Publicado no “CORREIO DO BRASIL/RJ” em 29 de
setembro de 2011
Nossa presidenta
não podia se despedir de Nova York sem incorrer na mesmice. Não sem antes cobrar
da comunidade internacional, durante uma reunião da ONU, maior rigor na
fiscalização de algumas nações, particularmente daquelas que detêm primazias e
armas nucleares para fins militares. Eu fico a imaginar o que pensam os
representantes da “gang dos 5” quando principiantes no grande jogo da disputa
internacional se arvoram, assumindo mesmo a pele de verdadeiros e únicos
campeões da paz mundial. Na oportunidade, a chefe do estado brasileiro,
repetindo discursos de seus antecessores, assim se reportou de forma
peremptória: -“É imperativo ter no horizonte a eliminação completa e
irreversível das armas nucleares”. Cidadã presidenta, este tipo de horizonte por
si só é também inatingível!
Senhora Dilma,
vamos pensar as coisas como elas são, trata-se de um simples raciocínio
aritmético: existe uma desproporção tirânica entre a população das duas
superpotências mundiais e, logicamente, na capacidade de mobilização de efetivos
para suas forças armadas. Em termos de armamento convencional de última geração,
não há como se duvidar, os chineses já estão em pé de igualdade com os nossos
“irmãos do norte”. Presidenta cidadã, a senhora é perspicaz o bastante para
perceber que, nestas condições, desequilibra quem tem mais soldados, marinheiros
e aviadores para empregá-los. Vossa Excelência há de convir: nenhum chefe de
estado norte-americano, em sã consciência, poderia abrir mão da única arma capaz
de garantir a sobrevida dos descendentes de Tio Sam.
Vamos agora
descer um pouco o escalão e imaginar como pensam os três bandidos restantes da
“esquadrilha”. Ingleses e franceses temeram, temem e temerão sempre os russos: é
o medo atávico da etnia eslava que sempre viveu debruçada de forma ameaçadora
por sobre a Europa Ocidental. A senhora, em sã consciência, acredita que
britânicos e gauleses vão desmontar seus arsenais para depender, tão somente, do
seu correspondente americano. Dona Dilma, a senhora acha que esses países,
líderes da União Européia, não se levam a sério?
Alerta
comandante-em-chefe das Forças Armadas Brasileiras! Por muito menos os
britânicos estiveram aqui, no Atlântico Sul, para garantir a posse de duas
ilhotas que, todos sabem, pertencem aos “hermanos”. Todavia, também, não há quem
duvide: se a Argentina fosse a Índia ou o Paquistão, simplesmente, não teria
tido lugar o melancólico conflito das Malvinas e muitas vidas teriam sido
poupadas, tanto de um lado como de outro. Quero que alguém me diga como escapar
deste paradoxo!
Presidenta,
Vossa Excelência disse que a ONU deve se preocupar com a eliminação completa e
irreversível das armas nucleares! Raciocine, imagine, pondere por um momento que
seja, a Coréia do Norte já resolveu o problema dela e o Irã está só correndo
atrás. Até os “senhores da guerra” já perceberam: também para esses países poder
de dissuasão definido e imediato é garantia de sobrevida! Assim, não adianta
procurar desenvolver material bélico convencional em longo prazo para a garantia
das nossas riquezas nacionais se elas estão transbordando, se revelando agora, a
olhos vistos, para os grandes predadores militares. Trata-se de um processo
muito caro que demandaria longo tempo para fazer reverter o “gap” tecnológico
que deles nos separam. Precisamos, sim, de algo mais, porém para ontem, se
quisermos evitar a luta pelas amazônias verde e azul.
Permita-me agora
descer ainda mais o escalão. Raciocinemos a problemática no nível “minhoca”:
árabes e israelenses. Como poderia sobreviver o diminuto Israel em meio a uma
horda de “tuaregues” ululantes, volteando suas adagas ao redor de suas
fronteiras, sem o seu quinhãozinho de ogivas? Não espere mais Senhora Dilma
Roussef, assuma agora a postura de quem realmente veio para modificar o “status
quo” das desigualdades mundiais.
Paulo Ricardo da Rocha Paiva
Oficial General
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