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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Todos do mesmo lado



  • Sérgio Paulo Muniz Costa

Entre encontros clandestinos e escancarados a República se despedaça. O escândalo do encontro dos chefes dos poderes Executivo e Judiciário em Portugal ficou pequeno depois do ocorrido, à luz do dia e das câmeras, entre o Presidente da Câmara de Deputados e o Presidente do STF. De escândalo em escândalo, vão se derrubando as barreiras contra o arbítrio, a soberba e a volúpia dos poderosos. Acendeu-se a luz vermelha. Ou se estanca a desmoralização da coisa pública no País ou teremos uma crise nunca vista em nossa História, estando mais do que na hora de alguém começar a sussurrar nos ouvidos dos potentados que dominam e saqueiam esta República que o País não vai se dobrar a eles.
Bastaram mais alguns dias de balbúrdia para que destemperos dignos de piada se transformassem em agressão aberta à legalidade e à moralidade no País, com um senador fazendo com que o tribunal vinculado ao Legislativo investigue a Procuradoria da República que o investiga e um deputado na chefia do Legislativo conseguindo com que o juiz que o investiga fosse demandado na esfera do Judiciário. Assim, autoridades e instituições incumbidas de investigar passam a ser questionadas, não por que se mostraram ineptas ou abusivas, mas por que, na verdade, investigam quem se acha acima de qualquer investigação. É o Brasil passando da judicialização da política para a judicialização da moral, onde estar certo depende não dos atos e da sua transparência, mas do poder em confrontar e se impor a tudo e a todos. Na selva em que o País vai se transformando, as bananas estão comendo os macacos.
Um pouco da história não tão recente do Brasil pode ajudar a explicar por que o desastre nacional com o qual estamos flertando não tem precedentes, na medida em que uma corrupção a serviço de um projeto de poder está destruindo muito mais do que o balanço de empresas, as estruturas do equilíbrio fiscal ou a representatividade política. Não é preciso muito esforço para identificar três grandes áreas da economia nacional que foram duramente atingidas por essa degenerescência: petróleo, fomento ao desenvolvimento e construção pesada, todas três impulsionadas por medidas tomadas há sessenta ou cinquenta anos que tiraram o Brasil da letargia do subdesenvolvimento, a saber: a criação da Petrobrás, a fundação do BNDE e a acumulação de conhecimento e competência das grandes construtoras brasileiras. Todas três hoje em cheque, sendo simplesmente impossível pensar que não haverá consequências gravíssimas disso tudo no futuro do País, caso não haja uma imediata reversão, de expectativas primeiro, para que haja uma chance de mudar os rumos.
Só resta relativamente incólume, em parte devido a alguma descentralização do setor, o agronegócio que sustenta o PIB nacional, sendo, no entanto, uma temeridade esperar que ele continue a fazê-lo praticamente sozinho indefinidamente. Ainda que isso fosse remotamente viável para uma sociedade complexa como a brasileira, conceber um futuro no qual o País abrisse mão de seu desenvolvimento para se conformar ao status de nação agrícola seria um retrocesso que traria implicações até na nossa soberania. Não é preciso apelar a qualquer exagero para concluir que o Brasil está se degradando, não apenas seu governo, sua administração pública e sua economia, mas sua vida social que depende da viabilidade de sua organização política.
A desfaçatez com que os implicados nos descalabros investem contra as Instituições deixa claro que estamos diante de um quadro insólito. Os chefes dos poderes desta República estão todos do mesmo lado, do lado da impunidade, da continuidade da corrupção e do desrespeito à Lei, opondo-se, esporadicamente, pelos despojos da República que depredam. Nenhum deles está cumprindo os seus deveres para com a sociedade brasileira.
Então se eles têm lado, e contrário ao interesse público, está traçado o que divide os brasileiros. Seremos todos nós contra todos eles. Não como o PT que está do lado deles sempre advogou, mas sim da forma como aqueles que creem no Brasil como uma terra de liberdade, oportunidade e trabalho, onde vale a pena criar os filhos e se pode viver sem opressão. Exigiremos que a Lei seja cumprida, confiaremos nas Instituições e não nos dobraremos ao Poder que não as respeita e defende. Basta ouvir as ruas, os sermões nas igrejas, as conversas nas filas e o silêncio das lojas que vão se fechando.
É o que nos coloca do mesmo lado contra todos eles!

terça-feira, 21 de julho de 2015

INTELIGÊNCIA MILITAR

INTELIGÊNCIA MILITAR
“Malandro é malandro, Mané é Mané...”
Bezerra da Silva

Waldo Luís Viana*

         Nenhum país do mundo que se preze tem menos de dois serviços secretos. Israel tem cinco e os Estados Unidos o mesmo número, distinguindo-se a ultrassecreta Nasa militar, repartição oculta da Nasa civil, tão admirada no mundo inteiro por suas proezas espaciais. Foi essa agência encarregada do famoso projeto “Guerra nas Estrelas”, escudo antimísseis continentais que pôs a pique a União Soviética e todo o sistema comunista então vigente no Leste Europeu, até 1989.
         O sempre desmoralizado pela esquerda internacional, o presidente Ronald Reagan liquidou o muro de Berlim e precipitou a queda do regime soviético então dirigido por Mikhail Gorbachev (1992).
         A KGB, polícia secreta soviética aparentemente dissolveu-se e resgatando seus fundos secretos na Suíça montou as máfias econômicas e oligarquias que hoje comandam a Rússia e são simbolizadas pelo ex-chefe dessa mesma agência, o eterno “czar” Alexander Putin.
         É assim, em rápidas pinceladas que o mundo funciona. Mesmo nos Estados Unidos, há uma escala de informações secretas dos níveis 1 a 17 e o próprio presidente só é cientificado até o nível cinco, porque os serviços secretos sustentam sempre a possibilidade de que um homem, mesmo no comando de uma Nação de força global, possa enlouquecer...
No Brasil, porém, temos uma agência que tenta copiar os serviços secretos do resto do mundo, mas é uma caricatura grotesca, constituída por servidores públicos a ela alçada por concurso e arapongas de ocasião. Ambos os grupos fazem clipes de notícias velhas de jornal e grampeiam telefones. Servem apenas informes à presidência no café-da-manhã, trazendo relatórios que nem sempre antecipam acontecimentos, como os das últimas semanas, que deixaram o governo perplexo e o poder vigente com a cara no chão.
         Nossa presidenta “incompetenta” gelou com a queda vertiginosa de sua popularidade, após tantos meses de governo mentindo sistematicamente para o povo, tal como o seu antecessor, o Sr. Lula da Silva Rosa Diamante.
         Apesar disso tudo, porém, o Brasil ainda tem Forças Armadas, embora dirigidas por “machões” do Itamaraty que cuidam diligentemente de assegurar os parâmetros do revanchismo petista contra os militares, chamando pomposamente a estratégia de pôr sobre controle civil as instituições militares através de um pretensioso  ministério da Defesa.
         Examinando-se bem, entretanto, os organogramas dessas Forças, descobriremos que estão intactas as estruturas afirmativas de seus comandos e estados-maiores. E aí surge um fenômeno subterrâneo, embora não oculto, que são os serviços secretos e reservados das Forças Armadas, subdivididos em graus, funções e missões.
         Nossa inteligência militar não foi – graças a Deus – destruída, invadida ou desmantelada pela máquina de corrupção petista, que não conseguiu  romper ou dividir os militares, em nenhum de seus escalões. Nem a tal “Comissão da Verdade”, uma pantomima macabra que apura só um lado do passado entre 1964 e 1985[1] pôde intimidar a atividade castrense que se manteve altiva e independente, apesar de todos os descalabros e a montanha de irregularidades que temos assistido, praticados pela administração há dez anos.
         Aliás, como uma ex-guerrilheira poderia fazer de outro modo? Guerrilheiros e terroristas, que se especializaram em destruir, como é que por milagre haveriam de construir alguma coisa? Como um governo com 39 ministérios e 23 mil cargos em comissão poderia não produzir um rombo imenso nas contas públicas e fazer retornar a malsinada inflação, de cuja lembrança os mais velhos têm as piores e dantescas recordações?
         Pois a voz das ruas fez-se pesar e o governo petista, na sua malandragem típica, tentou forçar as Forças Armadas a entrar na briga, gerar mais insegurança interna e, a posteriori, os malandros de alto escalão iriam chamar de fascistas os dois grupos, os arruaceiros reivindicadores das ruas e os militares que os venceriam por gravidade...
         Ora, a inteligência militar, ou seja, gente especializada, criteriosa e discreta, que sabe distinguir informe de informação, avisou ao governo de que não iria embarcar nessa canoa furada. O petismo não iria se escorar em quem sempre desprezou e de quem no fundo tem medo atávico. Afinal de contas, ex-terrorista, mesmo no governo, tem medo da polícia e dos militares. Sempre acha que poderá ser enquadrado, como em épocas pretéritas.
         “Cumpra-se a lei” – oferece ao governo o conselho da inteligência militar. A Aeronáutica sabe muito bem das viagens “imprecisas” da dona Rose Diamante no Aerolula. Dos movimentos dos mensaleiros e até ofereceu proteção especial ao ministro Joaquim Barbosa, à revelia da cúpula governamental.
         Os mesmos que mataram o prefeito Celso Daniel já não podem fazer o mesmo contra o ministro Joaquim Barbosa. Os falcatrueiros que querem se manter no poder a qualquer preço vão ter que seguir os trâmites da democracia em que eles fingem acreditar.
         A inteligência militar está intacta, assim como a base da Polícia Federal, que tem um contingente enorme de gente ousada e bem-intencionada.  Sem falar nos jovens procuradores do Ministério Público que eles tentaram amordaçar a qualquer preço.  Com esses grupos o petismo não poderá contar, porque os malandros foram adivinhados.
         E malandro adivinhado vira Mané. As estratégias estão se esgotando e a nossa incompetenta presidenta e seu arsenal de prestidigitações está praticamente liquidado. Se eles contavam com o povo das ruas – mesmo aquele encabrestado pelo famigerado e ridículo programa bolsa-família – já não contam mais, diante da realidade dantesca da saúde, da educação e da segurança nas cidades brasileiras. Rodovias e circulação urbanas nem se fale, vez que a realidade está clamando e a corda em constrição pesa no pescoço do governo.
         Se os malandros não podem contar com as Forças Armadas, cujos oficiais-generais foram alertados pela inteligência do perigo iminente, vai perceber em breve a debandada dos malandros do Congresso, principalmente os do PMDB, que não querem também ser Manés. E plebiscito e referendo são coisas de Manés...
         Parece que o país está mudando mesmo. O povo não acredita mais em balelas porque já sofreu muito; os militares vão ficar fora do processo, alertados a tempo dos vícios do governo; os juízes, se puderem, vão pôr mesmo os mensaleiros na cadeia, inclusive o ideólogo-mor da tentativa de recubanização do Brasil, malograda em 1964 e 1970. Sem falar no ex-presidente, cujos crimes e desvios vão produzir um novo Mané...
         O grupo que desejava se eternizar no poder, embora cheio de recursos dentro da Nação e no exterior,  parece que não conseguirá mais lograr os seus intentos sobre as esperanças de milhares de brasileiros.
         Nós temos uma Pátria e por ela seremos capazes de morrer. Não gosto de lemas, mas agora fica adequado aquele, cantado com vigor e firmeza por nossos militares: “Brasil acima de tudo!”
         E para nós civis também...
         E nem precisamos de cinco serviços secretos para ver o que é translúcido aos olhos dos homens de bem...
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*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e já está realmente de saco cheio.
Teresópolis, 4 de julho de 2013.
(Quero avisar aos incautos que meus artigos são recebidos por 22 mil formadores de opinião pública. Não tenham medo)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Escola de defesa sul-americana



Rômulo Bini Pereira
08 Julho 2015 | 03h00
A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) foi constituída dentro dos princípios de integração da América do Sul, com a fusão das duas grandes uniões existentes no continente: o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Comunidade Andina de Nações. No início de suas atividades com uma visão mercadológica e aduaneira, a Unasul vem-se transformando numa instituição intergovernamental que atua nos campos político e social dos países que a integram. 
Ao final de 2008, em cúpula extraordinária da Unasul, foi instituído, por iniciativa do governo bra­sileiro, um Conselho de Defesa, composto pelos ministros de Defesa dos países integrantes. O con­selho é o componente militar da Unasul, cabendo-lhe prioritariamente a criação conjunta de políti­cas de defesa. Outras missões recomendadas, como intercâmbio de pessoal militar, exercícios ope­racionais conjuntos, Forças de Paz da ONU e integração de indústrias de defesa, vinham sendo rea­lizadas desde a década de 1980.
Entretanto, quanto à citada criação conjunta – anseio de lideranças que governam a maioria dos paí­ses sul-americanos, especialmente os ditos “bolivarianos” –, não existia um órgão específico para os estudos e propostas para tal finalidade. No início do corrente ano, a imprensa brasileira informou o início das atividades da Escola Sul-Americana de Defesa (Esude), com sede em Quito, um centro de estudos que representa, em última análise, um passo efetivo para o pretendido órgão de elaboração de políticas de defesa e, também, a capacitação de civis e militares nos assuntos de defesa e segu­rança regionais.
No período anterior à criação da Esude não foi observado nenhum debate em nossa sociedade, em nossas Casas Legislativas e muito menos na área militar. Um processo feito no mais alto nível go­vernamental, porém às escuras, com deliberações impostas de cima para baixo, bem à feição das li­deranças que nos governam, o que, sem dúvida, identifica o modus operandi gramscista do Foro de São Paulo. O escopo estratégico desse foro é intervir na área militar – principalmente a brasileira –, o que se está consumando de modo flagrante e abre caminho para o seu objetivo maior: a América Vermelha.
Segundo assessores do Ministério da Defesa (MD), a Esud vai gerar uma “confiança mútua” entre os membros da Unasul. Em bancos e currículos escolares será possível, mas, por certo, na prática isso não se dará. As nações ibero-americanas convivem, até os dias atuais, com atritos oriundos de suas respectivas formações. São conflitos que ainda deixam marcas em suas sociedades e, aliados ao forte componente emocional ibérico, poderão ressurgir. Um deles poderá ser o “imperialismo brasileiro”, ainda latente em alguns países fronteiriços. É bom lembrar que Simón Bolívar, o líder maior do “bolivarianismo”, como forma de confrontar o citado imperialismo pregava a integração da América espanhola. O Mercosul é um exemplo. A preocupação dos países integrantes é que o “ir­mão maior” se vai beneficiar das tratativas comerciais. Talvez o BNDES, com seus expressivos apoios financeiros aos países latinos, possa reduzir essa imagem imperialista.
Assessores do MD ainda informam que a frequência de militares brasileiros em cursos nos Estados Unidos será reduzida. Uma medida incompreensível e preconceituosa. Parece que tal redução ad­vém de uma possível doutrinação americana favorável ao seu regime democrático, diferente da boli­variana a ser ministrada na Esude, que, por seu turno, não vê com bons olhos o “Satã do Norte”, como diria Hugo Chávez. Esse é um sinal claro de como essa escola estará comprometida com a ideologia bolivariana.
A par desse comprometimento ideológico, temas curriculares deverão ser considerados, e um deles será o estudo das personalidades que expressarão simbolicamente a pretendida integração. Simón Bolívar encabeçará a lista por sua capital importância para os países de origem espanhola. Estarão tais temas, sem dúvida, em consonância com a ideologia a adotar nomes como Fidel Castro, Hugo Chávez, Che Guevara, líderes indígenas andinos e outros. Não se tem conhecimento de personalida­des históricas brasileiras que apoiaram uma integração latina.
O governo, para demonstrar coerência, deveria indicar como personalidade marcante o assessor es­pecial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, o sr. Marco Aurélio Garcia, um dos fundadores do Foro de São Paulo, ideólogo confesso das esquerdas e o maior orientador do PT em integração latina, com liberdade para agir superior à do Itamaraty – nesse caso, então, um sim­ples coadjuvante.
Segundo ainda assessores do MD, a Esude terá um desafio para atingir um “consenso sobre uma Es­tratégia de Defesa comum”. Um desafio esdrúxulo e inexequível, que repercutirá nas doutrinas das Forças Armadas sul-americanas e em sua soberania. Política Nacional de Defesa e Estratégia de De­fesa são documentos abertos só no Brasil, país de índole pacifista. Em outros países são documentos reservados por conterem em grande parte hipóteses de conflitos.
No Brasil, por sinal, os documentos teóricos em vigor apresentam um enorme hiato entre as teorias expostas e a prática no preparo e no emprego de suas Forças Armadas. Elas não poderão cumprir adequadamente a sua missão constitucional de defesa territorial e salvaguarda da soberania nacio­nal. O seu poder de dissuasão é limitado e, ano a ano, seus orçamentos diminuem. Esta situação em que se encontram poderia ser reduzida por uma ação efetiva do MD, órgão político de convenci­mento das autoridades constituídas e do Legislativo quanto à função e relevância da missão consti­tucional das Forças Armadas brasileiras, bem como da cultura dos necessários e impreteríveis inves­timentos. Infelizmente, o MD preocupa-se muito mais em complexas, ineficientes e ideológicas ações, como a criação de uma Escola de Defesa Sul-Americana, do que se engajar na solução dos graves problemas que afligem as Forças Armadas nacionais.


*Rômulo Bini Pereira GEN EX R/1, foi chefe EM/MD