* Sergio Augusto de Avellar Coutinho *
General e Escritor
Se os
verdadeiros objetivos da abertura dos arquivos da ditadura fossem mesmo o
consolo das famílias dos mortos e desaparecidos e o resgate da verdade para
virar, de uma vez por todas, esta página negra da nossa história, como
argumentam raivosas as esquerdas de todas as tendências, as revelações seriam
frustrantes; pior ainda, seriam um tiro no pé. O que vão encontrar são os crimes
que cada um dos heróis terroristas, muito deles hoje em altos cargos do governo
e da administração pública praticou, incluindo detalhes cruéis e nomes das suas
vítimas. As esquerdas sabem disto, o ministro da Justiça sabe disto, as famílias
sabem disto, todos sabem disto.
Tanto que criaram uma comissão para apreciar o conteúdo dos arquivos e fazer a censura para
preservar o sigilo do que poderá ofender a
memória dos epigrafados e a sensibilidade dos seus familiares. Manipulação
porque já sabem tudo que os arquivos militares contêm. Já têm conhecimento do
acervo dos extintos Serviço Nacional de Informações
(SNI),
Delegacias da
Ordem Pública e Social (DOPS) dos Estados e das Divisões de Segurança e
Informações (DSI) dos Ministérios, já aberto e fuçado por pesquisadores
engajados, atrás de papéis reveladores dos horrores da "ditadura".
Até hoje, por
razões óbvias, nada foi divulgado como revelação histórica ou como denúncia.
Tudo porque lá encontraram contados os crimes de subversivos, terroristas e
corruptos, daqueles que hoje se arrogam
de revisores da
História e de heróis defensores da democracia.
Portanto, as
razões tão arrogantemente alegadas para abertura dos arquivos mitares são
mentirosas. Além do revanchismo, há uma causa revolucionária pragmática que está
no contexto da neutralização das trincheiras da burguesia: domesticar as Forças
Armadas, inibindo-as, intimidando- as e desmoralizando-as perante a sociedade
nacional. É preciso anular qualquer possibilidade de que venham a ser novamente
baluarte da democracia. Que não repitam 1964, impedindo um futuro assalto ao
Poder por alguma das tendências revolucionárias existente e ativa no desfecho da
transição para o socialismo em curso em nosso País.
O processo de
domestificação das Forças Armadas não ficará certamente na abertura inócua dos
arquivos e na sua transferência para os cuidados de uma autoridade mais
confiável, o ministro da Justiça.
Novas reformas
democráticas. poderão ainda vir: reformulação do sistema de inteligência
militar; reforma da destinação constitucional das Forças Armadas; revisão dos
regulamentos disciplinares; revisão da Lei de Anistia; democratização das
escolas militares de formação de quadros e do treinamento dos
recrutas.
Embora
despercebido pelas aparências da prática democrática, um movimento
revolucionário da esquerda está em curso no Brasil. Só as pessoas de muito
boa-fé não percebem isto. O momento que vivemos é ainda de correlação de forças políticas. Por isto, só
os políticos e as organizações e partidos liberais democráticos poderão deter a
marcha das esquerdas para o socialismo monocrático e opressor. Os brasileiros esclarecidos e responsáveis não podem ignorar o que
está efetivamente acontecendo e devem iniciar a resistência política e
ideológica enquanto é tempo.
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