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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Abrindo os Arquivos da Ditadura

* Sergio Augusto de Avellar Coutinho * General e Escritor
Se os verdadeiros objetivos da abertura dos arquivos da ditadura fossem mesmo o consolo das famílias dos mortos e desaparecidos e o resgate da verdade para virar, de uma vez por todas, esta página negra da nossa história, como argumentam raivosas as esquerdas de todas as tendências, as revelações seriam frustrantes; pior ainda, seriam um tiro no pé. O que vão encontrar são os crimes que cada um dos heróis terroristas, muito deles hoje em altos cargos do governo e da administração pública praticou, incluindo detalhes cruéis e nomes das suas vítimas. As esquerdas sabem disto, o ministro da Justiça sabe disto, as famílias sabem disto, todos sabem disto.
Tanto que criaram uma comissão para apreciar o conteúdo dos arquivos e fazer a censura para preservar o sigilo do que poderá ofender a memória dos epigrafados e a sensibilidade dos seus familiares. Manipulação porque já sabem tudo que os arquivos militares contêm. Já têm conhecimento do acervo dos extintos Serviço Nacional de Informações (SNI),
Delegacias da Ordem Pública e Social (DOPS) dos Estados e das Divisões de Segurança e Informações (DSI) dos Ministérios, já aberto e fuçado por pesquisadores engajados, atrás de papéis reveladores dos horrores da "ditadura".
Até hoje, por razões óbvias, nada foi divulgado como revelação histórica ou como denúncia. Tudo porque lá encontraram contados os crimes de subversivos, terroristas e corruptos, daqueles que hoje se arrogam
de revisores da História e de heróis defensores da democracia.
Portanto, as razões tão arrogantemente alegadas para abertura dos arquivos  mitares são mentirosas. Além do revanchismo, há uma causa revolucionária pragmática que está no contexto da neutralização das trincheiras da burguesia: domesticar as Forças Armadas, inibindo-as, intimidando- as e desmoralizando-as perante a sociedade nacional. É preciso anular qualquer possibilidade de que venham a ser novamente baluarte da democracia. Que não repitam 1964, impedindo um futuro assalto ao Poder por alguma das tendências revolucionárias existente e ativa no desfecho da transição para o socialismo em curso em nosso País.
O processo de domestificação das Forças Armadas não ficará certamente na abertura inócua dos arquivos e na sua transferência para os cuidados de uma autoridade mais confiável, o ministro da Justiça.
Novas reformas democráticas. poderão ainda vir: reformulação do sistema de inteligência militar; reforma da destinação constitucional das Forças Armadas; revisão dos regulamentos disciplinares; revisão da Lei de Anistia; democratização das escolas militares de formação de quadros e do treinamento dos recrutas.
Embora despercebido pelas aparências da prática democrática, um movimento revolucionário da esquerda está em curso no Brasil. Só as pessoas de muito boa-fé não percebem isto. O momento que vivemos é ainda de correlação de forças políticas. Por isto, só os políticos e as organizações e partidos liberais democráticos poderão deter a marcha das esquerdas para o socialismo monocrático e opressor. Os brasileiros esclarecidos e responsáveis não podem ignorar o que está efetivamente acontecendo e devem iniciar a resistência política e ideológica enquanto é tempo.

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