Aileda de Mattos Oliveira*
Quem
se movimenta em torno do epicentro do Executivo sempre é atingido pelas
emanações hipnóticas do Poder. Contudo, deixam-se envolver os que já
eram propensos ao desvio de reta e flexíveis às seduções de cargos e
funções.
“Movimentar-se
em torno” não significa aderir, prostrar-se, anular-se. Mas a terrível
fonte de atração é inebriante, superior às forças de reação, se é que
haja vontade de reagir. As consequências não se fazem esperar e já vêm
com o rótulo adequado às novas circunstâncias: ‘Sujeição’.
O
que não se admitia acontecesse, mas infelizmente é uma verdade que se
constata com frequência indesejável, são representantes das Forças
deixarem de “circular em torno” para penetrarem no círculo e nele
alimentarem-se do tal “senso comum”.
Lamenta
a parte escrupulosa da sociedade que essa cooptação tenha atingido
alguns, mais do que se admitia, deixando-a decepcionada pela deserção
aos juramentos anteriormente assumidos, de manterem-se, unicamente, em
defesa do Estado Brasileiro e não de partidos políticos de cores
antinacionais. Esta parcela íntegra da sociedade ainda deseja crer, a
todo custo, que a transparente acomodação seja uma oculta manobra
estratégica. Mas isto é uma ilusão.
É
um enganar-se para não sofrer. Coisas de masoquistas. Enquanto isso, a
Instituição Militar continua a ser vilipendiada pelos que atentaram
contra os quartéis, e, no entanto, hoje, dominam o ministério da
antidefesa, recebem medalhas designadas com os nomes ou as qualidades
dos heróis nacionais, num enxovalhamento, total, da simbologia da
militar. Que valor terão elas agora? Que alguém probo, com serviços
prestados à Nação vai querer recebê-las e levá-las ao peito, e
igualar-se, por baixo, aos réprobos nacionais?
Antes,
desejava-se que os militares viessem a público expressar a posição da
caserna sobre tantos fatos criados, unicamente, para humilhá-los. Houve
tempo em que se indagava a razão do incomodativo silêncio, quando as
ações revanchistas iniciaram, com o furor da ignorância, como é
característico aos sectários da seita, por caberem, justamente aos
militares, a manutenção da integridade do Estado, em benefício mesmo da
própria presidente inoperante, mesmo sendo ela uma fraude, mesmo tendo
ela um histórico a lamentar. São paradoxos da tal democracia, hipócrita
forma de governo, pelo menos, no Brasil.
Agora,
chega-se à conclusão de que os militares realmente devem calar-se;
emudecer-se; silenciar-se. Por quê? Porque já não têm nada a dizer.
Recebem de quem jamais poderia presidir a Nação ordens nervosas,
desequilibradas, para apagarem da memória o inesquecível 31 de Março e
outras efemérides tradicionais, de grande peso cívico, e continuam a
manter-se num mutismo incompreensível, omitindo-se, deixando perder-se
no ‘não dizer’ a resposta merecida, mas dura, à descabida provocação de
quem tem contas a ajustar, primeiro, com a sua própria consciência.
Nesse caso, fiquem como estão: calados.
Se
a comandante em chefe diz não ter do que se arrepender do seu passado
negro, como têm que renegar o seu, construído dentro dos deveres
castrenses, os que cumpriram e cumprem as leis constitucionais em defesa
do regime e da unidade nacional, leis que a estão beneficiando?
No
silêncio, pelo menos, pode-se imaginar que estão a refletir
ponderadamente sobre a situação, a fim de melhor solucioná-la, mas
também pode levar a que se pense que nada mais há a fazer. Pelo menos,
no idealismo da sociedade pensante, há a possibilidade de se optar pela
primeira hipótese, a fim de manter acesas as esperanças e não deixar-se
levar pelo fatalismo típico dos defensores da instituição do regime
macunaímico, o regime da presidente. Neste último caso, fechar-se-ia a
cortina desse teatro da falsa república e surgiria a República
Democrática dos Farsantes.
Antes
que alguém critique a crítica, afirma-se, aqui, que liberdade de
criticar tem quem mais defende o criticado e a autora destas palavras ‑
indignada com os atos próprios de energúmenos, de vandalismo verbal e
físico, de predadores da história brasileira, iconoclastas de heróis
febianos ‑ está entre os mais constantes defensores das Forças Armadas.
Recebam
estas ressalvas, caros militares da Ativa, como resultantes do
desapontamento, mais um, se não prevalecessem o egoísmo e a avidez dos
cargos. Agradecida ficará esta articulista com aqueles que compreenderem
este desabafo e, em pensamento, responderem com uma simbólica
continência, se acharem que a merece.
(*Prof.ª Dr.ª em Língua Portuguesa. Articulista do Jornal Inconfidência. Membro da Academia Brasileira de Defesa. A opinião expressa é particular da autora.)
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