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 O Senado recebeu o Projeto de Lei (PL)  41/2010, que altera as condições de acesso a informações sigilosas de posse do  Estado. Se o texto for aprovado sem modificações, cairá o sigilo eterno de  documentos e haverá apenas uma prorrogação da vigência das classificações  sigilosas nele previstas - reservada, secreta e ultrassecreta.  | ||
Terminada a prorrogação, a informação será divulgada  automaticamente, sem uma avaliação do risco correspondente, anulando, de fato, a  ressalva constitucional que preserva o sigilo de informações enquanto possam  colocar em risco a segurança da Nação (art.5º, XXXIII). Numa hipótese fictícia de que a inteligência  brasileira tivesse participado da localização de Bin Laden, os documentos da  operação classificados como secretos deveriam ser divulgados, obrigatoriamente  em 2041 na internet, tornando a Nação alvo da vingança da Al Qaeda ou de outra  organização terrorista sucessora. O Estado cercear sua liberdade de ação, a  ponto de admitir situações de risco para futuras gerações, é miopia, imprudência  e irresponsabilidade.  O País não tem litígios fronteiriços graças  aos tratados estabelecidos, mas diante de uma oportunidade não há dúvida de que  alguns dos dez vizinhos tentarão rediscutir tais questões. Um deles poderia usar  uma informação aberta como pretexto para alegar haver detalhes importantes  desconhecidos pelo seu povo, na negociação de limites, e que ele não teria  concordado com o tratado em tais condições. No mínimo, pleitearia indenizações  ao Brasil e, se negadas, tentaria levar a questão à Corte Internacional, com  resultado imprevisível. Não é sem razão que o MRE, durante décadas, foi  contrário à abertura de informações sigilosas de Política Exterior até que reviu  a posição para se ajustar à nova linha adotada pelo atual governo.  O PL obriga a quebra do sigilo de documentos  militares, de nível estratégico e operacional, onde constam hipóteses de  emprego, objetivos a defender ou atacar, alvos sensíveis, direções estratégicas  de atuação, zonas de concentração de forças, medidas de defesa do território e  de instalações críticas e outras informações. Documentos de inteligência  revelarão vulnerabilidades nacionais e colocarão pessoas em risco. O mais grave  é que esses conhecimentos e a forma de acessá-los serão disponibilizados na  internet, estando alguns em final de prazo de prorrogação do sigilo e com muitas  informações de valor permanente. Basta se colocar na posição do cidadão de uma  nação vizinha, ao tomar conhecimento dos planos de campanha brasileiros em caso  de conflito armado com o seu país, para perceber as consequências da abertura de  conhecimentos dessa natureza, independente do prazo. As relações com os condôminos sul-americanos  precisam estar bem ajustadas para viabilizar a integração latino-americana,  objetivo nacional contemplado na Constituição Federal (art. 4º). Não é racional  o próprio País criar motivos para ressentimentos e contenciosos, gerando óbices  à sua concretização. O segredo eterno não se justifica, mas a prorrogação do  sigilo não é uma questão de tempo e sim de conteúdo e consequência.  Alcançado o  limite do prazo, a prorrogação ou a quebra do sigilo devem ser avaliadas por uma  comissão consultiva de pequeno efetivo, que emitiria um parecer, ficando a  decisão a cargo de uma instância superior, às vezes, do próprio presidente da  República. A esquerda radical e ONGs ideológicas estão  envidando esforços pela rápida aprovação do PL, mas não por interesse no  conhecimento da história do País, como um todo, e sim na abertura dos documentos  sigilosos do regime militar para uso pela Comissão da Verdade (CV). Facciosa  como está sendo estruturada, a CV só vai se valer das informações que  comprometerem os agentes do Estado que combateram a luta armada. As que  mostrarem violações cometidas por ex-guerrilheiros, terroristas e sequestradores  serão descartadas com o falso argumento de que todas foram obtidas por meio de  tortura quando, na realidade, muitos depuseram espontaneamente. O Brasil passou  por revoltas e revoluções, crises político-militares e pela ditadura Vargas sem  nunca ter precisado de uma CV para conhecer sua história, nem para se  reconciliar. Sempre usou o instrumento da anistia, que a esquerda revanchista  quer desmoralizar sem medir as consequências de tamanha insanidade. Ora, num  governo com presença e influência marcantes da esquerda radical, o interesse  ideológico costuma preceder a segurança do País. Existe também um setor idealista que considera  dever do Estado divulgar as informações que possui, pois a sociedade tem o  direito de conhecer plenamente a história do País. Porém, o Estado é um delegado  constituído pela Nação, cuja missão principal é prover sua segurança,  desenvolvimento e bem-estar. Assim, quando a divulgação de uma informação  sigilosa puder comprometer essa missão, é sua obrigação mantê-la em segredo,  como ampara a própria Constituição Federal. O Estado não deve atender a anseios de grupos,  nem ao clamor popular de ocasião, sem avaliar seus reflexos para a coletividade.  E, mais importante, não pode ser fraco diante de segmentos ideológicos  organizados que procuram impor seus interesses aos da sociedade. Alguns desses  segmentos têm poder político e influência social para promover, controlar,  dificultar a ascensão ou derrubar lideranças, subjugando ou atraindo o apoio de  expressiva parcela da liderança política. O Legislativo é o único representante  legítimo do conjunto da sociedade brasileira e não pode deixá-la à mercê desses  grupos sectários. Quanto ao PL, o Senado está com a palavra.  A liderança nacional precisa amadurecer e entender que  brincar de governar, legislar e julgar pode ter um alto custo para seu  povo.  | 

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