Prezados
amigos, saudações.
O pior é que vai ficar tudo por isso mesmo. Houve um pedido de desculpas? “Santa Subserviência” , como diria o Robin do Batman.
Estou
pensando em entrar com uma ação judicial, dessas indenizatórias, pelos
“esporros” que levei no Curso Básico (mudaram a minha personalidade,
deixando-me mais ágil e atento às coisas...mas não deixam de configurar, como
se fala hoje em dia, verdadeiro “assédio moral”). Quantas vezes fizeram-me
descer as escadas das alas ao pátio ainda vestindo minha roupa? Foi ali que me
ensinaram que “um cadete calçado é um cadete vestido” pois, estando com os
sapatos já amarrados, eu vestia o que faltava a cada lance escadas. Verdadeiro tratamento
degradante.
Ainda
antes do Curso Básico, na Escola Preparatória, levei uma prisão de 10 (dez)
dias por chegar atrasado na volta de um licenciamento. O capitão comandante da
companhia não quis saber que o ônibus, um “Cometão”, havia sido parado
numa barreira fiscalizatória do próprio Exército, nas imediações da cidade
paulista de Registro. Era o ano de 1973. Perdemos cerca de três horas na
barreira...e eu perdi o horário de chegada na Prep. O capitão, numa clara
atitude antidemocrática, não considerou meus argumentos e nem me concedeu o
direito do contraditório. Foram 10 (dez) dias na cela. Uma verdadeira tortura, embora
assim me tenha sido mostrado o valor fazer um quadro-horário considerando a pior hipótese. Quero indenização por esses dez dias preso,
afinal fui unido por causa de uma ação de fiscalização feita por tropas da
Ditadura Militar.
Lembro-me da piscina da AMAN, onde oficiais verdadeiramente sádicos insistiam em fazer nadar um não nadador (NN) como eu. Afinal, queriam aqueles oficiais – numa atitude puramente não democrática – influenciar em minha decisão pessoal de não querer aprender a nadar (como se fosse possível para um aspirante do Exército receber sua espada sem saber nadar...). Alguns instrutores, ainda mais sádicos, obrigavam eu saltar da plataforma de 10 (dez) metros, enquanto, como motivação, acenavam com a espada de oficial. Eu, que tinha medo de altura (nem sei como saí paraquedista) era submetido a esse degradante tratamento. Saltei, mas a contragosto. Quero indenização. Fui torturado.
Certa vez, oficiais instrutores – sem imaginação – obrigaram-me a participar de uma semana de exercícios físicos alucinantes – principalmente pela privação do sono – chamados de Operação FIT. Choveu bastante e eu ali, vestido com aquele ineficiente poncho, marchando, marchando, marchando...com os pés pesando 3(três) quilos cada um, por conta da lama grudada. Era nesse tipo de exercício que eu perdia minha identidade, era desprovido de minha alma, negando o meu próprio “ eu” e obrigando-me a aprender a trabalhar em equipe. Sem contar que precisei amparar-me em um companheiro na hora de nadar atravessando uma represa. Sinceramente? Eu preferia ter ficado na sede, talvez participando de um seminário não presencial de reflexão sobre direitos humanos.
Pelas
verdadeiras agressões físicas por parte de oficiais da SIEsp (que, não tendo
atingido seu intento de eliminar-me, do exercício, é claro, mostraram que
eu podia suportar sofrimento para além do que eu conhecia sobre mim
mesmo...). Lembro-me bem de uma surra que levei com um rolo de cartas dentro de
um caminhão REO. Foi muito deprimente para a minha condição de cidadão
brasileiro. Isso não é a tal “periclitação da vida”?
Depois, no Curso de Cavalaria, fui obrigado a limpar estrume da cavalhada; montar cavalos “psicóticos” que deixavam minha “mantissa” machucada, quando não me mordiam nas costelas ou me levavam –a comando – para lugares ignotos, fazendo-me sofrer depois o “bullyng” por parte dos coleguinhas. Os muitos sustos que levei na instrução de explosivos e nos tiros de morteiro. Tudo isso deformou minha personalidade para sempre.
Depois, no Curso de Cavalaria, fui obrigado a limpar estrume da cavalhada; montar cavalos “psicóticos” que deixavam minha “mantissa” machucada, quando não me mordiam nas costelas ou me levavam –a comando – para lugares ignotos, fazendo-me sofrer depois o “bullyng” por parte dos coleguinhas. Os muitos sustos que levei na instrução de explosivos e nos tiros de morteiro. Tudo isso deformou minha personalidade para sempre.
Outros sofrimentos deploráveis pelos quais passei foram as repetidas vezes em que me fizeram dirigir ou ser conduzido naqueles indefesos “jipinhos”, que nem cinto de segurança tinham. E quando “me jogavam” dentro daqueles carros blindados, ora para pilotá-los, ora para dar tiros ensurdecedores... Tudo isso prejudicou-me fisicamente, pois, até hoje, tenho a audição diminuída...e não me digam que é pela idade
avançada. Acho que, pelo tratamento desumano, mereço uma indenização, já que vivemos a época do “eu mereço”.
Foi na
AMAN que me ensinaram uma História do Exército Brasileiro com a qual convivi
cerca de quarenta anos. Faziam-nos estudar, e, pior ainda, nos cobravam em
provas. Embora os professores fossem oficias de elevado gabarito, acho que me
ensinaram uma história falsa, haja vista que o Exército de hoje recentemente a
renegou.
Foi na AMAN que eu fui forçado a cultuar um letreiro onde estava escrito “Cadetes! Ides comandar. Aprendei a obedecer.” Acho que certo estava um colega que discordava desse texto. Ele dizia: Cadetes! Ides comandar? Aprendei a comandar.” Infelizmente, esse companheiro não terminou os 4 (quatro) anos de tortura. Saiu antes do fim.
Resumindo, sofri muito na AMAN devido ao seu arcaico sistema de ensino. Hoje, sou um subcidadão, de personalidade deformada, rejeitado por minhas opiniões, e, como demonstra muito bem o recente aumento salarial que me foi concedido, sou um pária, com uma sensação crescente de “despertencimento” à Instituição.
Mas com a
indenização que vou pedir...vou me dar bem.
Jorge
Alberto Forrer Garcia
Coronel
Reformado
Curitiba/PR
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