- Publicado em Domingo, 16 Dezembro 2012 18:45
- Escrito por Sérgio Paulo Muniz Costa
Depois das estridências internacionais dos dois mandatos de Lula, a política
externa brasileira adotou um perfil mais discreto. Não era para menos,
considerando-se a repercussão do desgaste e dos prejuízos sofridos pelo País com
a receita de regionalismo ideológico e de anti-ocidentalismo sistemático ditada
pelo PT à diplomacia nacional. Os resultados se afiguram evidentes: o Brasil
hoje influi menos na sua área de interesse direto, a América do Sul, e o seu
protagonismo internacional definhou.
O que aparece como equívoco da política externa brasileira nos últimos anos
advém do abandono das grandes linhas que ela seguia até a ascensão do PT ao
poder. Com as questões de fronteiras e geopolíticas do século 19 superadas, o
Brasil pôde, após a Segunda Guerra Mundial, orientar sua política externa
primordialmente para o desenvolvimento.
As grandes iniciativas do País nesse sentido durante a segunda metade do
século 20 aconteceram no locus ampliado da diplomacia de Estado marcada pelo
interesse nacional e realismo.
Isso ficou para trás. Porém, a nova política externa do Brasil tem mais a ver
com a política interna, na medida em que serve ao objetivo do PT de comandar o
governo e controlar o Estado. Em nenhuma área isso é mais evidente do que no
campo das relações exteriores, com chanceleres sujeitos à orientação do partido.
Em nenhuma área
isso é mais grave do que no campo da defesa nacional, com forças armadas que
tiveram as missões constitucionais alteradas em sua essência, agora sujeitas à
vontade única do Executivo.
A essa altura já devia ter ficado claro para os analistas que o critério
normalmente usado para avaliar o sucesso de uma política externa não se aplica à
diplomacia companheira.
Para ela, não se trata de obter e operacionalizar acordos vantajosos ao País
nos campos político, econômico e militar, mas sim em aumentar o poder interno do
PT e consolidar alianças externas que contribuam para a formatação do ambiente
regional segundo seus interesses. Por isso, a política externa do PT segue
firme, infensa à crítica do processo político numa sociedade pouco acostumada
ao debate sobre defesa e relações internacionais.
Infelizmente, já está claro que essa chocante discrepância de critério se
estende a outras expressões da vida nacional, conformando uma preocupante
percepção do PT como vanguarda de uma esquerda antissistema que neste momento
resiste mal à tentação de afrontar as instituições que não controla. É sempre
útil lembrar que o critério de sucesso e fracasso nunca está na letra dos
projetos políticos, pois, definitivamente, ele se sujeita à prova da
História.
Só é bom para um partido político o que é bom para o Brasil.
Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador. Foi Delegado do Brasil na
Junta Interamericana de Defesa, órgão de assessoria da OEA para assuntos de
segurança hemisférica.
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