19/05/2012
às 16:48CAMPANHA PATRIÓTICA: “Conta tudo, Cavendish”. Ou: Os recados que o empresário mandou a políticos e a outras empreiteiras
Temos de dar início a uma campanha de natureza patriótica. Ela pode ser assim sintetizada: “Conta tudo, Cavendish!”.
Estou me referindo, claro!, a Fernando Cavendish, o dono da construtora Delta. O que parecia ser, inicialmente, um caso grave de associação de um político — Demóstenes Torres — com um contraventor — Carlinhos Cachoeira — está se revelando uma das mais fabulosas arquiteturas jamais descobertas de:
a) financiamento ilegal de campanha:
b) superfaturamento de obra;
c) compra — pura e simples — de parlamentares;
d) pagamento de propina.
a) financiamento ilegal de campanha:
b) superfaturamento de obra;
c) compra — pura e simples — de parlamentares;
d) pagamento de propina.
A teia é extensa, intricada e cobre praticamente todo o território nacional, nas três esferas de administração: municipal, estadual e federal — nesta, em particular, há contratos de R$ 4 bilhões. Depois que José Dirceu — apontado pela Procuradoria Geral da República como o “chefe da quadrilha do mensalão” — prestou consultoria à Delta, a empresa teve um crescimento espetacular. Em parceria com Cachoeira (ainda não se conhecem detalhes dessa associação), tem-se uma certeza: o esquema é ecumênico, suprapartidário.
Lula e a ala mensaleira (ou a seu serviço) do PT imaginaram, inicialmente, que uma “CPI do Cachoeira” — E ELA É NECESSÁRIA, SIM, SE TRABALHAR DIREITO — reunia elementos para destruir a oposição, macular figuras do Supremo, pôr sob suspeita a Procuradoria Geral da República e intimidar a imprensa. Jornalistas que faziam o seu trabalho de apuração dos fatos ou tiveram conversas grampeadas ou seus nomes citados pelo contraventor e auxiliares. Foi o bastante para criar o mito, a farsa, a escandalosa falácia, de que o jornalismo estaria envolvido com o crime.
A VERDADE E OS RECADOS
Não! O jornalismo, felizmente, estava e está limpo nessa história! Mas o establishment político se mostra gravemente comprometido com o esquema Delta-Cachoeira. E está ocorrendo o óbvio: manobras, das mais escancaradas às mais sutis, estão em curso para limitar o poder explosivo que, descobriu-se, tem a CPI.
Não! O jornalismo, felizmente, estava e está limpo nessa história! Mas o establishment político se mostra gravemente comprometido com o esquema Delta-Cachoeira. E está ocorrendo o óbvio: manobras, das mais escancaradas às mais sutis, estão em curso para limitar o poder explosivo que, descobriu-se, tem a CPI.
Cavendish não é do tipo dado a rompantes, mas mandou seus recados por intermédio de interlocutores. Reportagem de VEJA desta semana, de Otávio Cabral e Daniel Pereira, trata do assunto. Leiam um trecho. Volto em seguida.
(…)
Nos bastidores, Cavendish tem falado. E muito. Ele usou interlocutores de sua confiança para divulgar suas mensagens. Uma delas foi endereçada aos políticos. Seus soldados espalharam a versão de que a empreiteira destinou cerca de 100 milhões de reais nos últimos anos para o financiamento de campanhas eleitorais — e que o dinheiro, obviamente, percorreu o bom e velho escaninho dos “recursos não contabilizados”. Uma informação preciosa dessas deveria excitar o ânimo investigativo da CPI do Cachoeira. Os mensageiros de Cavendish também procuraram solidariedade na iniciativa privada. A arma foi ressaltar que o caixa dois da Delta, que serviu para financiar campanhas, segue um modelo idêntico ao de outras empreiteiras, inclusive usando os mesmos parceiros para forjar serviços e notas fiscais frias. A mensagem é: se atingida de morte, a Delta reagiria alvejando gente graúda. Como o navio nazista Bismarck, a Delta afundaria atirando. Faria, assim, um bem enorme ao interesse coletivo, mas seria mortal aos interesses privados. Os mensageiros de Cavendish têm espalhado que a mesma empresa fornecedora de notas frias da qual sua construtora se servia abastecia outras duas grandes empreiteiras.
(…)
Lula patrocinou a criação da CPI do Cachoeira ao considerá-la uma oportunidade de desqualificar instituições que descobriram, divulgaram e investigaram o esquema do mensalão, como a imprensa, o Ministério Público, o Judiciário e a oposição. Logo após a abertura da CPI, Fernando Cavendish passou a negociar a empresa com o grupo J&F, cujos donos eram parceiros preferenciais do governo Lula. A venda foi orquestrada pelo ex-presidente. O papel de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central nos oito anos de mandato do petista e atual CEO do J&F, na manobra ainda não está claro. Meirelles não comenta, mas sabe-se que ele, desde os tempos de BC, não assina nada que não tenha a chancela de seus advogados particulares.
Nos bastidores, Cavendish tem falado. E muito. Ele usou interlocutores de sua confiança para divulgar suas mensagens. Uma delas foi endereçada aos políticos. Seus soldados espalharam a versão de que a empreiteira destinou cerca de 100 milhões de reais nos últimos anos para o financiamento de campanhas eleitorais — e que o dinheiro, obviamente, percorreu o bom e velho escaninho dos “recursos não contabilizados”. Uma informação preciosa dessas deveria excitar o ânimo investigativo da CPI do Cachoeira. Os mensageiros de Cavendish também procuraram solidariedade na iniciativa privada. A arma foi ressaltar que o caixa dois da Delta, que serviu para financiar campanhas, segue um modelo idêntico ao de outras empreiteiras, inclusive usando os mesmos parceiros para forjar serviços e notas fiscais frias. A mensagem é: se atingida de morte, a Delta reagiria alvejando gente graúda. Como o navio nazista Bismarck, a Delta afundaria atirando. Faria, assim, um bem enorme ao interesse coletivo, mas seria mortal aos interesses privados. Os mensageiros de Cavendish têm espalhado que a mesma empresa fornecedora de notas frias da qual sua construtora se servia abastecia outras duas grandes empreiteiras.
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Lula patrocinou a criação da CPI do Cachoeira ao considerá-la uma oportunidade de desqualificar instituições que descobriram, divulgaram e investigaram o esquema do mensalão, como a imprensa, o Ministério Público, o Judiciário e a oposição. Logo após a abertura da CPI, Fernando Cavendish passou a negociar a empresa com o grupo J&F, cujos donos eram parceiros preferenciais do governo Lula. A venda foi orquestrada pelo ex-presidente. O papel de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central nos oito anos de mandato do petista e atual CEO do J&F, na manobra ainda não está claro. Meirelles não comenta, mas sabe-se que ele, desde os tempos de BC, não assina nada que não tenha a chancela de seus advogados particulares.
O J&F tem 35% de suas ações nas mãos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mais que isso. Tomou emprestados mais de 6 bilhões de reais no banco. É, portanto, uma empresa semiestatal. Por meio de assessores, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que seu governo não apoia a encampação da Delta pelo grupo J&F. A contrariedade de Dilma foi explicitada pela decisão das estatais de tirar a Delta de obras do Dnit e da Petrobras. Dilma determinou à Controladoria-Geral da União (CGU) que declare a empreiteira inidônea e, portanto, proibida de fechar contratos com a União. “O governo fará tudo o que estiver a seu alcance para esse negócio não sair”, diz um auxiliar da presidente.
(…)
Leia a íntegra na revista e veja quadro com os negócios da Delta Brasil afora.
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Leia a íntegra na revista e veja quadro com os negócios da Delta Brasil afora.
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