* Sérgio Paulo Muniz Costa
Da saudosa Tijuca, lembro os tempos de
menino em que eu e meus amigos nos revezávamos para reabastecer os cantis de
água dos soldados do Batalhão de Polícia do Exército (PE) que descansavam à beira das calçadas da
Avenida Maracanã no último alto do percurso de retorno ao seu quartel nas
marchas a pé. Eram tempos não estranhos, em que se podia ir ao cinema, às
compras, aos bares ou cafés da Saens Peña sem medo de ser assaltado, em que as
crianças brincavam na rua, em que jovens e boêmios voltavam dos bailes, festas
ou rodas de samba despreocupados.
Vinte anos depois, ao voltar a morar na
Tijuca, descobri que muita coisa tinha mudado. O pique não era mais uma
brincadeira, mas um jogo real de finta e esconde-esconde que as crianças tinham
que jogar para não serem roubadas na volta para casa. Assaltos se anunciavam à
distância, perante dezenas de pessoas, à luz do dia, nos melhores lugares do
bairro, sem causar a menor reação. Palavras e sentidos foram alterados. Agora, bandidos
faziam arrastões e eram eles, e não a polícia ou o exército, que interditavam
ruas e dispunham de munição para iluminarem as encostas dos morros com
projéteis traçantes com que demarcavam seus territórios.
Nesses tempos estranhos, a PE continuava
na Barão de Mesquita, realizando exercícios na Praça Saens Peña para ajudar, dentro de suas atribuições, a
instilar algum respeito às pessoas, à vida, à propriedade, ao trabalho, à lei e
à ordem que bandidos, contraventores e autoridades haviam implodido, todos
mancomunados no mais criminoso dos
populismos. Tempos em que a sociedade perdeu a noção do que era bom ou ruim para ela. Tempos em que
os palcos cantaram as armas do crime, para deleite das plateias, e os
apologistas da droga vaiavam a PE nas praias da cidade. Tempos que, no entanto,
não fizeram seus soldados deixar de cantar suas canções de soldado nas corridas
com que animavam um colorido verde-oliva pelas ruas da Tijuca.
Hoje, pode-se dizer que há algo realmente
muito errado no país, não só no Rio de Janeiro, a começar com os militantes dos
direitos humanos que se arrogam a ditar rumos à sociedade. Se saíssem da clausura do seu sectarismo eles
poderiam enxergar a disseminação incontrolável da violência numa sociedade que
assistiu a triplicação das mortes de seus jovens como se estivéssemos em tempos
de guerra. Quem sabe escutassem a mensagem embutida nos aplausos de jovens a cenas
cinematográficas de tortura e no crescente apoio da população à pena de morte e
às formas ilegais e brutais de combate aos criminosos, como se vivêssemos
tempos de insanidade coletiva.
Politica de direitos humanos não pode ser
ferramenta ideológica, muito menos eleitoreira. Se assim for ela será veículo
da mentira, adjetivará a justiça, imporá a verdade única, calará o dissenso, desequilibrará
a democracia e se alienará da realidade enfrentada pela sociedade brasileira
que precisa ser urgentemente resgatada do seu dia a dia de violência. Como o Batalhão da PE na Tijuca, o Exército
está onde sempre esteve, ao lado da lei e da ordem, em defesa do Brasil, jamais
como concubina do mal feito.
Seus soldados não cantam em vão e não
correm sós. Em todos os tempos, quando eles passam, estão com eles os corações
dos brasileiros que não perdem a esperança de um país melhor
*
Historiador. Foi um feliz morador da Tijuca e aluno de D. Alice e de D.
Mariazinha na Escola Pública Benedito Ottoni, entre 1961 e 1963.
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