Prof. Marcos Coimbra
Conselheiro Diretor do CEBRES, Titular
da Academia Brasileira de Defesa, da Academia Nacional de Economia e Autor do
livro Brasil Soberano.
Anomia significa ausência de leis, de normas,
regras de organização, falta de consenso moral e de controles normativos na
Sociedade, resultante do colapso da autoridade tradicional. Émile
Durkhein analisou o fato nas Ciências Sociais, observando a desintegração
dos controles sociais da Sociedade que passava por grandes transições.
Em seu estudo clássico “Suicídio” (1857) afirma que esta desintegração
do Contrato Social leva à insegurança, à alienação, e, em
condições
extremas, ao suicídio.
Poucas vezes na história de um país,
tivemos, como agora no Brasil, um predomínio tão avassalador da mediocridade
e da corrupção generalizada, ocasionando um processo flagrante de anomia. E
o fenômeno espalha-se por todos os setores da sociedade brasileira. E não
existe uma reação à altura das forças vivas da Nação. Não há
setor invulnerável. Todos são atingidos, em menor ou maior proporção,
pela epidemia avassaladora. A premissa básica de um regime democrático consiste justamente no respeito à harmonia, autonomia e
independência dos três poderes da República, o Executivo, o Judiciário e
o
Legislativo. E é exatamente o que inexiste no Brasil hodierno.
Como
admitir um Executivo que interfere ostensivamente nos demais poderes? E,
pior. Quando um ex-presidente interfere absurdamente não apenas nas escolhas
de candidatos de seu partido, cassando quem não aprecia e impondo seus
protegidos, como, por exemplo, em SP e no Recife, de uma forma ditatorial,
como também procura intimidar integrantes dos Poderes Legislativo e
Judiciário, pressionando-os
abusivamente, objetivando impor sua vontade, ao
arrepio da lei. O recente episódio da precoce propaganda eleitoral feita no
programa de um popular apresentador de programas de TV, no SBT, pertencente,
“por coincidência”, é claro, a um ex- proprietário de um banco,
salvo graças ao apoio decisivo da autoridade monetária é revelador. O
Grupo Panamericano foi socorrido. O banco Cruzeiro do Sul sofreu
intervenção do Banco Central.
No Judiciário a intervenção é feita
através da indicação dos membros das mais altas cortes do país. Na
administração petista, foram nomeados, pelo antigo presidente, mais da metade
dos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e mais de 2/3 dos
integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Recentemente, a atual
presidente nomeou mais dois. O Legislativo apenas aprova, sem tergiversar,
as
ordens recebidas.
Outro absurdo é flagrar a indecente disputa pela
nomeação de cargos de todos os escalões do Executivo por parte de membros do
Legislativo. É patética a briga entre os partidos da base aliada pelo botim.
Não possuem sequer vergonha na cara. Como pressupor a isenção dos
comandos dos partidos políticos no cumprimento de suas respectivas
funções constitucionais, se vivem a mendigar a nomeação de seus
apadrinhados para cargos importantes, dotados do poder de nomear centenas
de
acólitos para cargos comissionados e com capacidade para decidir
sobre dezenas de licitações de valores astronômicos. Caso não votem
de acordo com as ordens emanadas do Planalto, seus indicados
serão decapitados, com as consequências lógicas de ameaça à reeleição
de nossos congressistas.
Em países mais democráticos, como os EUA,
países europeus etc., é comum haver um presidente de um partido, convivendo
com uma maioria oposicionista em uma das casas do Congresso, ou até mesmo nas
duas.
Esta é a essência da Democracia. Cada decisão importante deverá
ser negociada passo a passo, em função dos superiores interesses
nacionais e não por causa da nomeação do presidente de uma estatal.
O
povo, inebriado pelo pão e circo, suporta tudo, sem protesto. Não
há lideranças mais. As Instituições Nacionais vão sendo cooptadas uma
a uma. Quase todos têm um preço. Passa a ser uma questão de atender ao que
é imposto, seja na área financeira, ou em outra qualquer. A omissão, a
covardia, a cumplicidade, a leniência imperam. Inexiste oposição. Caso
houvesse, com um mínimo de competência, o Brasil teria pelo menos o
contraditório e a possibilidade de uma alternativa com propostas diferentes.
O PT, caso fosse oposição neste momento, já
teria levado não só esta
administração como a anterior a nocaute. Por que ela não age? Afinal, a
presidente atual foi eleita sem aprovação da maioria dos eleitores
existentes, considerando-se as abstenções, votos brancos, nulos e no
candidato derrotado no segundo turno.
A infra-estrutura econômico-social
padece de graves carências, em especial nos importantes segmentos da saúde,
da educação, da segurança e dos transportes. Como sonhar em ser a 5ª economia
do mundo (agora, com a alta do dólar, voltou a ser a sétima, teoricamente),
com o baixo nível de qualidade da nossa força de trabalho, em todos os
níveis? Com a falta de seriedade com a coisa pública? Com a inexistência de
um Projeto Nacional de Desenvolvimento? Com o grau de
corrupção predominante em praticamente todos os setores da sociedade? Com o
nó
logístico? Com o péssimo exemplo transmitido pelas nossas “autoridades”
e pelos meios de comunicação, interessados apenas em audiência e lucro,
inteiramente descompromissados com os princípios morais e éticos de nossa
civilização judaico-cristã? Com o revolver do passado, ignorando os “mal
feitos” atuais?
Infelizmente, não temos a solução para esta problemática
apresentada, mas julgamos ser nosso dever expor nossa opinião sobre esta
anomia reinante, objetivando buscar a correção dos graves erros
existentes, com o auxílio de todos aqueles insatisfeitos, como nós, com
este estado de coisas e que ainda são possuidores de amor à
Pátria, realmente comprometidos com os valores de nossos antepassados e com
o bem estar de nossos descendentes. Nosso Brasil não merece este triste e
melancólico destino. Vamos combater o bom combate, enquanto ainda é tempo. Os
tristes e graves exemplos provenientes do Oriente Médio são contundentes. A
intervenção externa de potências estrangeiras em países soberanos, provocando
a fragmentação deles, a desagregação social e o caos, com a irrupção de
guerras civis, levando a “balcanização” de Estados antes autônomos é
preocupante para países como m Brasil, ricos em recursos naturais escassos no
mundo e desprovidos de meios adequados de defesa.
Correio eletrônico:
mcoimbra@antares.com.br
Página:
www.brasilsoberano.com.br (Artigo de
05.06.12 para o MM).
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