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segunda-feira, 7 de julho de 2014

ODORICO & ODORICA

Lena Castello Branco

Há um consenso de que nossa cultura é profundamente marcada pelo bacharelismo. Ou seja: pela valorização do bacharel, aliada ao culto à oratória rebuscada.
Costuma-se atribuir aos primeiros educadores em terras Tupiniquins – os jesuítas – o amor exagerado dos brasileiros ao que se convencionou chamar de ornamentos do espírito e do estilo. Com suas escolas de ler e escrever e seus colégios, os inacianos marcaram nossa sociedade com os fundamentos da civilização cristã e ocidental, aos quais se acrescentaram traços ameríndios e africanos. O culto do latim e da retórica deixou marcas indeléveis na maneira de ser e de pensar do brasileiro, educado segundo a pedagogia da “ratio studiorum”.
Certo é que no Brasil se aprecia quem “fala bonito”. Ainda hoje, refere-se como algo peculiar a certas regiões do interior – sobretudo do Nordeste – o culto por um tipo de oratória que pretende somar referências clássicas a evocações de uma cultura vazia, expressa em frases rebuscadas.
Exemplo maior desse tipo de personagem é Odorico Paraguaçu, imaginário prefeito de Sucupira, inventado por Dias Gomes e transformado em arquétipo da vigarice e do beletrismo de fachada. Sua oratória empolada e suas frases sem sentido são emblemáticas da insinceridade dos candidatos que se aproveitam da ignorância do povo para eleger-se e manter-se indefinidamente no poder.
Acontece que Odorico Paraguaçu não existe de fato, mas faz parte de uma obra de ficção; e, como tal, passou a integrar a galeria das personagens-símbolo da cultura brasileira. Como Iracema, de José de Alencar, que representa o indígena; Tia Nastácia, de Monteiro Lobato, que personifica a mãe-preta; Rodrigo Cambará, de Érico Veríssimo, que dá vida aos heróis da fronteira e da conquista – e assim por diante.
Na vida real, em contrapartida, há personalidades que se assemelham a tipos forjados pela ficção mais delirante. Como é o caso da atual presidente, a senhora Dilma Vana Rousseff – que parece ter surgido da imaginação de alguém versado em intrigas políticas e confusões mentais.
Assim é que Sua Excelência elegeu-se presidente da República sem nunca ter explicado claramente suas convicções políticas e ideológicas. Parece mesmo que não conseguiria fazê-lo, tal a mixórdia das idéias que procura externar, quando não se limita à leitura do que escreveram para ela.
Se, em breve exercício lúdico, formos cotejar as frases do prefeito de Sucupira com as da nossa insigne presidente, será difícil escolher quais as mais estapafúrdias. Com todo o respeito, é como se houvesse um campeonato entre Odorico e Odorica - esta também personagem de ficção - tais as barbaridades que dizem.
A título de curiosidade, procure o leitor identificar quem é quem na seleção que se segue:
  • "É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humilde cidade."
  • O meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”
  • Eu sempre escuto os prefeitos. Por que é que eu escuto os prefeitos? Porque é lá que está a população do país, ninguém mora na União, ninguém mora… ` Onde você mora?´ `Ah, eu moro no Federal´”.
  • "Isto deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta".
  • A auto-suficiência do Brasil sempre foi insuficiente”.
  • "Como diria o rei dos persas, Dario Peito de Aço, pra cada problemática tem uma solucionática. Se não disse, perdeu a oportunidade de ser citado por mim".
  • Em Vidas Secas está retratado todo problema da miséria, da pobreza, da saída das pessoas do Nordeste para o Brasil.”
  • "Vai ter uma confabulância político-sigilista sobre as nossas candidaturas".
  • Tudo o que as pessoas que estão pleiteando a Presidência da República querem é ser presidente.”
  • A mulher abre o negócio, tem seus filhos, cria os filhos e se sustenta, sustenta tudo isso abrindo o negócio.”
  • A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro dela porque ela é a capital da Amazônia.”
  • O dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais, sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás.
  • "Vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmente."

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