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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A caminho do bicentenário da Independência

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Colosso continental que emergiu  independente e unificado há 190 anos, o Brasil é caso único na história política das nações,  especificidade explicada pelas origens da sua formação e dinâmica da sua evolução. Nas origens, pela coincidência do adventício miscigenador com o autóctone de um tronco linguístico predominante na geografia não dissociadora. Na dinâmica, por um processo  de fronteira movido a adaptação e aculturamento. Assim, o Brasil seria um país mais antigo do que estamos acostumados a pensar, com uma cultura definitivamente mestiça, espontânea e sincrética.
 
Além de trazer nova vida à colônia, a transferência para o Brasil da sede do Império português em 1808 lhe deu uma base de poder inédita, a mais próxima da profecia do Quinto Império. 
 
Só mesmo a cegueira do nacionalismo, no caso o que dominou as Cortes portuguesas originadas da Revolução do Porto (1820) para desconhecer a robustez do desenvolvimento histórico brasileiro. Em menos de dois anos, entre a adesão de D. João 6º ao sistema constitucional (fevereiro de  1821) e o Grito no Ipiranga (7 de setembro de 1822), o Brasil assumiu seu destino, encaminhado pelo patriotismo de José Bonifácio, pela sensibilidade da Princesa Leopoldina e pela coragem de D. Pedro.
 
São essas as raízes que condicionam a evolução política do Brasil desde a Independência e dão solidez à sua nacionalidade, as mesmas que, no entanto, colocam formidáveis desafios ao seu desenvolvimento.  Sim, por que o Brasil se fez grande e autônomo sem ser protagonista dos grandes acontecimentos que marcaram o Ocidente desde o século 18, parecendo-lhe natural que assim fosse.  Afastado dos grandes fluxos de capital, trabalho e bens que cruzaram o Atlântico Norte, o Brasil se voltou para si próprio, direcionando as energias de seus sonhos e projetos para a integração e articulação de seu vasto interior.
 
Em meados do século 20 ficou claro que nos faltava conhecimento e capital – humano e financeiro – para a empreitada e foi-se buscar no exterior os seus sucedâneos. Dos muitos esforços dispendidos, apenas um, depois de 150 anos, foi capaz de alterar profundamente a paisagem do interior do país, integrar vastas porções de seu território e gerar a riqueza muitas vezes multiplicada que foi primordial para a transformação do Brasil numa potência econômica: a expansão da agricultura. 
 
No momento em que se esgotava o modelo de substituição das importações e com ele o nosso sonho da industrialização, frustrado pelas modificações estruturais da Revolução Tecnológica e da Informação, (a terceira que perdíamos) faltou-nos, sem dúvida, constatar que a fortuna  e o revés que experimentávamos eram faces da mesma moeda: o conhecimento.
 
Hoje, falta-nos muito mais.  Reconhecida a diferença entre crescimento e desenvolvimento econômico, falta assumir que a engenharia social centrada nas transferências de renda é acessória na modificação do quadro de desigualdade social que vige no País.  Numa conjuntura mundial na qual o PIB se mostra menos relevante para aferir o grau de desenvolvimento das sociedades – político, econômico, social e humano– cabe perguntar se, quando e como vamos enfrentar a questão que causa consternação às melhores mesas de seminários e congressos no país: a transformação do Brasil numa sociedade baseada no conhecimento. Se uma nação é o resultado do que ela entende como sua História, ela será o que for ensinado pelas lições que desta souber extrair. Dez anos é tempo suficiente  para se preparar mais do que uma festa.
 
 
Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador

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