O Estado de São Paulo
Sr. (Sra.) Redator (a)
A propósito do editorial O ‘filho de Chavez’ falhou (Estadão, de 16/04/2013), é possível asseverar que a vitória do Sr. Maduro sobre o ‘peessedebista’ Capriles, na vizinha Venezuela, frustrou a expectativa de um ponto de inflexão no estado de coisas vigentes na América do Sul. Esse evento político constituiu-se em inequívoco estímulo à continuidade de um conjunto de ações, procedimentos e rotinas com impacto terrível para as populações sul-americanas.
Assim, saem fortalecidos o patrimonialismo da esmola mensal em lugar da oferta de trabalho para que cada um possa buscar a sobrevivência com dignidade; a política de cotas educacionais em substituição às escolas públicas de boa qualidade (atenção, sábios, sou neto de negra, bisneto de índia, oriundo de lar muito modesto e estudei apenas em escola pública que já foi de boa qualidade, sem o malfadado mecanismo de cota); a tentativa recursiva de cercear a liberdade de imprensa; e o crescimento econômico pífio camuflado pela retórica de que tudo segue às mil maravilhas.
Restam cristianizados a solidariedade, defesa e convivência dos operadores da malversação dos recursos públicos; a utilização dos recursos públicos para as estadias faustosas no estrangeiro, camuflada pela falsa defesa da prioridade para os pobres; a poligamia bancada pelos recursos da sociedade; e a retirada de objetos de palácio do governo, por líder substituído, sem qualquer constrangimento.
Similarmente, estão sendo considerados republicanos a associação, defesa e apoio de regimes ditatoriais de várias latitudes; o acolhimento de bandido condenado em país com plena vigência do estado de direito; e o repatriamento de atletas estrangeiros que se opõem à ditadura de seu país.
É forçoso indagar se devemos atribuir aos líderes sul-americanos a condição de maduros ou de ‘podridos’. Não se trata de brincadeira, mas de alusão à podridão moral, ética e intelectual. E também a pior das podridões --- a dos intelectuais que apoiam ou se omitem diante de tanta podridão.
Não raro, reflito sobre a questão dos intelectuais. A História ensina que eles apontam as direções transformadoras. Os operadores da transformação, os estadistas, quando existem, a empreendem. Para tanto, é preciso recorrer ainda à evolução histórica e, facilmente, inferir que as sociedades que atingiram níveis de satisfação coletiva elevados tiveram intelectuais e estadistas, e se submeteram aos ditames de uma equação simples: Talento, Trabalho, Produção e Poupança (T2P2).
Com a perspectiva de não ocorrer alternância de poder no Brasil ao longo de um ciclo de 24 anos, injeta-se no inconsciente coletivo a normalidade da situação vigente e elege-se décadas para aprender, saber, pensar e agir condicionados à equação T2P2 e para empreender a recuperação do tempo perdido. Claro, sendo otimista, e não admitindo que podemos passar à decadência antes de atingir o ápice --- entendendo-se o ápice como a condição da possibilidade de cidadania jurídica, educacional, financeira e política plena, para todos os integrantes da sociedade.
Atenciosamente,
Aléssio Ribeiro Souto
Militar da reserva
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