Lena
Castello Branco
Há
um consenso de que nossa cultura é profundamente marcada pelo
bacharelismo. Ou seja: pela valorização do bacharel, aliada ao
culto à oratória rebuscada.
Costuma-se
atribuir aos primeiros educadores em terras Tupiniquins – os
jesuítas – o amor exagerado dos brasileiros ao que se convencionou
chamar de ornamentos do espírito e do estilo. Com suas escolas de
ler e escrever e seus colégios, os inacianos marcaram nossa
sociedade com os fundamentos da civilização cristã e ocidental,
aos quais se acrescentaram traços ameríndios e africanos. O culto
do latim e da retórica deixou marcas indeléveis na maneira de ser e
de pensar do brasileiro, educado segundo a pedagogia da “ratio
studiorum”.
Certo
é que no Brasil se aprecia quem “fala bonito”. Ainda hoje,
refere-se como algo peculiar a certas regiões do interior –
sobretudo do Nordeste – o culto por um tipo de oratória que
pretende somar referências clássicas a evocações de uma cultura
vazia, expressa em frases rebuscadas.
Exemplo
maior desse tipo de personagem é Odorico Paraguaçu, imaginário
prefeito de Sucupira, inventado por Dias Gomes e transformado em
arquétipo da vigarice e do beletrismo de fachada. Sua oratória
empolada e suas frases sem sentido são emblemáticas da
insinceridade dos candidatos que se aproveitam da ignorância do povo
para eleger-se e manter-se indefinidamente no poder.
Acontece
que Odorico Paraguaçu não existe de fato, mas faz parte de uma obra
de ficção; e, como tal, passou a integrar a galeria das
personagens-símbolo da cultura brasileira. Como Iracema, de José de
Alencar, que representa o indígena; Tia Nastácia, de Monteiro
Lobato, que personifica a mãe-preta; Rodrigo Cambará, de Érico
Veríssimo, que dá vida aos heróis da fronteira e da conquista –
e assim por diante.
Na
vida real, em contrapartida, há personalidades que se assemelham a
tipos forjados pela ficção mais delirante. Como é o caso da atual
presidente, a senhora Dilma Vana Rousseff – que parece ter surgido
da imaginação de alguém versado em intrigas políticas e confusões
mentais.
Assim
é que Sua Excelência elegeu-se presidente da República sem nunca
ter explicado claramente suas convicções políticas e ideológicas.
Parece mesmo que não conseguiria fazê-lo, tal a mixórdia das
idéias que procura externar, quando não se limita à leitura do que
escreveram para ela.
Se,
em breve exercício lúdico, formos cotejar as frases do prefeito de
Sucupira com as da nossa insigne presidente, será difícil escolher
quais as mais estapafúrdias. Com todo o respeito, é como se
houvesse um campeonato entre Odorico e Odorica - esta também
personagem de ficção - tais as barbaridades que dizem.
A
título de curiosidade, procure o leitor identificar quem é quem na
seleção que se segue:
- "É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humilde cidade."
- “O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”
- “Eu sempre escuto os prefeitos. Por que é que eu escuto os prefeitos? Porque é lá que está a população do país, ninguém mora na União, ninguém mora… ` Onde você mora?´ `Ah, eu moro no Federal´”.
- "Isto deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta".
- “A auto-suficiência do Brasil sempre foi insuficiente”.
- "Como diria o rei dos persas, Dario Peito de Aço, pra cada problemática tem uma solucionática. Se não disse, perdeu a oportunidade de ser citado por mim".
- “Em Vidas Secas está retratado todo problema da miséria, da pobreza, da saída das pessoas do Nordeste para o Brasil.”
- "Vai ter uma confabulância político-sigilista sobre as nossas candidaturas".
- “Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente.”
- “A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e se sustenta, sustenta tudo isso abrindo o negócio.”
- “A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia.”
- “O dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais, sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás.”
- "Vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmente."
Nenhum comentário:
Postar um comentário