José Maria e Silva
Os
resultados do Exame Nacional do Ensino Médio comprovam – aluno
disciplinado consegue vencer até a imbecilizante ideologia do MEC e das
universidades.
Criado
em 1998, durante a gestão do tucano Paulo Renato de Souza no
Ministério da Educação, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi e
continua sendo objeto de muitas críticas. A exemplo dos demais
indicadores da educação, ele também não é visto como um metro confiável.
Questiona-se sobretudo a sua capacidade de medir a qualidade das
escolas, uma vez que seu objetivo é avaliar alunos. Mas, agora que saiu o
resultado das médias obtidas pelas escolas brasileiras nas provas do
Enem de 2010, a imprensa repete a mesma pauta de sempre – transforma o
Enem numa listagem de escolas, em que as particulares sempre ganham das
públicas. Obviamente.
Em
Goiás, entre as 40 melhores escolas com participação de mais de 75% no
Enem, apenas uma é pública – o Colégio Municipal Castro Alves, de Posse,
que ficou em 11º lugar, com a média de 654,79 pontos. No Enem de 2009,
segundo reportagem do jornal “O Popular” (edição de segunda-feira, 12),
nenhuma escola pública goiana ficou entre as 20 melhores. E, a se crer
em reportagem do Portal G1 (do mesmo dia), o feito da escola de Posse é
quase um milagre. A escola, segundo seu diretor, não recebe os devidos
investimentos do poder público e — que não nos ouça o Ministério Público
— é salva pela ajuda financeira de sua associação de pais e mestres.
Diz a reportagem do G1, assinada por Humberta Carvalho, que a Escola
Castro Alves tem 510 alunos e 30 alunos por sala. O laboratório de
ciências está sucateado e o de informática só tem dez computadores. A
área de lazer, segundo o diretor Luiz Bezerra da Costa Neto, “também
deixa muito a desejar”. E, para completar as carências, os alunos do
ensino médio, que fizeram a prova do Enem, têm aulas à noite. Mesmo
assim, a escola municipal de Posse – que honra o nome de Castro Alves –
obteve 591,33 pontos em linguagens; 613 em matemática; 635,72 em
ciências humanas e 570,65 em ciências da natureza. Ficou com 602,67
pontos nas provas objetivas e 709 na redação, o que deu a média total de
654,79.
Abençoada carência
A universidade brasileira, em vez de ficar dizendo que não se pode
comparar escolas com base no Enem, devia analisar casos do gênero com
mais profundidade, pois é temerário para um indivíduo sozinho tentar
fazê-lo. Isso é sempre trabalho para instituições. Mas arrisco-me a
propor alguns pontos de reflexão, começando pela suposta carência dessa
escola. Não está aí parte do segredo de seu sucesso? Se ela tivesse mais
área de lazer não teria também mais vadiagem? Aposto que sim. Quadra de
esporte em escola, por exemplo, além de local para o aluno fugir do
estudo sério, costuma ser um celeiro de brigas por causa do futebol. A
área de lazer, dependendo da localização da escola, pode virar boca de
fumo.
E o que dizer do laboratório de informática com seus dez
computadores para 510 alunos? Uma benção! – eu diria, parodiando os
evangélicos pentecostais que transformam até terremoto em graça divina.
Torço para que a Escola Municipal Castro Alves continue com esses dez
computadores e, sobretudo, faço votos para que eles não tenham banda
larga. Hoje, nas empresas, vejo mães e pais de família arriscando o
próprio pão dos filhos por não conseguirem ficar longe das redes sociais
nem no seu horário de trabalho. Mesmo assim, as nossas universidades
panglossianas insistem em defender que o computador seja introduzido na
vida das crianças desde o berço.
Pretendo escrever um artigo
exclusivamente sobre este assunto, mas adianto que sou contra computador
em escola. E digo isso com a autoridade de quem foi um dos primeiros
jornalistas goianos a usar computador. Eu me informatizei antes mesmo
que as próprias redações dos jornais goianos se informatizassem. Sou do
tempo do paquidérmico PC-XT e da pré-histórica BBS (Bulletin Board
System), avó da banda larga e mãe da internet discada. Passo boa parte
do tempo em que estou acordado na frente da tela do computador, mas vejo
os estragos que essa ferramenta pode causar na vida das pessoas. O
computador é meu servo, mas, para a maioria das pessoas, tornou-se amo. E
estou falando de adultos; o que dizer, então, de crianças e
adolescentes?
Se a Escola Municipal Castro Alves tivesse um
grande laboratório de informática, com mais computadores, é quase certo
que professores e pais perderiam o controle dos alunos e o resultado da
escola no Enem seria outro. Nas entrevistas concedidas pelo diretor da
escola municipal de Posse, ele enfatizou que a participação das famílias
foi fundamental para o sucesso do estabelecimento. Duvido que isso
fosse possível caso a escola tivesse o perfil idealizado pelas
universidades, em que o computador é ferramenta central no ensino.
Computador em escola serve quase tão somente para o aluno viciar-se em
Facebook, Orkut, MSN e outras famigeradas redes sociais, afastando-se de
pais e mestres e isolando-se no mundo das fofocas e transgressões de
suas tribos físicas e virtuais.
Disciplina
Essa afirmação pode causar estranhamento, mas uma leitura mais rigorosa
dos resultados do Enem mostra que minha hipótese é plausível. Em
recente artigo sobre o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), escrevi que um fator determinante para o aprendizado do aluno é a
disciplina. Nos resultados do Enem, isso fica evidente. Em Goiás,
depois da escola municipal de Posse e do Colégio de Aplicação da UFG
(hoje Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada ao Ensino), os quatro
melhores estabelecimentos públicos que vêm a seguir são todos colégios
militares. E sabe-se que, nesses colégios, a disciplina é bem mais
rígida do que nas demais escolas da rede pública de ensino.
Quando se analisa nacionalmente o resultado do Enem, a tendência se
repete, mostrando que a disciplina é a base da educação. De acordo com a
listagem elaborada pelo Centro Paula Souza (rede de 200 Escolas
Técnicas e 51 Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo), a
segunda melhor escola pública do país, é o Colégio Militar de Belo
Horizonte, que obteve 715,80 pontos na média do exame. Ele só perde para
o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, também em
Minas Gerais, que ficou com média 726,42. E outros três colégios
militares aparecem entre as dez melhores escolas públicas do país: o
Colégio Militar de Campo Grande, com 700,99, em 7º lugar; o Colégio
Militar de Juiz de Fora, com 695,87, em 8º lugar; e o Colégio Militar de
Porto Alegre, com 693,69, em 10º lugar.
Entre
as outras seis escolas públicas que ficaram entre as dez melhores, não
há nenhuma da rede comum de ensino — ou são escolas técnicas ou são
colégios de aplicação universitários. A terceira melhor escola é o
Instituto de Aplicação Fernando da Silveira, com 714,51; a quarta é o
Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco, com 707,26; a
quinta é a Escola Técnica de São Paulo, com 706,66; a sexta, é a Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, do Rio de Janeiro, com 704,93; a
nona é a Escola do Recife, da Universidade de Pernambuco (estadual),
com 693,84 na média.
Quando se estende a análise para as 50
melhores escolas públicas, as escolas militares, juntamente com os
colégios de aplicação e as escolas técnicas, voltam a monopolizar as
melhores notas. Além das quatro escolas militares que se classificaram
entre as dez melhores do país, o Colégio Militar do Rio de Janeiro
aparece em 14º lugar, com 685,93; o Colégio Militar do Recife ficou em
22º lugar, com 677,42; o Colégio Militar de Curitiba é o 31º lugar com
667,36 e o Colégio Militar de Fortaleza ocupa 32ª posição com 665,41 na
média. Ao todo são oito escolas militares entre as 50 melhores escolas
públicas do país.
Discriminação
Pode
parecer pouco, mas não é. Os colégios militares praticamente
representam as redes públicas estaduais de ensino entre as melhores
escolas do país. Por incrível que pareça a única escola pública comum —
que não é técnica, nem militar, nem federal — a aparecer entre as 50
melhores do país é justamente a Escola Municipal Castro Alves, de Posse.
Essa escola goiana merece um estudo de caso por parte de pesquisadores e
autoridades, pois se trata de uma incrível exceção à regra. Todas as
outras 49 melhores escolas públicas do País ou pertencem às
universidades, ou são escolas técnicas, ou são escolas militares. Não há
lugar para escolas estaduais e municipais comuns quando o assunto é a
qualidade do ensino.
Mesmo quando se analisa o resultado do
Enem apenas no Estado de São Paulo (o Estado mais rico da Federação, com
municípios também muito ricos), essa realidade salta aos olhos, até com
mais força. Na lista das 50 melhores escolas públicas paulistas, não há
uma só escola da rede pública comum: 43 são escolas técnicas estaduais,
duas são escolas técnicas municipais, uma é escola técnica federal e as
outras quatro são escolas técnicas de universidades (USP, Unicamp e
Unesp). Parece que o ensino só tem futuro quando se alia à disciplina da
farda, representada pelas escolas militares, ou à disciplina do
trabalho, representada pelo ensino profissionalizante das escolas
técnicas.
Se há uma conclusão que se pode extrair do Enem é que
a rede pública comum de ensino não tem conserto caso continue no ritmo
em que se encontra hoje — obrigada a engolir todos os tipos de aluno e a
não exigir nada deles. Ou se resgata ao menos a disciplina nas escolas
públicas comuns, ou não há a menor chance de que elas venham a se
destacar em avaliações como Ideb ou Enem. E não basta exigir do diretor
que salve a escola com sua gestão (novo modismo criado pelas autoridades
pedagógicas); é preciso resgatar valores como mérito e disciplina, que
não foram apenas esquecidos nas escolas públicas – foram simplesmente
proibidos.
Para a pedagogia paulo-freiriana que infesta as
universidades brasileiras, meritocracia é discriminação e disciplina é
autoritarismo. Mas não há dúvida que as melhores notas no Enem decorrem
desses dois fatores. As melhores escolas são justamente as que
selecionam seus alunos (o que significa valorizar o mérito) e cobram
deles responsabilidade com o próprio aprendizado (o que exige
disciplina). O que coloca as escolas públicas comuns em desvantagem,
reconheço, pois elas não podem selecionar alunos – como fazem a maioria
dos colégios de aplicação, das escolas técnicas e das escolas militares
do país.
Insanidade acadêmica
Nas reportagens sobre o Enem que saíram na imprensa brasileira,
inclusive na imprensa goiana, os especialistas limitam-se a afirmar que
não se pode comparar o desempenho das escolas públicas com as escolas
privadas, porque nas escolas públicas, dada a universalidade do ensino
determinada por lei, não é possível fazer seleção de aluno. Com isso, a
desvantagem da escola pública já começa no ponto de partida, quando ela
forma seu corpo discente e, depois, também não pode dispensar os piores.
E, para completar, dizem os especialistas, as escolas privadas falseiam
os resultados do Enem, mandando fazer o exame apenas os seus melhores
alunos, com o objetivo de garantir médias altas.
Entre os
especialistas ouvidos pela citada reportagem do jornal “O Popular” está o
pedagogo João Ferreira de Oliveira, professor associado da Faculdade de
Educação da UFG e doutor em educação pela USP, com pós-doutorado na
mesma instituição. Ele critica a comparação entre escolas públicas e
privadas com uma procedente argumentação sociológica: “Estamos falando
de 85% de alunos do ensino médio com faixa de rendimento e outros
indicadores muito abaixo dos outros 15% que estão matriculados nas
escolas privadas. Este contingente estuda em escolas que não oferecem as
mesmas estruturas que a particular oferece; tem pais com baixa
escolarização e não tem acesso a bens culturais nem a atividades
extracurriculares e ainda trabalham no contraturno. Portanto, é um
equívoco pensar em comparar os desempenhos de uma e outra”.
O
que fazer, então, diante desse quadro? O professor não diz. E sua colega
de Faculdade de Educação, a professora Geovana Reis, mestre em educação
pela própria UFG, também não diz. Ela reitera as diferenças
socioculturais entre os alunos das redes privada e pública, lembra que a
escola pública não pode selecionar aluno no seu ingresso e aponta o
estratagema das escolas privadas para se saírem bem no exame: “Algumas
situações, como a seleção de alunos com desempenho acima da média para
responder as provas, podem falsear os resultados e oferecer um
diagnóstico equivocado deste ensino”. E, taxativamente, sustenta: “É uma
insanidade comparar essas realidades”.
Ora, se é uma
insanidade comparar escola pública com escola privada (e, em parte, é),
também é insano cobrar do professor da rede pública que ele faça
milagre, ensinando com eficácia alunos muitas vezes incapazes de
aprender. Mas é justamente essa cobrança insana o que as universidades
mais sabem fazer. Em praticamente todas as suas pesquisas acadêmicas,
elas cobram o impossível da rede básica de ensino. No artigo “Escola
pública: vítima indefesa das universidades” (publicado no Jornal Opção
de 21 de agosto), em que analiso a proposta de se colocar o Ideb na
porta das escolas, demonstro que a universidade joga toda a
responsabilidade pelo aprendizado do aluno sobre os ombros do mestre do
ensino básico, defendendo uma tresloucada “escola inclusiva” em que o
vilipendiado professor da rede pública é obrigado a transformar
trombadinhas em sacristãos e deficientes mentais em cidadãos autônomos.
Currículo excessivo
E, quando se trata do ensino médio, o fosso entre escolas públicas e
privadas tende a ser ainda maior. Se no ensino básico, como o próprio
nome diz, trata-se de ensinar o que é comum para todos, no ensino médio a
escola já se defronta com exigências sociais mais complexas, como
preparar o adolescente para a universidade ou para uma profissão. Nesse
caso, disciplina é fundamental, mas não basta. A escola precisa de
estrutura, sobretudo para o ensino de ciências, que tende a ser
improdutivo se ficar no cuspe-e-giz. Talvez por isso, as piores notas do
Enem são justamente nas provas de ciências da natureza, especialmente
nas escolas públicas comuns (nem técnicas, nem de universidades), onde
os laboratórios são quase inexistentes.
E a escola pública fica
ainda mais prejudicada porque o ensino médio brasileiro é
enciclopédico, com uma profusão de disciplinas complexas e inúteis. É o
que reconhece a socióloga Maria Helena Guimarães de Castro, com a
autoridade de quem foi responsável pela criação do Enem, quando presidiu
o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep) de janeiro de 1995 a
abril de 2002, durante o governo Fernando Henrique. Numa entrevista
concedida a Alexandre Machado, no programa “Começando o Dia”, da Rádio
Cultura FM de São Paulo, na terça-feira, 13, ela defendeu uma reforma do
ensino médio, afirmando que seu currículo é “pesado”, “muito
fragmentado” e “sem sentido”.
Maria Helena Guimarães criticou
acertadamente a utopia de um ensino médio igual para todos e lembrou
que, durante a gestão de Paulo Renato de Souza no Ministério da
Educação, havia a perspectiva de se reformular radicalmente o ensino
médio, interrompida com a eleição de Lula em 2002. A meta era reduzir o
número excessivo de disciplinas do secundário e criar uma grade básica
para todos os alunos, mas permitindo que eles escolhem as demais
disciplinas com base nos objetivos que tivessem em mente, como uma
faculdade ou o mercado de trabalho. Segundo a ex-presidente do Inep, a
maioria dos sistemas de ensino do mundo tem cerca de metade de
disciplinas existentes no ensino médio brasileiro.
Na
entrevista, a ex-presidente do Inep afirmou, textualmente, que “as
próprias universidades não têm participado ativamente desse debate e são
mais ou menos distantes”. Foi seu grave erro de avaliação na
entrevista. As universidades jamais foram omissas nessa questão. Até por
uma questão legal, tudo o que ocorre no ensino básico e no ensino médio
– eu disse: tudo – está sob a influência direta da universidade. É ela
que forma professores e gestores; que elabora as leis educacionais; que
implanta as políticas públicas de educação; que define as Diretrizes
Curriculares Nacionais. E, como se não bastasse, ainda produz uma
profusão de pesquisas sobre temas prementes do ensino básico, inclusive
sobre o Enem, Ideb, Prova Brasil e outros indicadores de qualidade do
ensino.
Mito da escola única
O problema (e isso a ex-presidente do Inep não diz claramente) é que a
ciência produzida nas universidades brasileiras é fortemente contaminada
por um viés ideológico de esquerda. É essa contaminação ideológica, com
origem na universidade, que impede a educação brasileira de se
desvencilhar do mito da “escola única”, preconizada por Lenin e ainda
hoje cultivada por pedagogos como Moacyr Gadotti, principal discípulo de
Paulo Freire. Se essa gente pudesse, acabaria, por decreto, com todo o
ensino privado, em que pese o próprio Paulo Freire ter sido professor de
universidade privada no Brasil, onde sua relação com os alunos era
obviamente uma educação bancária – os alunos pagando mensalidades, o
pedagogo vendendo utopia.
Se os especialistas não admitem que a
escola pública seja comparada com a escola privada, devido às abissais
diferenças entre o perfil econômico, cultural e social de seus alunos,
qual seria a consequência lógica desta constatação? No mínimo, admitir
que, enquanto persistirem essas diferenças, é impossível garantir ao
aluno da escola pública o mesmo nível de ensino da escola privada. Era o
que os velhos marxistas pensavam. Por isso, eles defendiam a revolução
social antes da revolução pedagógica. Em sua tacanha visão mecanicista
(ainda assim, menos tola do que a visão holística do marxismo atual, que
se reflete no construtivismo pedagógico), os marxistas do passado viam a
educação como uma corrida, em que os mais ricos saíam muito na frente
e, por consequência, dificilmente eram alcançados pelos mais pobres.
Hoje, depois que a pedagogia brasileira tornou-se obcecada pela
estranha mistura de Paulo Freire com Michel Foucault, a universidade
resolveu começar a revolução socialista pelas próprias escolas e, para
isso, ela precisa “empoderar” crianças, adolescentes e jovens – isto é,
“dar poder” ao seu novo proletariado. Admitir que muitos alunos não
aprendem por deficiência própria seria não apenas desperdiçar a chance
de culpar por todas as mazelas sociais “o sistema que está aí”, mas,
sobretudo, implicaria comprometer a possível flama revolucionária desse
proletariado vicário. Para que o aluno possa ser transformado em massa
de manobra da revolução socialista, é preciso dar a ele a ilusão de que é
autônomo e que age movido por própria vontade e não pela canga
ideológica que lhe impõem.
É o que se vê no próprio Enem, que
não parece um exame para avaliar a qualidade do ensino e, sim, uma ficha
de filiação partidária. O Enem é flagrantemente ideológico e obriga o
aluno a ver o Brasil com os olhos da esquerda. Essa afirmação exige uma
análise detalhada de suas provas – papel que caberia às universidades.
Mas como elas não têm isenção ideológica para tanto, essa análise acaba
recaindo sobre os ombros de uns poucos indivíduos independentes e não
vou me furtar a essa tarefa num próximo artigo.
Já adianto que
as provas de ciências humanas do Enem – complexas no método e na forma,
mas vazias no conteúdo – praticamente obrigam o aluno a pensar como o
MST, a acreditar que a mais grave doença atual é a “homofobia” e a
reduzir a história do Brasil à luta de classes, em que uma burguesia
sádica explora por prazer um proletariado idílico. Felizmente, a
disciplina cognitiva e moral de muitos alunos conseguiu vencer uma
ideologia disfarçada de ciência, que, mais do que atrapalhar o
aprendizado, inviabiliza o próprio aprendiz.