Realmente, as coisas não vão bem,
mas fruto da eterna desunião que existe entre os componentes do EB. Começa
com a separação estatutária entre oficiais e praças, hoje bastante
acirrada, inclusive com a tentativa de organização de sindicatos. Tudo,
falta de capacidade de comando e de medo da idéia errada de que deva
existir ampla defesa e contraditório em tudo.
É interessante que se faça uma reflexão sobre o que é ser comandante na
Infantaria de Sampaio. Existem comandantes de diversos níveis, a começar
pelo “cabo”, que pode ser comandante de esquadra, ou de peça, após
realização de curso; o terceiro sargento exerce um comando mais
importante, o de comandante de Grupo de Combate, ou de seção, preparado na
Escola de Sargento das Armas; o tenente comanda pelotão, habilitado pelo
curso da Academia Militar das Agulhas Negras; o capitão comanda a
subunidade, já com um efetivo de mais de uma centena de militares; o
coronel comanda a unidade, após um curso de aperfeiçoamento realizado na
Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e o general comanda as Grande
Unidades, ou Grandes Comandos, após ter realizado curso na Escola de
Comando e Estado Maior do Exército.
No caso dos oficiais, considere-se que a evolução processa-se ao longo de
anos, não só pelo preparo adquirido em cursos, mas, também, pela
observação dos diversos comandantes que passam pela nossa vida
profissional, alguns dando bons exemplos e outros, nem tanto, mas sempre
acatando a decisão do comandante – isto é básico, ou pelo menos
foi!
Não se pode aceitar passivamente que um qualquer que caia de pára-quedas
na estrutura de comando, seja aceito como preparado para integrá-la. A
Constituição Federal e Lei Complementar deram ao Presidente da República o
título de Comandante em Chefe das Forças Armadas. Isto poderia funcionar
quando o mesmo dispunha, junto de si, os ministros militares a
assessorá-lo; o Ministro da Defesa, que tem até vestido farda e criou
insígnias que o definam como militar, não tem nenhum preparo de comando e
o faz intuitivamente, contando, ou não, com a assessoria militar, ou
“genuinamente” civil.
Tudo é cópia mal feita da estrutura de defesa dos Estados Unidos, onde a
Secretaria de Defesa é um órgão essencialmente político, assim como os
secretários das cinco forças armadas americanas são civis e tratam,
apenas, do aspecto político das forças. A estrutura militar está ligada ao
chefe do estado maior conjunto e os comandantes de teatros de operações
ligam-se diretamente ao presidente da república.
A criação do ministério da defesa no Brasil deu-se por pressão americana.
Quando fui chefe da Delegação do Brasil na Junta Interamericana de Defesa,
por várias vezes, recebi convite para eventos internacionais dirigido ao
ministro da defesa do Brasil. Em todas elas restituí o convite informando
que se desejassem a presença do estamento militar brasileiro, deveriam
enviar quatro convites: ao Chefe do EMFA, ao Cmt da Marinha, ao Cmt do
Exército e ao Cmt da Aeronáutica. Isto se passou no governo do Presidente
Itamar Franco. A partir daí, prevaleceu a vontade
yankee.
É de estranhar o episódio recente atribuído aos Clubes Militares e a
estrutura política do poder executivo brasileiro. O Clube Militar,
que nem é destinado aos militares do Exército, mas sim aos das três forças
e a civis, é um entidade civil, pessoa jurídica que não é vinculada a
nenhuma das três Forças Armadas e não recebe nenhum valor do orçamento da
União para sustentar-se. Logo, por que deveria receber ordem do presidente
da república, do ministro da defesa, ou mesmo, do Comandante do Exército.
Admito que pudesse ter havido um acordo entre amigos, pois o Presidente do
Clube Militar e o Comandante do Exército são generais da mesma safra,
quase companheiros de turma.
Também sou amigo e admirador do Comandante do Exército, mas nem por isso
eu deixaria de discutir com ele a conveniência da tomada da atitude de
recuar. Não haveria cabimento para tal. Se a nota dos clubes militares
desagradou ao presidente da república e a seu ministro da defesa, também
são inúmeras as atitudes, o descaso, a legislação revanchista por eles
levada adiante, sem que os clubes militares impusessem um
recuo.
Costumo dizer que quem muito abaixa as calças mostra a cueca, ou a
calcinha. Não posso admitir que a alta estrutura de comando do Exército
deixe de lado a disciplina, ou a hierarquia, mas permitir que qualquer
civil de passado não muito recomendável, venha humilhar o Exército,
empregando-o como polícia militar, fazendo com que a Força Armada agora
passe a ser força auxiliar das polícias militares estaduais, ou que
inverta a hierarquia permitindo que os soldos de determinados militares
estaduais sejam infinitamente superiores aos dos militares do
Exército.
Não quero revolução, mas exijo respeito, ainda que tenha de impô-lo pela
força. Não me acusem de estar falando por estar imune às sanções
disciplinares, de acordo com lei de 1986. Posso falar de política, posso
combater ideologias e posso e devo defender a minha Instituição e meus
antigos subordinados. Não me acusem de covardia, porque nunca me apeguei a
cargos e sempre coloquei minha cabeça a prêmio na Extinta Diretoria
Patrimonial de Brasília, no comando da 23ª Brigada de Infantaria de Selva,
no comando da Guarnição da Vila Militar, no Departamento Geral do Pessoal
e no Comando Militar da Amazônia. No Superior Tribunal Militar, do qual
fui ministro, sempre julguei à luz da Lei do Serviço Militar e de seu
regulamento, visando guardar a Instituição dos maus militares. Se falhei
algumas vezes, faz parte da minha condição de ser
humano.
Diz-se que vingança é um prato que se come frio. Se há espírito de
vingança de um lado, por que não partir também para a vingança em igual ou
maior intensidade. Quem tem o telhado mais
vulnerável?
Insisto que devamos nos unir, se possível, oficiais e praças, da ativa e
da reserva, mesmo da reserva de segunda classe, não para derrubar nenhum
governo que o povo quis para si, mas para prestigiar a estrutura de
comando militar e fazer sentir que atacado o comandante, atacados
estaremos todos.
Não permitamos que os militares sejam tratados como cidadãos de segunda
classe, que só são valorizados quando há que se construir estradas onde
não seja compensador para as empreiteiras, ou para levar desaforo de
bandidos ocupantes dos morros cariocas, ou ainda, para ocupar o subalterno
lugar de grevistas impunes.
Valdesio Guilherme de
Figueiredo
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