Prof. Marcos
Coimbra (*)
A esquizofrenia caracteriza-se por um severo transtorno do funcionamento
cerebral. Adaptando este conceito a um sistema, seja ele qual for, podemos então
classificar como esquizofrênico qualquer comportamento de grave atipicidade,
incapaz de ser compreendido racionalmente, causador de atitudes inexplicáveis, a
luz da razão.
No âmbito
internacional, verificamos tal ocorrência nos recentes acontecimentos relativos
às Ilhas Malvinas. Antes de tudo, reforçamos nossa opinião no sentido de
reconhecer sua legítima propriedade por parte da Argentina, como já exposto em
vários artigos e entrevistas de nossa lavra. Contudo, causa-nos espécie a
estratégia usada pela atual presidente argentina com o objetivo de concretização
da justa aspiração. Isto por que ela tem feito pronunciamentos contundentes
neste sentido, sabedora de que a Inglaterra não possui mais condições de envio
de uma esquadra capaz de recuperar sua posse, conforme ocorrido em 1982, devido
à gravidade da crise européia. Porém, ela parece acreditar no sucesso via
negociações bilaterais, o que já foi rechaçado com contundência pelos ingleses.
Ora, caso as sucessivas administrações argentinas, nos
últimos vinte anos, em especial a da família Kirchner, tivesse investido
adequadamente na modernização de suas Forças Armadas, na manutenção de um mínimo
capaz de elevar seu poder de fogo operacional, na evolução dos seus recursos
humanos, principalmente no moral dos seus soldados, prestigiando-os, ao invés de
procurar, diuturnamente, minimizar sua relevância, adotando políticas
revanchistas, levando-os à humilhação pública, a presidente teria melhores
condições de consecução de seus anseios. O efeito dissuasório de Forças Armadas
poderosas, bem preparadas, dotadas de capacidade bélica convencional, dominando
tecnologias de ponta nas áreas nuclear e de veículos lançadores de satélites
(VLS) permitiria um peso muito maior na mesa de negociações. Infelizmente, isto
não existe.
E preocupa-nos o chamado “Efeito Orloff”, ou seja, “A
Argentina é o Brasil de amanhã”. Nas várias expressões do Poder Nacional, desde
a econômica até a militar, tal tem ocorrido nos últimos tempos, apesar da
diversidade cultural e de contextos diferentes. A deliberada política de
fragilização de nossas Forças Armadas, em especial ao longo dos últimos 17 anos,
atingiu um perigoso ponto de não retorno. Não existe dúvida de que foi planejada
cuidadosamente e está sendo implementada passo a passo, meticulosamente, por
ordens do exterior.
De início, a criação do ministério da Defesa, por
imposição externa, com a progressiva expulsão dos chefes militares do centro
nacional de decisões. A seguir, as inaceitáveis nomeações de ministros sem a
mínima qualificação, de diversos tipos, para o cargo. A asfixia orçamentária,
originando o perigoso sucateamento de nossas Forças Armadas. Os ridículos
proventos pagos aos profissionais da área, principalmente em comparação com as
demais carreiras de Estado, ocasionando elevado nível de evasão e de
desinteresse pela carreira. A persistente campanha de ataque às Forças Armadas,
a pretexto de fatos passados e já resolvidos, com a atual administração, como as
anteriores, entrando na armadilha arquitetada pelos “donos do mundo”, para
diminuir nossa coesão social, a fim de facilitar-lhes o domínio de nossas
riquezas.
O brutal desvirtuamento de sua função constitucional,
levando nossos soldados a cumprir missões incompatíveis com sua destinação
constitucional. Como exemplos flagrantes a ocupação de “comunidades” no Rio de
Janeiro, que deveriam ser breves e acabam perpetuando-se, e sua convocação
freqüente para exercício das funções de “polícia”, ao arrepio da Constituição.
Exército não é polícia! Afinal, para que criaram a pomposa “força nacional de
segurança”? Ontem o Ceará. Hoje o motim da Bahia. E o pior. Um dos líderes da
atual rebelião afirma que em 2001 a greve teria sido apoiada e financiada por
membros petistas, inclusive pelo atual governador, que chamou o Exército. Amanhã
o Rio de Janeiro? As Forças Armadas somente podem intervir, em caráter
excepcional, com a decretação do “Estado de Defesa” ou “Intervenção no Estado”.
Quando houver conflito com mortes, o que acontecerá? Quem é o
responsável?
A solução principia em pressionar o Executivo e o
Congresso para lutar pelo soerguimento das Forças Armadas. Em investir
pesadamente no soerguimento da indústria bélica do Brasil. A ENGESA, a IMBEL e
outras semelhantes deverão ser recuperadas. A EMBRAER, mantida sob controle
nacional e estimulada. Somente assim teremos um razoável nível de independência
tecnológica na área militar. A FAB conseguiu, em convênio com a Itália, fabricar
o respeitado caça AMX, de características táticas. Existia um projeto de
fabricação de um supersônico em pareceria com a Argentina. Por que não retornar?
A Marinha precisa de submarinos movidos a propulsão nuclear. O Exército
necessita contar com lançadores de mísseis. É vital investir na tecnologia
nuclear e em VLS, para que possamos dominar o processo ao alcance de vários
países do mundo.
Vamos dotar nossas
Forças Armadas de meios que lhes possibilitem defender efetivamente o Brasil,
bem como cumprir suas funções constitucionais. Nenhum país sobrevive sem poder
militar. Quem vai proteger nossas riquezas? A Otan ou a
Unasul?
Correio eletrônico:
mcoimbra@antares.com.br
Página: www.brasilsoberano.com.br (Artigo de
07.02.12-MM).
(*) Membro do Conselho Diretor
do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e da Academia Nacional de
Economia e Autor do livro Brasil Soberano.
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