Nós
possuímos suficiente experiência de vida para afirmarmos que já assistimos
alguns filmes e sabemos o seu final.
Há
alguns anos atrás, alguns dirigentes de organizações então na ilegalidade,
conduziram um grupo de jovens idealistas a uma aventura com final trágico.
Parece que a história tende a se repetir.
O
título do texto remete a uma sentença escrita na camiseta de alguns jovens que
hoje, dia 19 de junho de 2012, resolveram promover mais uma manifestação que
eles chamam de escracho.
Orientados(?)
por alguns dirigentes mais experientes, conforme já demonstrado em vídeos
postados no próprio site que mantém na internet, buscam constranger pessoas que
alegam ter cumprido missões durante os anos de 1964 a 1985.
Escolheram
a cidade do Rio de Janeiro, em plena efervescência por conta da realização da
Conferência Rio+20, pensando alcançar um espaço maior que a mídia habitualmente
já lhes dispensa. O tiro saiu pela culatra. Por conta do sem número de manifestações
que ocorrem na cidade, o espaço que lhes dispensaram foi mínimo.
A
montagem do espetáculo é sempre a mesma. A preparação antecipada inclui a
convocação dos militantes, remunerados ou não, mera massa de manobra, alguns
incitadores da massa e um pequeno, mas ativo, grupo dirigente. Cumprem uma
disciplina quase militar e preparam-se com esmero. Possuem recursos.
Confeccionam camisetas, cartazes, bandeiras, instrumentos de percussão,
improvisados ou não, compram megafones, imprimem panfletos etc.
Algumas
das medidas acima foram facilitadas justamente pela realização da conferência
Rio+20. A massa de manobra, por exemplo, foi constituída por militantes da Via
Campesina, identificados por suas camisetas e bonés verdes, e por militantes do
MST, identificados pela cor vermelha dos seus uniformes. Os dirigentes locais e
forasteiros, também estavam disponíveis, alguns porque são profissionais,
outros porque a greve das universidades e a realização da conferência
propiciaram tempo e uma ótima área de acampamento localizada no campus Praia
Vermelha da UFRJ.
Talvez
pela localização mencionada anteriormente o local e o alvo do “escracho” foi o
bairro de Botafogo e um oficial da reserva do Exército Brasileiro que ali
reside.
A
região da Rua Lauro Muller e adjacência guarda um quê de bucólico no burburinho
da cidade do Rio de Janeiro. Um complexo de prédios com uma área comum de
convivência entre eles. Por ali circulam os moradores; universitários
estudantes das instituições de ensino público; militares das escolas IME,
ECEME, EGN; funcionários públicos da DPNM e do CBPF; deficientes visuais e
pessoas que buscam apoio especializado no Instituto Benjamin Constant; jovens
adolescentes e crianças alunos de duas escolas, uma pública e uma particular; e
pessoas que trabalham em uma torre de escritórios. Uma linha de ônibus faz a
integração com a estação do metrô em Botafogo.
Pois
bem. A rotina de todas estas pessoas foi violentamente alterada na manhã de
hoje. O simples direito de ir e vir foi-lhes cerceado. Crianças não puderam ir
ou voltar da escola. Funcionários não puderam sair das suas repartições.
Moradores não puderam sair ou chegar às suas casas. Tomaram-lhes a única rua de
acesso ao seu recanto. Tudo isto para que? Para constranger uma pessoa!
Valendo-se de fontes de consulta comprometidas por um ranço ideológico
revisionista acusavam um Oficial da Reserva do Exército, morador de um dos
prédios, de torturador.
O
panfleto distribuído durante o evento não permitia que se concluísse sobre qual
a acusação pesava sobre o militar, em virtude da pobreza da qualidade do texto,
posto que aparentemente ele precisaria ter o dom da ubiquidade para estar
prestando serviços em diferentes unidades localizadas em municípios distintos
ao mesmo tempo.
De
qualquer forma os incitadores gritavam palavras de ordem, discursavam, faziam
chamada nominal das supostas vítimas e identificavam com uma grande faixa
colocada em frente à portaria principal do prédio o nome do militar e o número da sua unidade
habitacional.
A
Polícia Militar e a Guarda Municipal,
presentes ao evento, demonstraram uma postura profissional. Aparentemente a
manifestação estava autorizada pelas autoridades competentes e eles se
limitaram a manter a incolumidade das pessoas e a preservação dos bens
materiais. Entretanto, as pessoas, moradoras ou não, que precisavam transitar
pela área eram gentilmente impedidas pelos policiais de fazê-lo. Só os
manifestantes possuíam plena liberdade!
O
presidente da associação dos moradores estava absolutamente constrangido. Em
primeiro lugar porque a associação é uma das mais antigas e atuantes da cidade,
tendo como seu fundador e incentivador um oficial do Exército. Em segundo lugar
porque o militar constrangido pela manifestação é partícipe com atuação
destacada na associação; ele e a família há muito tempo ali residem.
Para
encerrar, volto ao título proposto pelos jovens em suas camisetas: será que
eles fazem alguma ideia do que eles querem? O que será exatamente um poder
popular? Será ousada uma luta baseada em palavras de ordem e chavões gritados à
exaustão em megafones? As restrições e o constrangimento impostos às pessoas
será que é o que pretendem para o futuro do país? Será que têm alguma noção de
como estão manipulando pessoas simples do campo? Será que percebem que estão sendo
instrumento e massa de manobra para os que os comandam?
A
pergunta final que deixo é: a sociedade brasileira vai assistir inerte a tudo
isto? Até quando?
Marco
A. E. Balbi
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