O País atravessa
momentos de turbulência político-social, inéditos e perplexitantes.
Tensões, boa parte delas induzidas, marcam o dia a dia do noticiário. A
atmosfera psicológica do Brasil está saturada e nem sequer o clima,
habitualmente distendido que cerca uma Copa do Mundo, ainda mais
realizada em território nacional, escapou a tais deletérias influências.
A população tem
assistido, estupefata, à realização de greves em serviços essenciais,
muitas delas declaradas abusivas pela própria Justiça, que impõem graves
inconvenientes e perturbações aos brasileiros ordeiros, que labutam e
produzem nos grandes centros urbanos; tais greves têm gerado
insegurança, que se traduz em depredações de bens públicos e privados e
até em saques.
Grupos de
chamados "sem-teto", altamente treinados e organizados, inclusive com a
presença de estrangeiros, invadem terrenos e prédios urbanos, sendo
recebidos, após seus atos criminosos, por autoridades - até mesmo pela
Presidente da República - tornando assim o poder público e a sociedade
refém de seus desígnios ideológicos.
Marchas do MST e
de reais ou fictícios indígenas, manipulados por ONGs ou instituições
como o Conselho Indigenista Missionário-CIMI ou similares, fazem
encenações de enfrentamentos com policiais, registradas em fotografias
que percorrem o mundo, transmitindo a falsa idéia de um Brasil que se
contorce em estertores sociais e raciais.
Por outro lado,
grupos extremistas anti-sistema, estilo "Black Bloc", promovem atos de
protesto - por causas poucos definidas - espalhando a violência urbana,
planejada e calculada, de modo a lançar o caos e atacar símbolos do
capitalismo, no exercício do que qualificam como "ilegalidade
democrática".
Por fim, diante
do alastrar-se de fatores de incompreensão e de indignação, nas camadas
profundas da população, em relação ao governo da Presidente Dilma
Rousseff e ao Partido dos Trabalhadores, vozes como a do ex-Presidente
Lula tentam disseminar um clima de luta e de ódio de classes, tão avesso
ao sentir do brasileiro comum.
* * *
É neste contexto
tumultuado que surge um gravíssimo ataque às instituições e à ordem
constitucional vigente, perpetrado através do Decreto presidencial nº
8.243, cuja efetivação poderia ser qualificada com uma tentativa de
golpe de Estado incruento.
Editado pela
Presidência da República no dia 23 de maio p.p., e publicado no Diário
Oficial três dias depois, estabelece ele a "Política Nacional de
Participação Social" e o "Sistema Nacional de Participação Social".
Sob o disfarce
de tratar da organização e funcionamento da administração pública -
invocando para tal até dispositivos constitucionais - e alegando que o
sistema representativo contém falhas, o governo do Partido dos
Trabalhadores, via decreto, tenta implementar um novo regime de
organização do Estado, o qual visa "consolidar a participação social
como método de governo".
Manejando
habilmente sofismas e falácias sobre a "democracia direta", valendo-se
de definições e disposições vagas, o Decreto submete a Administração
Pública, em seus diversos níveis, aos "mecanismos de participação
social".
Os "conflitos
sociais", como, por exemplo, invasões de terras, de imóveis urbanos, de
demarcação de terras indígenas, - tantos deles gerados artificialmente -
serão mediados por elementos do governo e setores da sociedade civil,
controlados por "coletivos, movimentos sociais, suas redes e suas
organizações".
E a
Secretaria-Geral da Presidência da República dirigirá uma burocrática e
coletivista estrutura de conselhos, conferências, comissões, ouvidorias,
mesas de diálogo, etc..
O Decreto 8.243 -
que já chegou a ser comparado a um decreto bolivariano ou bolchevique -
torna obsoletas as instituições do Estado de Direito, criando
organismos informais (ou quase tanto) que condicionarão o Judiciário, o
Legislativo ou o próprio Executivo.
Como é de
conhecimento público, em grande medida tais "movimentos sociais",
"coletivos" ou grupos da dita sociedade civil são influenciados,
orientados e financiados pelo Partido dos Trabalhadores, pela "esquerda
católica", bem como pelo próprio governo.
Fica assim
instituído um sistema paralelo de poder, que consagra na prática uma
ditadura do Executivo, na pessoa do Secretário-Geral da Presidência da
República, atualmente o ex-seminarista Gilberto Carvalho, quem
habitualmente faz a ponte entre o governo e a CNBB.
* * *
A Presidente da
República tenta desta forma impor ao País metas político-ideológicas do
PT - alimentadas nos Fóruns Sociais Mundiais - e sempre repudiadas pela
maioria dos brasileiros.
Desde há muito,
certo tipo de esquerda - e sobremaneira a esquerda petista no poder,
influenciada em maior ou menor grau pelo progressismo católico - tenta
subverter o exercício do regime "democrático". Fiel a suas velhas
convicções socialo-comunistas, eriça-se contra as instituições do que
qualifica de "democracia burguesa", tentando vender a idéia de uma
democracia direta e participativa, como mais autêntica e popular.
Já no primeiro
mandato do Presidente Lula, enquanto o País estava embalado pela
pseudo-moderação do projeto político de mudança do Brasil, expresso na
Carta ao Povo brasileiro, o programa "Fome Zero" fazia uma primeira
tentativa de instaurar no Brasil "conselhos populares" que, como
alertaram certas vozes na época, mais não eram de que uma reedição dos
conselhos da revolução cubanos ou dos coletivos chavistas.
Mais à frente veio a tentativa de controlar a imprensa pelo mesmo mecanismo de conselhos, manipulados por "movimentos sociais".
O PNDH3, baseado
numa vaga e abrangente política de Direitos Humanos, constituiu nova
tentativa de impor ao País um controle da sociedade e das instituições
do Estado, por conselhos.
Por ocasião das
manifestações de junho de 2013, a Presidente Dilma Rousseff em discurso
televisionado a todo o País, voltou a acenar com o tema da democracia
direta e a "voz das ruas". Veio, logo em seguida, a tentativa de impor
ao País uma Constituinte específica para a reforma política.
* * *
De todos os
quadrantes da sociedade se têm erguido vozes que apontam o grave perigo
criado ao futuro político do Brasil pelo Decreto presidencial nº 8.243.
No Congresso Nacional há movimentos pronunciados para inviabilizar ou
derrubar o referido Decreto. Outros setores ensaiam movimentos para
recorrer ao Supremo Tribunal Federal, reclamando da
inconstitucionalidade de tal Decreto.
O governo veio a
público defender a medida, sempre baseado em subterfúgios e, segundo
informa a imprensa, não está disposto a recuar. Aproveitando-se do
período em que as atenções de muitas pessoas estão voltadas para a Copa
do Mundo, contando ainda com já tão próxima campanha eleitoral, Dilma
Rousseff e seus assessores no Planalto e no PT, parecem decididos a
apostar no golpe institucional.
* * *
Quando dos
trabalhos da Constituinte de 1988, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
publicou a obra "Projeto de Constituição angustia o País". Nele alertava
para o fato de que elementos de nossa classe política, divorciados dos
verdadeiros anseios do Brasil profundo, iriam arrastando inexoravelmente
o Brasil para o esquerdismo radical.
E admoestava
ainda que cada vez mais raros seriam os partícipes da farândola
reformista da esquerda, "ganhos gradualmente pelo sentimento de
inconformidade e apreensão nascido, a justo título, das camadas mais
profundas da população".
O Decreto nº
8243 é, por certo, um grave exemplo dessa obstinação ideológica. A
inconformidade, ainda que silenciosa, é também uma realidade que cresce,
apesar das máquinas de propaganda tentarem menosprezá-la ou
distorcer-lhe o sentido.
O Instituto
Plinio Corrêa de Oliveira faz um apelo às forças vivas da Nação para
que, num concerto geral dos espíritos clarividentes, alertem para o
perigoso rumo ao qual nos encaminha o Decreto 8.243, obstruindo-lhe
legalmente o caminho.
Caso não seja
derrubado, o Decreto nº 8.243 terá operado uma transformação radical nas
instituições do Estado de Direito, esvaziando o regime de democracia
representativa, deixando o País refém de minorias radicais de esquerda e
de ativistas, abrindo as portas para a tão almejada fórmula do atropelo
e do arbítrio, típica dos regimes bolivarianos.
Presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
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quinta-feira, 10 de julho de 2014
DP 8243 - Ou Novos Caminhos....
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