Gen Div R1 CLOVIS PURPER BANDEIRA
1º Vice-Presidente do Clube Militar
Há um ano e meio escrevi artigo com o mesmo nome. Na época, tratava-se de proposição maluca de um político para que a Lei Áurea fosse revisada e alterada. O assunto teve vida curta, mas o incrível é que tenha sido levado a sério.
Naquele
artigo, comecei citando frase de humorista brasileiro que disse que, no
Brasil, nem o passado era garantido, afirmativa com que me via obrigado
a concordar.
Nestes
dias correntes, em que a Comissão da Vingança e Inverdade acaba de ser
aprovada pelo Congresso, em proposta que teve como relator um
ex-guerrilheiro, motorista, segurança e cúmplice do mais furioso
terrorista brasileiro, Carlos Marighella, sou obrigado a concordar, mais
uma vez cm o sábio humorista.
Convido o leitor a acompanhar-me num voo imaginário até algumas décadas no futuro.
A
produção, comercialização e o consumo de drogas deixaram de ser crime
há muito tempo e, depois de longos processos judiciais, os antigos
traficantes e assassinos, que haviam sido condenados por tráfico e
outros crimes associados, foram anistiados e devidamente agraciados com
ricas indenizações e pensões – isentas de imposto de renda – bancadas
bovinamente pelos contribuintes, que há muito perderam o direito de
indignar-se, mesmo pagando impostos que já passam de 80% de seus ganhos,
para sustentar a máquina pública que emprega mais da metade da
população brasileira.
Com
seu currículo engrandecido pelo rótulo de antigas vítimas de
perseguição policial, os ex-traficantes foram eleitos, com grande
votação, para cargos no Legislativo federal.
Anseiam,
agora, vingar-se dos funcionários da segurança pública que, no passado,
ousaram persegui-los e prendê-los, mesmo que isso tivesse sido feito na
plena observância da lei então vigente.
Assim sendo, tratam de propor, via Projeto de Lei, a criação de uma Comissão da Vingança e Inverdade II – o Regresso
É
escolhido como relator, na Câmara, o Deputado Federal Alexander Mendes
da Silva, antigamente conhecido como Polegar, um herói pioneiro da luta
pela liberação da comercialização dos tóxicos, cujo tráfico comandava na
Mangueira, Rio de Janeiro.
No
Senado, o relator será o Senador Fernandinho Beira Mar, que conseguiu na
Justiça alterar seu nome para Fernandinho Paz e Amor.
A
imprensa, as redes sociais, os órgãos de comunicação que no passado
distante eram conhecidos como formadores de opinião, aclamam a
iniciativa do Projeto de Lei, e seus relatores já têm como certíssima
sua aprovação nas duas casas do Legislativo, na sua próxima reunião
mensal, que cairá numa segunda-feira do mês vindouro, em princípio.
Antigos
policiais – os que ainda não fugiram ou estão em asilos – muitos
octogenários, preparam-se para enfrentar o “julgamento imparcial” a que
serão submetidos por uma comissão formada por antigos traficantes, entre
eles Marcola do PCC, Nem da Rocinha, Fabiano da Silva (FB), Paulo
Rogério da Paz (Mica), Francisco Rafael Dias da Silva (Mexicano) e
outros cidadãos ilibados cuidadosamente escolhidos pela Presidência da
República. Todos são saudados como históricos defensores
da democracia, da cidadania, da moral e dos bons costumes, além, é
claro, dos direitos humanos – expressão que ninguém mais sabe o que
significa, mas que é sempre citada e aplaudida nos discursos oficiais.
O
povo torce para que os autos de fé, baseados nas antigas sessões da
inquisição medieval e que serão realizados antes de grandes partidas de
futebol, sejam interessantes e não atrasem o espetáculo esportivo nos
estádios, que agora são chamados, apropriadamente, de arenas. Como no
passado, que insiste em voltar.
Finalmente, o país poderá cicatrizar as feridas do passado intolerante e olhar, livre, para a frente.
Gostou
da viagem, amigo leitor? Naturalmente trata-se de simples ficção, sem
nenhuma relação com fatos, situações ou pessoas da vida real.