R.
Penny *, publicado no Instituto
Liberal
O
relato pessoal de um professor de História da prefeitura de São Paulo que revela
o caos e o domínio esquerdista na educação pública brasileira
Sou
professor concursado. Funcionário público. Tenho estabilidade e só posso ser
exonerado se aprontar algo cataclísmico. Recebo rigorosamente em dia, sou
crivado de benefícios trabalhistas, posso faltar quando quiser sem ser
incomodado e não tenho de apresentar resultados. Ao final da carreira gloriosa,
terei direito a aposentadoria integral.
Sobrevivi
à dominação comuno-petista e à coação explícita das esquerdas terroristas na
universidade.
Formei-me
em história, o maior reduto “intelequitual” da corja. Não tive uma mísera aula
sobre História Medieval ou uma definição político-social do Império Romano. Era
apenas doutrinação marxista. Qualquer postura liberal era rechaçada de imediato
pela maioria estridente.
De
posse do canudo, passei num concurso, para, literalmente, buscar “endireitar” um
pouco o ensino de História, atualmente agonizando nas mãos dos
guevaristas.
Leciono
para 6° e 7° anos do Ensino Fundamental numa escola na periferia paulistana,
reduto que se considera acarinhado pelo PT por receber o assistencialismo
comprador de votos do partido. Tenho quórum constante. Meus alunos não faltam
nem sob chuva de enxofre com medo de perder o benefício do leite ou o
bolsa-família. A presença maciça é um ponto positivo, mas seria melhor se ao
menos trouxessem o material escolar (que receberam integralmente da prefeitura).
Anos de permissividade e tolerância à indisciplina os tornaram imunes aos poucos
mecanismos de controle que tenho. Damos o material, mas não podemos exigir que o
levem. Damos o uniforme, mas não podemos impedir que entrem se estiverem sem
ele, e em tempos de funk ostentação, o desfile fashion se torna inevitável. O
Estatuto da Criança e do Adolescente os garante. Não há fator que posso impedir
o Acesso e Permanência.
E
isso os alunos aprenderam. Podem não ter aprendido a decompor frações, a
enumerar a herança filosófica grega e a conjugar o futuro do pretérito, mas
aprenderam que, perante a lei, são inimputáveis.
Alunos
me xingam e me afrontam porque represento a autoridade que eles aprenderam nas
manifestações recentes a repudiar, vendo a polícia apanhar nos protestos e ainda
ser considerada a culpada por isso.Fui recentemente ameaçado de ir parar “na
vala” por ter erguido minha voz com um aluno. Não sou “melhor do que ele” para
querer impor minha vontade. Palmas para Paulo Freire!
Não
há livros didáticos para os trinta e cinco alunos de cada sala. Por ser material
compartilhado, há nas páginas pichações toscamente grafadas, com xingamentos e
palavras de baixo calão, com crassos erros de ortografia.
Sou
orientado a usar o livro deteriorado, mesmo sendo uma tranqueira escrita por
prosélitos de Fidel. Outros materiais de apoio não podem passar disso, textos
de apoio, comprados com meu dinheiro. A escola não tem condições de tirar
cópias a meu bel-prazer. A verba da escola tem outros importantes destinos. Não
está sujeita aos meus caprichos pedagógicos e ideológicos.
Há
um laboratório de informática excelente. Não posso reclamar. O professor
responsável é formado em geografia. Não tem preparo. Fez dois cursos na
Diretoria Regional de Educação, ministrados por alguém que deve saber menos que
ele e não consegue orientar-nos a como usar o ambiente. Os alunos usam o
laboratório como lan-house. A burocracia para usar o equipamento para, por
exemplo, fazer uma pesquisa em sala sobre os benefícios da Revolução Industrial
é desalentadora. Querem que os alunos fiquem com a opinião do livro. Foi a
Revolução do Capitalismo Perverso e Assassino.
Na
sala dos professores a situação é ainda mais inominável. Num quadro de avisos um
aviso de greve “eminente”. Sei que a categoria presta histórica reverência ao
“grevismo”, não obstante, o erro ortográfico, em tal ambiente, deveria ser
imperdoável. Não conhecem a diferença entre “iminente” e “eminente”, nem o
contrassenso crasso que é um funcionário público concursado, prestador de um
serviço essencial, entrar em greve para questionar o salário que aceitara ao ler
o edital, prestar o concurso e tomar posse do cargo.
Recebemos
“formação” diária. Oito horas-aula por semana a mais no holerite. É o momento em
que os educadores se reúnem e atualizam-se. Mostram as fotos da viagem de fim de
semana que postaram no “face”, fazem pedidos nas revistas “Avon” e “Natura” que
proliferam-se no meio mais do que qualquer livro de pedagogia. Entre uma ação
pitoresca e outra, motivos de greve são aventados, afinal, ninguém é de
ferro.
O
representante do sindicato aparece mais vezes na escola que o supervisor da
Regional. Também cumpre seu “papel” de forma mais efetiva. Há sempre a
possibilidade de um novo levante irromper se um abono, benefício ou exigência da
“categoria” não for acatado.
O
Conselho de Escola, como propagam orgulhosamente, é soberano. Toma as decisões
que ditam o rumo das verbas. Definiu a compra de um telão para a Sala de
Leitura. Agora, graças ao Conselho, os alunos entram na sala, onde há oito mil
livros, para assistir comédias de gosto discutível e animações da Disney. A
professora de Sala de Leitura sorri e não esconde que a situação melhorou muito.
Agora ninguém tira os livros do lugar e lhe dá trabalho extra. Os oito mil
livros, adquiridos às expensas dos contribuintes, estão protegidos da ação dos
desavisados que poderiam cometer a temeridade de querer lê-los. Estão agora onde
querem que estejam: adornando prateleiras.
Em
flagrante desrespeito aos alunos frequentes, se um desaparece por seis, sete ou
mesmo oito meses inteiros, devo proporcionar a ele a oportunidade de fazer um
(!) trabalho de compensação que apague suas faltas. O trabalho, me explicam os
superiores, não deve ser difícil demais. Apenas uma documentação para o
prontuário que garanta a promoção do aluno para o ano seguinte, sem ter
frequentado este. E lá vou eu, passar de ano, rumo ao Ensino Médio, um
analfabeto que me imprimiu uma página da wikipedia e colocou o primeiro nome em
cima, em garranchos de letra de forma, já que ele não aprendeu a cursiva e foi
promovido mesmo assim.
Chega
a reunião pedagógica bimestral e lá vamos nós, receber um pouco mais de
“Paulo-Freirezação”. Tudo de acordo com a cartilha. Nós fingimos que ensinamos e
eles fingem que aprendem.
Mas
tudo bem. Temos estabilidade, aposentadoria integral e, claro, greves bienais
que aumentam nossos benefícios regularmente.
*
Professor de História
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