Não exponha seus subordinados a situações constrangedoras e não deixe que lhes façam demandas ilegais, sob qualquer pretexto.
4.     PRESENÇA
Acompanhe, avalie, oriente, fiscalize e apoie seus subordinados no exercício de suas atribuições. Não permita que pessoas mal-intencionadas violem as normas e jamais aceite que um procedimento aético, imoral ou ilegal se firme como via de realização de qualquer coisa.
5.     LIDERANÇA E AUTORIDADE
     Avoque os conflitos e resolva-os pela sua liderança e autoridade. Não permita que rivalidades pessoais atrapalhem o trabalho ou imobilizem a administração e jamais convoque uma reunião sem o firme propósito de resolver um problema.
6.     PARTICIPAÇÃO
Estimule, valorize e divulgue a participação das pessoas nos processos e atividades sob sua responsabilidade. Não suprima a inciativa e não iniba a exteriorização de opinião de seus subordinados quando feita de maneira adequada e oportuna.
7.     LEALDADE
Seja leal não só às pessoas no exercício de suas funções, como também aos princípios e compromissos de sua organização ou instituição. Seja leal em todas as direções e situações e nunca deixe que essa lealdade fique em dúvida em qualquer incidente.
8.     CONVICÇÃO
Aja com convicção nos princípios e compromissos que assumiu pessoalmente e demonstre isso em todas as oportunidades, lembrando-se de que a palavra convence, mas o exemplo arrasta.
9.     RESPONSABILIDADE
Meça cuidadosamente as consequências de seus atos e decisões, não só em relação à própria reputação profissional, mas também no que diz respeito à organização ou instituição da qual faz parte, tanto no presente quanto no futuro.
10.  MISSÃO
Em qualquer circunstância, mantenha seu compromisso com o cumprimento da missão que lhe foi atribuída e à organização ou instituição da qual faz parte. Seja eficiente, eficaz e efetivo. Lembre-se de que por mais importantes que possamos nos achar ou parecer, somos sempre instrumento para consecução de um propósito, irredutivelmente bom.
Por incrível que pareça, o Brasil depende disso que só depende de nós!

Sérgio Paulo Muniz Costa é coronel do Exército, historiador e sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Foi instrutor da Academia Militar das Agulhas Negras, comandou o 27o Grupo de Artilharia de Campanha, Grupo Monte Caseros, IJUÍ – RS (1996-1997) e foi Chefe da Divisão Administrativa e Ordenador de Despesas do então Departamento Logístico, atual Comando Logístico (2003-2006). Dentre livros, ensaios e artigos publicados nos principais jornais brasileiros, é autor do capítulo “Cultura organizacional nas empresas e instituições” (TARAPANOFF, Kira. Aprendizado Organizacional. Curitiba: IBPEx, 2011).