Continencia

Continencia
Caserna

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Discrepância de critérios



Depois das estridências internacionais dos dois mandatos de Lula, a política externa brasileira adotou um perfil mais discreto. Não era para menos, considerando-se a repercussão do desgaste e dos prejuízos sofridos pelo País com a receita de regionalismo ideológico e de anti-ocidentalismo sistemático ditada pelo PT à diplomacia nacional. Os resultados se afiguram evidentes: o Brasil hoje influi menos na sua área de interesse direto, a América do Sul, e o seu protagonismo internacional definhou.
O que aparece como equívoco da política externa brasileira nos últimos anos advém do abandono das grandes linhas que ela seguia até a ascensão do PT ao poder. Com as questões de fronteiras e geopolíticas do século 19 superadas, o Brasil pôde, após a Segunda Guerra Mundial, orientar sua política externa primordialmente para o desenvolvimento.
As grandes iniciativas do País nesse sentido durante a segunda metade do século 20 aconteceram no locus ampliado da diplomacia de Estado marcada pelo interesse nacional e realismo.
Isso ficou para trás. Porém, a nova política externa do Brasil tem mais a ver com a política interna, na medida em que serve ao objetivo do PT de comandar o governo e controlar o Estado. Em nenhuma área isso é mais evidente do que no campo das relações exteriores, com chanceleres sujeitos à orientação do partido. Em nenhuma área
isso é mais grave do que no campo da defesa nacional, com forças armadas que tiveram as missões constitucionais alteradas em sua essência, agora sujeitas à vontade única do Executivo.
A essa altura já devia ter ficado claro para os analistas que o critério normalmente usado para avaliar o sucesso de uma política externa não se aplica à diplomacia companheira.
Para ela, não se trata de obter e operacionalizar acordos vantajosos ao País nos campos político, econômico e militar, mas sim em aumentar o poder interno do PT e consolidar alianças externas que contribuam para a formatação do ambiente regional segundo seus interesses. Por isso, a política externa do PT segue firme, infensa à crítica do processo político numa sociedade pouco acostumada ao debate sobre defesa e relações internacionais.
Infelizmente, já está claro que essa chocante discrepância de critério se estende a outras expressões da vida nacional, conformando uma preocupante percepção do PT como vanguarda de uma esquerda antissistema que neste momento resiste mal à tentação de afrontar as instituições que não controla. É sempre útil lembrar que o critério de sucesso e fracasso nunca está na letra dos projetos políticos, pois, definitivamente, ele se sujeita à prova da História.
Só é bom para um partido político o que é bom para o Brasil.







Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador. Foi Delegado do Brasil na Junta Interamericana de Defesa, órgão de assessoria da OEA para assuntos de segurança hemisférica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário