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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

CLAUSEWITZ, O PLANO SCHLIEFFEN E O PRINCÍPIO DO OBJETIVO



Sérgio Paulo Muniz Costa

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“A aplicação dos princípios de guerra por um comandante está fortemente condicionada a fatores subjetivos de natureza psicológica, sociológica e organizacional. Na educação e treinamento do chefe militar deve ser levada em conta a necessidade de ele ser capaz de identificar a realidade que o cerca em todas as suas nuances.”
        Esta é a conclusão que transmite o autor, em seu estudo sobre a concepção e a aplicação do Plano Schlieffen, modelo clássico de aplicação dos princípios de guerra. 
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INTRODUÇÃO

Os princípios de guerra constituem um esforço de racionalização da conduta das operações militares, sendo estudados nas escolas militares em todo o mundo. Coube a Clausewitz o mérito de identificar esses princípios, a partir do estudo científico que fez da guerra na obra Vom Kriege, ainda que de uma forma menos explícita da que estamos habituados hoje em dia.

Opensamento clausewitiano, embora pouco compreendido na sua dimensão mais importante, a política, influenciou bastante o pensamento estratégico-militar no final do século XIX e início do século XX.

A situação política da Europa no final do século XIX se encaminhava para uma guerra entre a Alemanha e uma coligação franco-russa. Os planejadores militares alemães viram-se num pesadelo, tentando solucionar o problema de como vencer uma coligação mais potente, lutando em duas frentes.

Duas correntes se opunham na solução do problema. A primeira advogava uma vitória decisiva contra o inimigo a oeste e uma atitude defensiva a leste. Vencida a França, a Rússia e a Inglaterra, muito provavelmente, desistiriam de lutar. A segunda defendia uma solução diferente, na forma e no espírito. O inimigo seria contido, quebrando-se-lhe a vontade de lutar. Para tanto, seria conduzida uma defensiva a oeste, contra a França, enquanto a leste uma vigorosa ofensiva destruiria as forças do Tzar, sem perigosos aprofundamentos na imensidão russa. Desgastada a França pelo esforço infrutífero, vencida militarmente a Rússia, não haveria espaço para a entrada da Inglaterra na guerra.

Por razões que não cabe aqui aprofundar, a segunda opção nunca teve muita chance após a queda de Bismarck, e a Alemanha, paulatinamente, encaminhou-se para a busca da solução militar a oeste. Nesse contexto, coube ao Estado Maior Alemão conceber o plano para obter essa vitória.

O PLANO

A concepção do plano era, sem dúvida alguma, brilhante. O Conde Albert von Schlieffen, substituto de Walderseena chefia do Grande Estado-Maior Alemão, foi o homem escolhido pelo destino para conceber a resposta militar à complexa questão.

Asituação estratégica impunha uma série de limitações. A fronteira franco-alemã, com aproximadamente 250 quilômetros, era relativamente pequena. A França fortificara trechos importantes da mesma, deixando a brecha de Trouée de Charmes, entre Toule Épinal, para canalizar os ataques alemães e conduzir suas contra-ofensivas. O ataque frontal era, nessa situação, desaconselhável. Em contrapartida, a área de atrito considerada nessa solução incluía regiões historicamente contestadas e bacias carboníferas, o que exerceria mais tarde uma forte pressão sobre os estrategistas e comandantes de ambos os lados.

Do lado alemão, como já vimos, a solução deveria ser alcançada com uma vitória militar decisiva contra a França. Considerando as condições acima mencionadas, o Conde Schlieffen foi buscar, no estudo da História Militar[1], a inspiração para sua manobra.

Assim ele concebeu um plano segundo o qual uma fraca ala esquerda alemã faria frente, atrairia e fixaria o principal esforço francês na Lorena, enquanto uma forte ala direita invadiria o Luxemburgo e a Bélgica, contornaria Paris e, surpreendendo os exércitos franceses pela retaguarda, os jogaria de encontro às fortificações da fronteira ou Suíça.

Amanobra estava calcada em dois pontos fundamentais. Um era a repartição de forças entre as duas alas, e o outro o papel a ser desempenhado por elas. Liddell Hart criou uma excelente figura para visualizarmos o funcionamento do plano – a de uma porta giratória. Quanto maior o impulso e engajamento do agente sobre um de seus setores, maior a velocidade do outro às suas costas. Com efeito, o plano previa uma ação defensiva à esquerda, considerada até o Reno, provocando um engajamento das forças francesas que impediria sua roçada para oeste. 

Oplano original de Schlieffen previa que fossem empregadas 59 divisões na ala direita e 9 divisões na ala esquerda, numa relação de 15% de poder entre a ala esquerda e direita. De acordo ainda com o “princípio da porta giratória”, quando os franceses estivessem decisivamente engajados nas Ardenas e na Lorena, dois corpos de exército seriam roçados para ala direita, reduzindo a percentagem a 9%[2].

A INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO DE CLAUSEWITZ

Aobra de Clausewitz enfatizou o papel preponderante que o caráter do chefe militar deveria exercer na conduta das operações de guerra. Uma citação pode ilustrar o pensamento clausewitiano em relação a este aspecto:

“Enquanto esses homens estiverem animados de coragem e sua moral for boa, é raro que um comandante tenha que desenvolver uma grande força de vontade para prosseguir o seu objetivo. Mas logo que surgem dificuldades diretas - e elas não podem deixar de produzir-se quando se trata de proezas que saem fora de costume – as coisas já não andam sozinhas como uma máquina bem lubrificada. É a própria máquina que, pelo contrário, começa a oferecer resistência, e a necessidade de a superar exige do chefe uma forca de vontade considerável. Essa resistência não se manifesta, forçosamente, pela desobediência ou pela contradição, ainda que sejam freqüentes em certos indivíduos, mas sim por uma impressão de desmoronamento de todas as forças físicas e morais, pelo espetáculo pungente dos sacrifícios sangrentos, que o comandante tem de superar, primeiro, em si próprio, e seguidamente, em todos os outros que direta ou indiretamente lhe transmitam as suas impressões, as suas sensações, as suas preocupações e as suas aspirações. À medida que as forças dos indivíduos deixam de existir uma após outra, que a sua vontade não é suficiente para suscitar e manter essa força, todo o peso da inércia das massas acaba por incidir, pouco a pouco, sobre a vontade do comandante. O ardor do seu coração e a luz do seu espírito tem de atear incessantemente o ardor da resolução e o brilho da esperança em todos os outros.” [3]

Schlieffen, formado na tradição clausewitiana, concebeu o seu plano apoiado, primordialmente, nessa concepção do papel do chefe militar. Como Görlitz destacou, para que o plano atingisse o seu fim, o chefe que o conduzisse deveria manter-se impassível ante as maiores incertezas e diversões, perseguindo até o fim a sua meta, mesmo que os russos surgissem às portas de Berlim ou os ingleses desembarcassem em Kiel.

Essa confiança ilimitada no chefe militar, aliada à concepção que Schlieffen criou do moderno comandante de batalha - isolado do front numa sofisticada seção de operações, servida por uma infinidade de meios de comunicações, de onde os vários exércitos seriam eficientemente conduzidos – limitou a adequada difusão do plano.

Aconfiança inabalável do comandante levaria à vitória final. Os pólos de dúvidas, insegurança e vacilações não precisavam ser multiplicados. Como diria Von Tappen, chefe da Seção de Operações do Grande Estado-Maior no decorrer da batalha, “os exércitos somente tinham de combater"[4].


Talvez tudo isso explique porque dentre todos os chefes de estado-maior, apenas o do I Exército, Von Khul, estava consciente do plano, e porque a Marinha não tinha ouvido falar nele. Uma batalha terrestre, gigantesca, conduzida por um homem de grande energia, decidiria a questão. Era a procura da batalha na mais alta acepção clausewitiana, que o próprio Clausewitz nunca tornara dogmática no conjunto da sua obra.

OS PRINCÍPIOS DE GUERRA

OPlano Schlieffen é um clássico modelo da aplicação dos princípios de guerra[5].
a. Ofensiva– Os resultados decisivos seriam alcançados pela ação ofensiva, enquanto em outra parte da frente, ao sul, a defensiva cumpriria o papel de aumentar-lhe a eficácia.
b. Massa – O máximo poder de combate estava previsto para ser aplicado no momento e local decisivos.
c. Economia de forças – O mínimo de poder de combate deveria ser aplicado no ponto que não fosse o de esforço, em benefício da obtenção da massa na ala direita.
d. Manobra – A disposição dos meios, inicial e projetada, cientificamente articulada desde a mobilização e concentração ao longo da linha Metz -Mulhouse, garantia a superioridade relativa, levando o inimigo a atacar onde o terreno era favorável à defensiva e atacando onde era favorável à ofensiva.
e. Segurança – Era garantida pela conquista e manutenção da iniciativa num setor onde poderiam advir resultados decisivos, deixando ao inimigo a ilusão da iniciativa no setor onde o terreno limitava as chances de decisão. 
f. Surpresa – Embora o relatório da imprensa alemã tenha alarmado a Bélgica, que aumentou o valor de suas fortificações, o peso da ala direita alemã era o grande fator surpresa, ou seja, a forma do golpe a ser desferido.

Foi, no entanto, a nosso ver, o princípio do objetivo [6]o mais importante na formulação, na distorção e na malfadada aplicação do plano.

Segundo o dogmatismo clausewitiano de Schlieffen, o objetivo seria tenazmente perseguido graças à firmeza, visão e caráter do comandante. O plano subentendia um inabalável prosseguimento da ação planejada, a despeito da ocorrência de inusitadas pressões, acontecimentos e contratempos. Embora alguns autores acusem Schlieffen de não considerar o aspecto da fricção, parece-nos que o entendimento do papel do chefe na dimensão estratégica do plano minimizava esse aspecto.
É fácil deduzirmos que esse plano, baseado num risco calculado de peso, exigia uma permanente e clara priorização do “objetivo” como princípio.

O PLANO DE GUERRA NA OBRA DE CLAUSEWITZ

Mas a influência de Clausewitz no plano Schlieffen não se limitou ao papel do chefe militar. Vejamos alguns trechos do livro \/III - O Plano de Guerra:

“...Continuar a assegurar a posse do nosso próprio país é sempre uma questão que nos toca profundamente, e os danos infligidos ao nosso próprio Estado não podem ser sobrestimados nem por assim dizer neutralizados por aquilo que ganhamos em troca; salvo quando esse ganho promete consideráveis benefícios ou seja, se ele e muito maior.” [7]

"Em conformidade com tudo que foi dito a este respeito até o presente, dois princípios fundamentais abarcarão o conjunto do plano de guerra e determinarão a orientação de todo o resto.
O primeiro é o seguinte, reconduzir o peso da força inimiga a centros de gravidade tão pouco numerosos quanto possível, a um só se for possível; em seguida, limitar o ataque a esses centros de gravidade a um número de empreendimentos principais tão pouco numerosos quanto possível, a um só se for possível; enfim, manter todos os empreendimentos secundários tão subordinados quanto possível.” [8]

"O centro de gravidade da potência francesa reside nas suas forcas armadas e em Paris. Desfazê-lasnuma ou em várias grandes batalhas, conquistar Paris e lançar o resto dos franceses para trás do Loire, tal deve ser o objetivo dos aliados. O ponto fraco da monarquia francesa encontra-se entre Pais e Bruxelas; deste lado a fronteira só está a 30 milhas da capital.” [9]

Oprimeiro trecho, considerado na parte da obra assinalada, tem relação com o risco calculado a ser corrido com o emprego das forcas de cobertura face aos russos a E, e a defensiva, em território alemão, face à ala direita francesa ao S.

Osegundo trecho é a pedra de toque do plano de guerra aconselhado por Clausewitz e, conseqüentemente, a do Plano Schlieffen. É a formulação do princípio do "objetivo" num nível mais elevado, o nível político e estratégico da condução da guerra.

Oterceiro é a inspiração da forma, redigido cem anos antes da I Guerra Mundial, calcada no terreno, e que permaneceria válida até a II Guerra Mundial.

O QUE REALMENTE ACONTECEU

Ochefe de Estado-Maior que substituiu Schlieffen não estava à altura do nome e do antecessor. Sobrinho do lendário Helmuth Von Moltke, fora nomeado pelo imperador para que seu nome inspirasse temor nas nações inimigas. Moltkesabia das suas próprias limitações e julgava-se impotente para a pesada missão. O máximo que ele conseguiu foi terminar com as espalhafatosas cargas de cavalaria do Kaiser nos exercícios táticos.

Tendo recebido o plano de Schlieffen em 1906, ele se viu pressionado pelo peso da responsabilidade decorrente do risco calculado a assumir e pela importância econômica das regiões na área de atrito.

Essas pressões acabaram por levá-lo à desfiguração do plano em 1910, quando elevou os efetivos da ala esquerda, estabelecendo uma relação de 42% entre as alas esquerda e direita. Além disso, estabeleceu um papel ofensivo para a ala esquerda, desfigurando a manobra de Schlieffen.

Ao se iniciar o conflito, outras modificações aconteceram no plano, devido à falta de controle do Alto Comando Alemão. Inicialmente, quando ocorreu a ofensiva francesa na Lorena, Moltke vacilou, pensando numa decisão naquele setor e adiando a ação da ala direita. Quando retomou o plano original, já havia empenhado na ala sul seis divisões que estavam alocadas à ala norte. Em seguida, deslocou duas divisões para a Prússia Oriental, retirando-as da ala direita.

De qualquer forma, embora alterado num aspecto vital – a relação de força entre as alas - o plano foi colocado em movimento. As forças alemãs irromperam pela fronteira e, após a queda Liège, fortaleza chave no sistema de defesa belga, as forças germânicas se espraiaram pelo território belga.

Amodificação da relação de força fez com que a ala esquerda alemã não resistisse à tentação de obter a decisão naquele setor, atacando os franceses na Lorena. A superioridade do efetivo (25 divisões alemãs contra 19 francesas) não foi suficiente para suplantar a discrepância do desdobramento, previsto para uma defensiva, e o contra-ataque conseguiu colocar os franceses a coberto de uma linha fortificada. Isso permitiu posteriormente o desengajamento de um efetivo equivalente a um exército para a ala esquerda francesa, quando Joffre percebeu a manobra alemã. A partir da modificação do papel da ala esquerda alemã, a manobra geral passou a ser um duplo envolvimento, sofrendo nova desfiguração. Tropas que deveriam ser rocadas para a ala direita não o foram.

Aansiedade de Moltke com o relativamente pequeno número de prisioneiros franceses tez com que ele autorizasse outras modificações no plano que, culminando uma série de erros, seriam fatais. A idéia original do desbordamento de Paris por oeste foi abandonada devido ao enfraquecimento da ala direita e ao desgaste provocado pelos grandes deslocamentos, batalhas e sítios. Além disso, o comandante do II Exército alemão, Bullow, solicitou ao I Exército alemão (Kluck) que aproximasse sua força e atacasse o Exército de Lanzerac, que estava sendo perseguido e, por ordem de Joffre, fizera alto para enfrentar o II Exército. Com isso, o I Exército de Kluck passaria a E de Paris deixando o flanco direito exposto à guarnição militar da cidade. Quando essa oportunidade se deu, Joffre ordenou o contra-ataque que forçou nova mudança da frente e, com isso, um vazio entre os I e II Exércitos alemães. Por aí começaram a avançar as colunas britânicas que até então estavam em retirada.

Aatuação do Tenente-Coronel Hentsch como representante de Moltke, nesse momento crítico da batalha nos é bastante útil para analisarmos o papel do chefe militar. Liddell Hart afirma que o Tenente-Coronel Hentsch, chefe da Seção de Informações do Estado-Maior, chegou no dia 3 de Setembro de 1914 ao QG do I Exército com más notícias, falando que os VI e VII Exércitos estavam detidos face a Nancy - Épinal, o IV e V enfrentavam grande resistência, os franceses rocavam tropas da sua ala direita para Paris, os ingleses efetuavam grandes desembarques de tropas no litoral belga e um corpo expedicionário russo se aproximava. No dia 5, Hentsch foi enviado como representante confidencial junto aos I e II Exércitos, a 7, ele enviou uma mensagem a Moltke dizendo que ambos os exércitos estavam fortemente pressionados.

No dia seguinte, 8, Hentsch foi enviado uma segunda vez com ordens precisas que estipulavam que, se fosse "absolutamente necessário” [10]o I Exército se retiraria para a linha Soissons-Fismes, a fim de retomar contato com o II Exército. Hentsch projetou um quadro muito desfavorável da situação do I Exército para Bullow, o comandante do II Exército. No dia seguinte, 9 de setembro, Bullow resolveu ordenar a retirada do II Exército, informando a Kluck. Kluck e seu chefe de estado-maior, Von Khul, discordavam da retirada. Hentsch, que viajara durante todo o dia 9 em melo ao caos da retirada do II Exército, chegou, na noite de 9, ao QG do l Exército e ordenou a Von Khul a retirada do I Exército, valendo-se da grande autoridade de um representante do Estado-Maior sobre o chefe de estado-maior de um comando subordinado. S6 uma personalidade excepcional no comando do I Exército teria condições de arrostar a autoridade de Hentsch e arrastar o II Exército ao combate. O comandante do I Exército nem tinha visto Hentsch e tomou conhecimento da ordem quando ela já tinha sido expedida.

Aimprovisada transformação do papel da ala esquerda redundara em fracasso contra Tour e Épinal. O fracasso da enfraquecida ala direita, depois de uma série de improvisações, colocou fim ao Plano Schlieffen.

A descrição sumária dos acontecimentos permite-nos inúmeras conclusões sobre a cadeia de comando, o desdobramento das tropas alemãs, o controle exercido pelo escalão superior e o papel que certos homens desempenharam acidentalmente na História. No entanto cabe-nos alertar que a descrição não tem essa finalidade. Ela se presta apenas ao entendimento da transfiguração do plano Schlieffen, de maneira geral. Para quaisquer conclusões específicas sobre a batalha do Marne, recomendamos um aprofundamento nas obras de Liddell Hart, J.C. Fuller, Walter Görlitz e respectivas fontes, coincidentes em muitos pontos, mas com inevitáveis divergências sobre qual teria sido o fator preponderante do milagre do Marne.

CONCLUSÃO

Aanálise dos acontecimentos, das influências sobre eles exercidas e de suas conseqüências permite-nos algumas conclusões. Num nível mais elevado, podemos apontar que Schlieffen, fechado no seu hermetismo profissional, não identificou, na conjuntura que o cercava, a impossibilidade de um chefe do Estado-Maior alemão desempenhar, de forma direta, na Alemanha de Guilherme II, o papel que lhe fora reservado no plano, o papel preconizado por Clausewitz, inspirado nas façanhas prussianas da Guerra dos Sete Anos.

O tamanho dos exércitos, a necessidade de grande coordenação entre as suas ações e a estrutura da cadeia de comando eram, só para falarmos das condicionantes militares, as principais diferenças entre os tempos de Schlieffen e Seydlitz. Além disso, havia uma instituição, o Immediatvortrag [11], que gerou um canal paralelo de comando entre os chefes de estado-maior, em detrimento dos comandantes.

Ao conceber detalhada e antecipadamente aquela vasta operação militar, Schlieffen deveria ter efetivado algumas medidas paralelas que garantissem, naquela conjuntura, a irradiação da vontade do chefe militar, através de um eficiente mecanismo de controle, sem que isso significasse, necessariamente, centralização do comando ou cerceamento da iniciativa doa comandos subordinados.

Reconhecemos que algumas dessas medidas poderiam extrapolar a competência do chefe do Estado-Maior no contexto da confusa estrutura político-militar alemã. No entanto, a previsão de grandes comandos enquadrantes de exércitos de campanha teria reduzido o caos na realização do plano.

Foi, portanto, de grande profundidade a observação de Aron ao se referir ao "novo dogmatismo de Schlieffen”. Um plano brilhante, utilizando a forma da ação indireta, tão celebrada por Liddell Hart, colocou a chave do sucesso de uma gigantesca batalha decisiva numa questão inteiramente fora de seus limites - a personalidade do chefe militar que conduziria a operação. Esse dogmatismo impediu a sã aplicação de um plano magnificamente concebido.

Quando chegou o momento de colocar em prática o plano, o problema constituiu-se, em essência, na dicotomia entre o elevado papel reservado ao chefe do Estado-Maior Geral no plano e a estrutura de cadeia de comando para executá-lo, que incluía a personalidade do comandante o mecanismo de controle disponível.

Essa grande diferença poderia ter sido reduzida através de uma consistente explanação do objetivo do plano aos comandantes de exércitos e chefes de estados-maiores, antes da sua execução, uma judiciosa seleção dos encarregados das decisões e um acompanhamento mais cerrado da evolução da situação.

Nada disso, no entanto, substituiria o papel fundamental que um comandante-em-chefe deveria desempenhar. Sobre ele continuariam a pesar enormes responsabilidades, para as quais deveria estar preparado, fosse ele o Kaiser, o Chefe do Estado-Maior, o Ministro da Guerra ou o Chefe de Gabinete Militar. O entendimento do papel do chefe militar, segundo Clausewitz, continuava válido. No entanto, deviam ser garantidas as chances mínimas de ele desempenhá-Io.

Essas chances eram reduzidas pelo enfraquecimento da autoridade dos comandantes em todos os escalões. O plano, cientificamente concebido e executado por técnicos militares, deveria substituir o comandante. Desde os mais altos escalões do Exército alemão não estava muito claro quem realmente comandava. Essa foi, a nosso ver, a causa estrutural do fracasso alemão na batalha que poderia ter decidido a I Guerra Mundial.

Tanto é assim que, se fosse oferecida a um observador imparcial a escolha entre um chefe como Ludendorfe a efetivação das medidas de comando e organizacionais preconizadas por vários historiadores para conduzir as forças germânicas à vitória em 1914, não temos dúvida que a escolha do chefe prevaleceria.

Éinteressante observar que notáveis progressos se fizeram sentir nas forças alemãs em relação a esses aspectos, antes e durante a II Guerra Mundial. Assim, foi criado um Alto Comando das Forças Armadas (OKW), que coordenava as ações das forças singulares; o Immediatvortragfoi definitivamente extinto quando o Estado-Maior foi reorganizado em 1935 e tornou-se corrente o enquadramento dos exércitos de campanha em grupos de exércitos. Finalmente, cabe observar que foram comandantes como Guderian, Mainstein, Rommele não um cientificismo impessoal abrangente que conduziram as tropas alemãs às expressivas vitórias na França, Rússia e África do Norte.

Infelizmente, como essas medidas se deram sob o nazismo e foram o veículo da fusão do Exército alemão com o Estado nazista, elas são analisadas exclusivamente sob o ponto de vista político, não sendo levado em conta que havia forte razões na história militar recente da Alemanha para que fossem(1a para que fossem efetivadas.

Essas conclusões parciais aplicadas ao estudo histórico do Plano Schlieffen nos facultam conclusões importantes aplicáveis à nossa realidade.

Aaplicação dos princípios de guerra por um comandante está fortemente condicionada a fatores de natureza psicológica, sociológica e organizacional. Na educação e treinamento do chefe militar deve ser levada em conta a necessidade de ele ser capaz de identificar a realidade que o cerca em todas as suas nuances.

Desde a concepção do seu plano de operações, atém do aspecto técnico do planejamento, o chefe militar deve avaliar corretamente a estrutura da cadeia de comando a seu dispor, a capacidade dos quadros e da tropa, o papel dos homens-chave e os meios de ligação. Deva perguntar a si mesmo se a própria vontade, amparada na sua concepção do objetivo, poderá ser projetada vertical e horizontalmente nas suas forças dispostas no campo de batalha. Se tudo isso puder ser atendido, aí s1m, “o ardor do seu coração e a luz do seu espírito atearão incessantemente o ardor da resolução e o brilho da esperança em todos os outros".


BIBLIOGRAFIA
ARON, Raymond. Pensar a Guerra, Clausewitz. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986.

CLAUSEWITZ, Carl Vom. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1979.

CRAIG, Gordon. The Politics of the Prussian Army: 1640-1945. London, Oxford, New York: Oxford University Press, 1955.

EME. Instruções Provisórias: Operações. Brasilia, 1973.

FULLER, J.F.C. Les batailles Decisives du Monde Occidental. Vol. 3. Paris: Berger Levrault, 1983.

GÖRLITZ, Walter. O Estado-Maior Alemão: sua história e estrutura 1657 -1945. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1955.

HART, Liddell. As Grandes Guerras da História. 2ª ed. São Paulo: IBRASA, 1967.


NOTAS



[1] Alguns autores, como Gordon Craig e Raymond Aron, apontam a batalha de Canas, travada em 216 a.C., entre romanos, comandados por Paulo e Varro (60 mil homens) e cartagineses, comandados por Aníbal (37 mil homens), que resultou num massacre dos romanos, duplamente envolvidos pela tropa de Aníbal. Fuller, no entanto, indica que a verdadeira inspiração veio do estudo da batalha de Leuthen, travada em 1757 entre tropas prussianas (36 mil homens), sob o comando de Frederico II, e tropa austríaca (70 mil homens), que passou à História como exemplo clássico da aplicação da ordem oblíqua.

[2]A questão dos efetivos das alas no Plano Schlieffen comporta algumas discrepâncias. Liddell Hart fala em 72 divisões, 53 na ata direita, dez para a fixação em Verdun e nove na ala esquerda. Fuller cita 59 divisões na ala norte e nove divisões na ala sul.. Görlitz indica que a proporção de forças da ala esquerda alemã (sul) para a direita (norte) foi alterada de 1/7, conforme previsto no Plano Schlieffen, para 1/3 na execução concebida por Moltke.

[3]  CLAUSEWITZ, Carl Von. “O gênio guerreiro”, in Vom Kriege, 1ª Ed. São Paulo, Martins Fontes Editora, 1979, L I, Cap. III, p. 111.

[4] GÖRLITZ, Walter. “Guerra sem generais”, in O Estado-Maior Alemão, Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1956, Vol. I, Cap. VII, p. 250.

[5] “São preceitos fundamentais que governam a execução da guerra. Sua aplicação adequada é essencial ao exercício do comando e à execução bem sucedida das operações militares. Tais princípios são inter-relacionados e, dependendo das circunstâncias, tendem a se reforçar ou a colidir entre si. Consequentemente, a aplicação de qualquer princípio varia com a situação.” (EME – Instruções Provisórias – Operações – Edição 1973, Cap. 5, Princípios da Guerra e Conceitos Operacionais. Art. I – Generalidades – p. 5-2).

[6] “Toda operação militar deve ser dirigida para um objetivo militar claramente definido, decisivo e atingível. O objetivo militar final da guerra é a destruição do poder de combate da força armada do inimigo. O objetivo de cada operação deve contribuir para este objetivo final. Cada objetivo intermediário deve ser tal que sua conquista permita atingir mais direta, rapida e economicamente a finalidade da operação. A seleção de um objetivo baseia-se na consideração da missão, dos meios disponíveis, do inimigo e da área de operações. O comandante deve compreender e definir claramente seu objetivo, bem como compreender, à luz deste, cada ação a realizar." (EME Instruções Provisórias - Operações - Edição de 1973 – Cap. 5 - Princípios da Guerra e Conceitos Operacionais. Art. II - Princípios da Guerra – Pág. 5-3).

[7]CLAUSEWITZ, Carl Von. "Objetivo limitado. Guerra ofensiva", in Vom Kriege, 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1979. Livro VIII, Cap. IX, Pág. 746.

[8] Ibdem, Cap.IX,  Pág. 753.

[9] Ibdem Pág. 772.

[10] Hentsch não possuía ordens escritas, mas sim verbais e declarou mais tarde: “Le Chef de L´état-major general me donne le pouvoir d´ordonner, si nécessaire, aux cinq armées de se replier de l´autre coté de la Vesle, le long des hauteurs au nort de l´Argonne...On me confia la mission de donner l´ordre de retraite, s´il fallait, aux armées sur la ligne Sainte Menehould – Reims - Fismes – Soissons. On me donna les pleins pouvoirs pour donner du orders au nom du Commandement supreme”. (FULLER, 1983, p. 97).

[11] O Immediatvortrag era o direito do Chefe do Grande Estado-Maior d1r1gir-se, mesmo em tempo de paz, ao Supremo Lorde da Guerra, o Imperador. Foi assegurado através de uma ordem especial do Gabinete Militar em 1883 (v1de o EM Alemão de Walter Görlitz). Esse princípio tornava os chefes de Estados-Maiores responsáveis pelos conselhos que davam aos seus comandantes. Foi uma maneira engenhosa de garantir a condução operacional da guerra pelo profissionalismo do Estado-Maior Geral, personificado no seu chefe. Era um paliativo para a confusão da estrutura político-militar germânica do século XIX.

Edição revista em dezembro de 2012 da publicação original do número 745, setembro-outubro de 1989, A Defesa Nacional, Rio de Janeiro.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Discrepância de critérios



Depois das estridências internacionais dos dois mandatos de Lula, a política externa brasileira adotou um perfil mais discreto. Não era para menos, considerando-se a repercussão do desgaste e dos prejuízos sofridos pelo País com a receita de regionalismo ideológico e de anti-ocidentalismo sistemático ditada pelo PT à diplomacia nacional. Os resultados se afiguram evidentes: o Brasil hoje influi menos na sua área de interesse direto, a América do Sul, e o seu protagonismo internacional definhou.
O que aparece como equívoco da política externa brasileira nos últimos anos advém do abandono das grandes linhas que ela seguia até a ascensão do PT ao poder. Com as questões de fronteiras e geopolíticas do século 19 superadas, o Brasil pôde, após a Segunda Guerra Mundial, orientar sua política externa primordialmente para o desenvolvimento.
As grandes iniciativas do País nesse sentido durante a segunda metade do século 20 aconteceram no locus ampliado da diplomacia de Estado marcada pelo interesse nacional e realismo.
Isso ficou para trás. Porém, a nova política externa do Brasil tem mais a ver com a política interna, na medida em que serve ao objetivo do PT de comandar o governo e controlar o Estado. Em nenhuma área isso é mais evidente do que no campo das relações exteriores, com chanceleres sujeitos à orientação do partido. Em nenhuma área
isso é mais grave do que no campo da defesa nacional, com forças armadas que tiveram as missões constitucionais alteradas em sua essência, agora sujeitas à vontade única do Executivo.
A essa altura já devia ter ficado claro para os analistas que o critério normalmente usado para avaliar o sucesso de uma política externa não se aplica à diplomacia companheira.
Para ela, não se trata de obter e operacionalizar acordos vantajosos ao País nos campos político, econômico e militar, mas sim em aumentar o poder interno do PT e consolidar alianças externas que contribuam para a formatação do ambiente regional segundo seus interesses. Por isso, a política externa do PT segue firme, infensa à crítica do processo político numa sociedade pouco acostumada ao debate sobre defesa e relações internacionais.
Infelizmente, já está claro que essa chocante discrepância de critério se estende a outras expressões da vida nacional, conformando uma preocupante percepção do PT como vanguarda de uma esquerda antissistema que neste momento resiste mal à tentação de afrontar as instituições que não controla. É sempre útil lembrar que o critério de sucesso e fracasso nunca está na letra dos projetos políticos, pois, definitivamente, ele se sujeita à prova da História.
Só é bom para um partido político o que é bom para o Brasil.







Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador. Foi Delegado do Brasil na Junta Interamericana de Defesa, órgão de assessoria da OEA para assuntos de segurança hemisférica.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O fácil, o difícil e o nosso futuro.


   Democracia e capitalismo são processos de solução de conflitos nascidos da prática cotidiana, como apontou Antônio Delfim Netto, em artigo de 1995, na Gazeta Mercantil, a respeito da inescapável vinculação entre a liberdade política e a econômica.
  Hoje, quase duas décadas após os três acontecimentos que assinalaram a retomada do desenvolvimento pelo País – o episódio do impeachment presidencial, o equacionamento da dívida externa e a criação do Plano Real – é tempo de avaliar até onde o Brasil avançou na grande convergência sancionada pela História: capitalismo, democracia e desenvolvimento.
  Embora demonstrada empiricamente, só há pouco tempo essa aliança se tornou evidente e livre de contradições.
  O desenvolvimento, o mais recente parceiro da tríade, foi esgrimido por totalitarismos e autoritarismos, e suscitou enorme fascínio estatista sobre os governos democráticos.
  O alerta veio de um dos expoentes da escola austríaca de economia, Friedrich Hayek, segundo quem a política da liberdade para o indivíduo é a única que de fato conduz ao progresso.
  Os outros dois, capitalismo e democracia, acenderam polêmicas em torno da propriedade e do Estado, do privado e do público, da liberdade e da igualdade. Também aí o curso da História se encarregou de resolver a questão, na medida em que aquilo que ainda incomodava Marx (...) a contradição entre o privado e o público, típica dos estados iniciais da era moderna, foi um fenômeno temporário que trouxe a completa extinção da própria diferença entre as esferas privada e pública, a submissão de ambas na esfera social" (Hannah Arendt).
  José Guilherme Merquior encontrou em Norberto Bobbio a convicção de que a "teoria liberal do Estado limitado – limitado ao mesmo tempo pelas garantias individuais e pelos controles institucionais –era uma barreira não apenas para a monarquia absoluta, mas também para qualquer outra forma de governo". Segundo o próprio Bobbio,"toda democracia genuína é necessariamente uma democracia liberal".
  Foram inteligências desse porte que nos mostraram a conciliação entre liberdade e igualdade, que fez do desenvolvimento a resultante moderna do capitalismo e da democracia. E em Hayek temos a fórmula política dessa convergência: "criar as condições favoráveis ao progresso, ao invés de planejar o progresso".
  Se esse nexo teórico soar inútil a um eu cívico dissipado na egolatria, convém colimar a pessoa que pensa, age e trabalha sempre em função de outras pessoas, qualquer seja sua condição de poder, conhecimento ou riqueza. Por esse viés, a ação humana se reparte entre a certeza e a perspectiva. Na primeira, milita o homem das instituições, do amálgama social, o agente da ordem, o produto do consenso.
  Na segunda, age o homem que cria, inova e questiona, associado à mudança, inerente à incerteza.
  Nossa individualidade acopla esses hemisférios; mas socialmente a prática existencial nos remete a uma ou outra, donde resulta a complementaridade. Mas prevalece a perspectiva –da inovação, da geração de riqueza e da mudança –sobre a certeza.
  Em um mundo globalizado é difícil falar em Estado mínimo. Mas o Estado essencial à sociedade brasileira está sendo inviabilizado pela fórmula do Estado impossível: tudo se quer no Estado e tudo se espera do Estado.
  É imprescindível ao desenvolvimento da sociedade brasileira que ela recupere o ethos da liberdade, para superar as contradições que a História já solucionou.
  A alternativa é ficar à margem da História.
  O difícil é aceitar que essa inflexão depende menos do Estado do que de nós mesmos. 
Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador

EM NOME DA ROSE

Maria Lucia Victor Barbosa
05/12/2012

O julgamento do mensalão trouxe para surpresa de muitos algo surpreendente: pela primeira vez mandachuvas foram condenados. Mais impressionante estar entre eles José Dirceu, o “capitão do time” no primeiro mandado de Lula da Silva e que mesmo tendo perdido o cargo e depois o mandato de deputado federal, graças a Roberto Jefferson, continuou a dispor de enorme poder de mando dentro e fora do PT.
Esse acontecimento inédito se deveu ao relator, ministro Joaquim Barbosa, o que lhe granjeou admiração e respeito de parte da sociedade. Ele foi seguido pela maioria de seus pares, com exceção dos ministros Lewandowski e Toffoli que atuaram como advogados de defesa dos companheiros do PT. Não se pode também deixar de mencionar a atuação firme corajosa do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que se tornou alvo da sanha vingativa do PT.
Com relação ao ministro Joaquim Barbosa se pode imaginar a profunda dor que seu prestígio causou a Lula da Silva. Não só porque ele se sentiu traído, visto que havia nomeado o ministro e pensava que o STF era mais uma de suas capitanias hereditárias, mas, principalmente, porque o descomunal ego do ex-presidente deve ter sido tremendamente abalado diante de alguém que lhe fez sombra entre cidadão esclarecidos.
Como no conto infantil Lula deve ter perguntado ao espelho mágico: “Espelho meu, existe no momento homem mais querido do que eu”? E o espelho respondeu: “Sim, majestade, o ministro Joaquim Barbosa”.
Para ser como gosto, politicamente incorreta, traço um paralelo entre Lula da Silva e o ministro Joaquim Barbosa, completamente diferentes em termos de caráter, sendo sua única semelhança a origem humilde:
Lula da Silva fez questão de continuar iletrado e é um velhaco que tudo conseguiu apenas com muita sorte e lábia. Joaquim Barbosa estudou, trabalhou e se tornou o homem honrado e competente que conseguiu salvar o STF das garras da quadrilha enquistada no Executivo pelo PT. Com relação ao primeiro me envergonho de ser brasileira. O segundo me inspira justo orgulho pelo meu país.
É vergonhoso, por exemplo, observar que o governo foi de tal modo loteado e corrompido por Lula da Silva, via seu então primeiro-ministro, José Dirceu, que volta e meia explode mais um tremendo escândalo de dimensões nunca antes havidas nesse país. Como disse jocosamente José Simão, colunista da Folha de S. Paulo, “escândalo no PT é como caixa de lenços de papel: você puxa um e vem logo três”. “Você nunca consegue puxar um só”.
Assim, enquanto o julgamento vai terminando vem à tona o caso de Rosemary Nóvoa de Noronha, chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, um cabide de emprego e um gabinete das sombras de onde Lula exercia comodamente seu terceiro mandato sem precisar ir à Brasília.
A bancária e sindicalista, Rose, também de muita sorte, trabalhou durante doze anos com o chefe da quadrilha do mensalão, José Dirceu. Neste período, como indica a Operação Porto Seguro da Polícia federal, ela fez um curso completo, com mestrado e doutorado na arte de obter vantagens e indicar trambiqueiros, falsificadores, achacadores, vendedores de facilidades, enfim, companheiros corruptos que passaram a ocupar altos cargos. Nada, porém, Rosemary conseguiria se não fosse sua intimidade com aquele a quem chamava carinhosamente de tio, de Luiz Inácio, de PR.
Em nome da Rose as portas se abriam, não tanto pela “madame”, mas por ordem do “tio” sempre solícito em atender aos pedidos de sua Marquesa de Garanhuns. Os jornais e revistas estão cheios de detalhes das tramoias, das fraudes, das negociatas da Marquesa e de seus protegidos e seria repetitivo enumerá-las. Ressalve-se, porem, a sordidez a que chegaram os labirintos escuros e tortuosos da administração publica.
Lula da Silva anda desaparecido, mas mandou dizer que o seu caso com Rose é assunto particular. Deve até se sentir orgulhoso e se comparar a presidentes que também tiveram amantes. Mas, ao que se sabe, outros presidentes não nomearam nem acobertaram corruptos para satisfazer os desejos de suas outras mulheres.
Se o caso fosse apenas particular Lula poderia ter presenteado Rose com joias caras, carros de luxo, apartamentos suntuosos. Afinal, o “pobre operário” deve estar podendo bancar tudo isso. Mas preferiu mandar a conta para o povo, pois quem paga a corrupção governamental somos nós.
Enquanto não acontece outro escândalo petista um fato importantíssimo não tem tido a relevância que merece. Refiro-me ao fracasso da expansão econômica. A previsão de um PIB, em 2012, que talvez não chegue a 1%, nos coloca de novo na rabeira dos Brics e configura o biênio perdido de Dilma Rousseff. O governo camufla a inflação, altera os dados, falsifica as informações. Inutilmente, pois a realidade acontece, independente da propaganda. E como é pesada a herança maldita de Lula da Silva e de sua sucessora, Dilma Rousseff.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga 
mlucia@sercomtel.com.br                
www.maluvibar.blogspot.com.br 

sábado, 10 de novembro de 2012

CUBA, O INFERNO NO PARAÍSO

Correio do Povo, Porto Alegre (RS)

Juremir Machado da Silva (jornalista gaúcho, da ala da esquerda, que  acompanhou o governador Tarso Genro - linha trotskista - em "visita" a Cuba, não se sabe para quê) 

     Na crônica da semana passada, tentei, pela milésima vez, aderir ao comunismo. Usei todos os chavões que conhecia para justificar o projeto cubano. Não deu certo. Depois de 11 dias na ilha de Fidel Castro, entreguei de novo os pontos.
     O problema do socialismo é sempre o real. Está certo que as utopias são virtuais, o não-lugar, mas tanto problema com a realidade inviabiliza qualquer adesão. Volto chocado: Cuba é uma favela no paraíso caribenho.
     Não fiquei trancado no mundo cinco estrelas do hotel Habana Libre. Fui para a rua. Vi, ouvi e me estarreci. Em 42 anos, Fidel construiu o inferno ao alcance de todos. Em Cuba, até os médicos são miseráveis. Ninguém pode queixar-se de discriminação. É ainda pior. Os cubanos gostam de uma fórmula cristalina: ‘Cuba tem 11 milhões de habitantes e 5 milhões de policiais’. Um policial pode ganhar até quatro vezes mais do que um médico, cujo salário anda em torno de 15 dólares mensais. José, professor de História, e Marcela, sua companheira, moram num cortiço, no Centro de Havana, com mais dez pessoas (em outros chega a 30). Não há mais água encanada. Calorosos e necessitados de tudo, querem ser ouvidos. José tem o dom da síntese: ‘Cuba é uma prisão, um cárcere especial. Aqui já se nasce prisioneiro. E a pena é perpétua. Não podemos viajar e somos vigiados em permanência. Tenho uma vida tripla: nas aulas, minto para os alunos. Faço a apologia da revolução. Fora, sei que vivo um pesadelo. Alívio é arranjar dólares com turistas’. José e Marcela, Ariel e Julia, Paco e Adelaida, entre tantos com quem falamos, pedem tudo: sabão, roupas, livros, dinheiro, papel higiênico, absorventes. Como não podem entrar sozinhos nos hotéis de luxo que dominam Havana, quando convidados por turistas, não perdem tempo: enchem os bolsos de envelopes de açúcar. O sistema de livreta, pelo qual os cubanos recebem do governo uma espécie de cesta básica, garante comida para uma semana. Depois, cada um que se vire. Carne é um produto impensável.
     José e Marcela, ainda assim, quiseram mostrar a casa e servir um almoço de domingo: arroz, feijão e alguns pedaços de fígado de boi. Uma festa. Culpa do embargo norte-americano? Resultado da queda do Leste Europeu? José não vacila: ‘Para quem tem dólares não há embargo. A crise do Leste trouxe um agravamento da situação econômica. Mas, se Cuba é uma ditadura, isso nada tem a ver com o bloqueio’. Cuba tem quatro classes sociais: os altos funcionários do Estado, confortavelmente instalados em Miramar; os militares e os policiais; os empregados de hotel (que recebem gorjetas em dólar); e o povo. ‘Para ter um emprego num hotel é preciso ser filho de papai, ser protegido de um grande, ter influência’, explica Ricardo, engenheiro que virou mecânico e gostaria de ser mensageiro nos hotéis luxuosos de redes internacionais.
     Certa noite, numa roda de novos amigos, brinco que, quando visito um país problemático, o regime cai logo depois da minha saída. Respondem em uníssono: Vamos te expulsar daqui agora mesmo’. Pergunto por que não se rebelam, não protestam, não matam Fidel? Explicam que foram educados para o medo, vivem num Estado totalitário, não têm um líder de oposição e não saberiam atacar com pedras, à moda palestina. Prometem, no embalo das piadas, substituir todas as fotos de Che Guevara espalhadas pela ilha por uma minha se eu assassinar Fidel para eles.
     Quero explicações, definições, mais luz. Resumem: ‘Cuba é uma ditadura’. Peço demonstrações: ‘Aqui não existem eleições. A democracia participativa, direta, popular, é uma fachada para a manipulação. Não temos campanhas eleitorais, só temos um partido, um jornal, dois canais de televisão, de propaganda e, se fizéssemos um discurso em praça pública para criticar o governo, seríamos presos na hora’.
     Ricardo Alarcón aparece na televisão para dizer que o sistema eleitoral de Cuba é o mais democrático do mundo. Os telespectadores riem: ‘É o braço direito da ditadura. O partido indica o candidato a delegado de um distrito; cabe aos moradores do lugar confirmá-lo; a partir daí, o povo não interfere em mais nada. Os delegados confirmam os deputados; estes, o Conselho de Estado; que consagra Fidel’.Mas e a educação e a saúde para todos? Ariel explica: ‘Temos alfabetização e profissionalização para todos, não educação. Somos formados para ler a versão oficial, não para a liberdade.
     A educação só existe para a consciência crítica, à qual não temos direito. O sistema de saúde é bom e garante que vivamos mais tempo para a submissão’. José mostra-me as prostitutas, dá os preços e diz que ninguém as condena: ’Estão ajudando as famílias a sobreviver’. Por uma de 15 anos, estudante e bonita, 80 dólares. Quatro velhas negras olham uma televisão em preto e branco, cuja imagem não se fixa. Tentam ver ‘Força de um Desejo’. Uma delas justifica: ‘Só temos a macumba (santería) e as novelas como alento. Fidel já nos tirou tudo.Tomara que nos deixe as novelas brasileiras’. Antes da partida, José exige que eu me comprometa a ter coragem de, ao chegar ao Brasil, contar a verdade que me ensinaram: em Cuba só há ‘rumvoltados’.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Nomes para lembrar ou para esquecer

Escrito por Sérgio Paulo Muniz Costa


Hitler e Mussolini: afrontando as instituições e a Constituição./Reprodução
A História, fonte de conhecimento para tantas ciências sociais, é um caminho para a compreensão dos acontecimentos. Hoje, dispomos de muitas referências históricas para o entendimento das estruturas políticas contemporâneas, mas o megaestudo de caso das patologias sociais que ainda inquieta corações e mentes do século 21 é o que ocorreu na Alemanha há oitenta anos, o mais documentado episódio da era dos equívocos. Uma combinação trágica de voluntarismo com populismo.  
O historiador Joachim Fest conta a resposta do indivíduo central dessa tragédia quando pediram a ele que considerasse a paz com a União Soviética, no outono de 1943: "Sabe, Ribbentrop, se eu entrar em acordo com a Rússia hoje, acabo declarando guerra novamente amanhã – esse é meu jeito". No caso, o "jeito" de Hitler significou a maior destruição da Europa do Leste desde a invasão mongol do século 13. 
Um outro biógrafo de Hitler, Ian Kershaw, mostra como "planejadores, organizadores, teóricos da dominação e os tecnocratas  do poder na liderança das SS viram a Polônia como um playground experimental" e, junto com políticos, servidores públicos "inventivos", oficiais e soldados, foram mortalmente eficazes na convicção de estarem "trabalhando para o Führer" – o que se explica naquilo que Renzo de Felice identificou como o "mito do chefe", essencial para um  "regime político de massa".
Povos se agitam e entram em conflito pelo que lhes parece justo. Como as pessoas, acertam e erram – mas como coletividades, seus acertos e erros são incomensuravelmente mais extensos e profundos à luz da História. Hoje, após muitos desastres, nossa civilização vive a pretensão de evitar o mal antes que se consume.
A devastação moral da Alemanha nazista ensina que não há equívoco atribuível a um só indivíduo, nem coletividades inocentes perante os infortúnios que ocorrem.  O caso alemão foi um exemplo extremo de como energia, capacidade e determinação de um povo podem causar tanto mal.
Mais importante é a lição daí extraída: não há povos melhores do que outros a ponto de não correrem risco de errar. Com suas crenças, rivalidades e vulnerabilidades, todos estão sujeitos ao erro e a única coisa que parece diminuir sua extensão é o medo de cometê-lo.
O medo de errar fez da política também a arte de causar o menor mal possível, a nós e aos outros. Na organização das sociedades isto tem nome: instituições. Povos que souberam promover sua liberdade, segurança e prosperidade trataram de construir, em primeiro lugar, a forma de se governar de acordo com a lei a ser obedecida por quem vai governar.
Essa instituição, a primeira de todas, tem nome: Constituição.
O que a História ensinou nesta parte do mundo é que o governo não faz a Constituição: cumpre-a. Isto também tem nome: democracia. Portanto, quando o mito do chefe supera as instituições, a democracia está em risco.
É o que está acontecendo no Brasil. O partido político que governa o País há quase uma década se recusa a acatar o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a prática política que o envolve no maior escândalo de corrupção de nossa história. Essa afronta às instituições, à Constituição e à democracia é justificada no discurso petista pelas "mudanças" que Lula teria promovido no País. O que a militância petista não percebe é que esse discurso coloca seu líder em estranha posição (que ele negou muitas vezes), semelhante à de um certo cabo Adolfo que mudou a Alemanha à custa de suas instituições, Constituição e democracia. 
Em relação ao julgamento dos golpistas de Munique em 1924, como asseverou John Toland, "o sentido político das acusações [...] contra Hitler, Ludendorff e mais oito acusados ultrapassava de muito o destino pessoal de cada um dos réus. A nova república e a democracia também estavam em julgamento".
Acossada por todos os lados, a República de Weimar deveu sua sobrevida também à condenação de alguns dos responsáveis pelo Putsch, o principal deles Hitler, que, no entanto, sairia da prisão antes do prazo de detenção, ovacionado como herói graças à propaganda e à intimidação à Suprema Corte da Baviera.
Está fora de questão que esta República no Brasil se deixe intimidar, uma tentativa que deve causar a mais viva indignação à sociedade e, muito particularmente, aos militantes do PT.
Afinal, o precedente histórico também tem nome: fascismo.

Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A Placa na AMAN: Uma interpretação

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Aileda de Mattos Oliveira

Os fatos que ocorrem no mundo oferecem várias leituras, embora uma seja suficiente para se ter uma visão do lado positivo e do lado negativo do acontecimento. Cabe às interpretações iluminarem os subentendidos, tornando claros, a cada passo, os pontos até então submersos na “estrutura profunda” do pensamento, conforme expressão do linguista Noam Chomsky. E nas profundezas do propósito das ações, acrescenta-se.

É necessário trazer à superfície o que não está expresso no discurso oficial, mas torna-se claro nas palavras de outros agentes e que se vão encaixando, no contexto, como peças de um jogo bem-armado.

É indispensável que se retire até mesmo do turvo pensamento da esquerda, seja dos condutores do partido seja de um simples prosélito, os indícios das futuras e mal-intencionadas investidas.

São carregados de rancor os atos governamentais e, por isso, resultam em acontecimentos sempre deploráveis. No caso em questão, o da ‘placa’, o governo não está sozinho no intento de desmoralizar uma instituição respeitável, de alto nível disciplinar e intelectual, e formadora do pensamento militar brasileiro.

A partir das palavras pronunciadas durante a encenação programada entre família e governo, algo começou a delinear-se, a destacar-se e a tornar-se visível aos olhos investigativos. Por si mesma, a tal placa transformou-se num objeto simbólico de autoafirmação política, de autoafirmação doutrinária, de ostentação de poder, de ambas as partes. Sim, a família já faz parte desse poder.

Se foi um ato execrável a introdução de uma placa no recinto militar, resultante de abominável servilismo do governo vermelho a uma organização estrangeira (OEA), ferindo profundamente a soberania nacional e a gloriosa Instituição AMAN, esse ato resultou do trabalho de uma ONG para a qual todas as portas internacionais estão abertas, desde que vise ao descrédito de alguma renomada instituição brasileira.

As palavras da mãe do cadete vitimado dão conta de que seu vocabulário mantém uma relação muito estreita com o usado pelo sistema em vigor que lhe facilitou todas as entradas e saídas.

Se há unidade vocabular, há unidade de pensamento e, a partir dessa sintonia entre os dois lados interessados, surge uma verdade até então não observada (creio) por ter a indignação de militares (Reformados) ficado acima de qualquer outra avaliação. Não podiam imaginar a sua querida Casa ofendida com a presença dos que renegam as cores brasileiras, pisando o mesmo chão, onde estão gravados no tempo os passos de todos os que por sobre ele passaram.

Frases retiradas do artigo do sequestrador Franklin Martins: ”esqueçamos o luto e vamos à luta“ (mãe); “um ato histórico de suma importância” (ongueiras Victoria Grabois e Cecilia Coimbra do Grupo Tortura Nunca Mais), dão o toque final da interação entre família e a representação governamental que se fez presente.

A verdade é que a placa passou a simbolizar a exteriorização ideológica da família, ajustada ao perfil do governo, o que leva a acreditar na existência de uma cumplicidade efetivada, levando à suposição de que poderia haver, no futuro, um militar passível de pôr em prática atividades antibrasileiras, dentro da própria Instituição, a serviço de Organizações subsidiadas com dinheiro público, para minar os alicerces constitucionais do Brasil. Foi com esses tipos de órgão que a família manteve-se em contato.

Se a homenagem fosse unicamente para reverenciar a memória do cadete, não permitiria a família que a data escolhida coincidisse com a do aniversário de morte de Che Guevara, um assassino, cujas ações criminosas eram realizadas em nome de um regime totalitário, responsável pelos milhares de mortes e prisões de seus dissidentes. Na atitude dessa mãe, vê-se uma grande contradição, ou nenhuma contradição, dependendo do ângulo em que se analisa o fato.

Ninguém lhe nega a dor da perda do filho, mas o que está em análise é o uso dessa dor para outros fins, bem distantes dos sentimentais.

Logo, essa placa deve tornar-se, apenas, objeto de desprezo dos militares, pois, invertidos os papéis, ela acusa, torna pública a posição politico-ideológica de uma família, totalmente em desacordo com as diretrizes seguidas pela AMAN de formar Defensores Permanentes do Estado Brasileiro, mas totalmente de acordo com os objetivos do governo petista. Fica a interrogação sobre a ideologia do filho.

O candidato ao serviço militar conhece as exigências da caserna, a rigidez disciplinar e os rigores dos exercícios a que serão submetidos. Ninguém é obrigado a se inscrever na AMAN e se deseja pertencer a seus quadros, é por vontade própria ou por imposição dos pais. Neste último caso, são responsáveis pelo mau desempenho que vier a demonstrar o filho, sem vocação, para uma profissão de exigências sem privilégios.

Nas Organizações Militares, forjam-se homens, portanto, aquele que não estiver disposto a sujeitar-se às obrigações regulamentares, deixe a vaga a quem tenha aptidão para a função e busque um lugar ao sol debaixo da tenda da acomodação.

A mãe ou a esposa de um jogador de futebol, que morre no campo, em pleno jogo, não cobra “direitos humanos” do treinador, acusando-o de exagero nos treinos táticos e técnicos; a família de um funcionário público ou privado, que enfarta ou sofre um acidente no trabalho, não acusa o chefe de maus tratos nem de tortura, e nem exige uma solenidade para emplacar tal acontecimento; a família de uma criança, vítima fatal na queda de um andar na escola, não exige placa execratória, nem o colégio sofre as mesmas sanções federais quanto um órgão militar.

Portanto, a hipocrisia dos tais “direitos humanos” está escancarada aos olhos do verdadeiro cidadão, o alfabetizado, porque visa apenas à instituição Exército, pelo horror que causam os militares desta Corporação à caterva debochada que destrói o país.

Este elo entre família e governo, falando a mesma linguagem política, num dia de homenagem a um indivíduo ignóbil, deixa uma dúvida. Quem foi, na realidade, homenageado? O cadete ou o Che?

Aileda de Mattos Oliveira é Professora Doutora em Língua Portuguesa. Membro da Academia Brasileira de Defesa. A opinião expressa é particular da autora.