Persiste
no País a incompreensão da nacionalidade, para o que contribui, em boa parte, a
intelligentsia brasileira, que costuma vir a público nos dias circunjacentes ao
7 de setembro para desconstruir a Independência do Brasil.
Ao
mito da República sem povo, soma-se agora o da Independência sem povo (conforme
artigo de José Murilo de Carvalho, "Independência sem povo", publicado no O
Globo de 10 de setembro). Resta saber o que vai sobrar das instituições
nacionais solapadas nos fundamentos de sua memória pelo mal disfarçado
revisionismo que explora novas oportunidades nesta quadra de incertezas
promovidas pelo governo federal e seus acólitos.
Houve
povo na Independência, sim, já no ato da aclamação de D. Pedro, em São Paulo,
na noite de 7 de setembro de 1822, após o ato do Ipiranga. Ou não eram do povo
os homens que constituíam a guarda de honra de D. Pedro?
Sim,
eram do mesmo povo que sustentou a Independência de armas na mão e com
subscrições públicas a compra de navios para Marinha Imperial e que nunca esteve
afastado das comemorações do 7 de setembro, simplesmente por que o Exército é o
povo em armas. Quem ainda não entendeu, que vá participar do 2 de julho, data de
comemoração da Independência na Bahia.
É
preciso estar muito distante do cotidiano nacional, das metrópoles aos sertões,
para fantasiar uma tradição de comemorações da Independência do Brasil sem
brasileiros.
E
é preciso muito facciosismo para não ver que neste 7 de setembro o público foi
afastado das comemorações não pelos militares, mas pelas milícias fascistas que,
desde junho, usando a população como escudo, agridem impunemente a sociedade e o
que lhe é caro, como o futebol, o Papa e a Pátria.
Os
historiadores sabem que os acontecimentos se ligam uns aos outros, dos quais
recebem e para os quais transmitem reflexos, ocupando-se eles de lhes
determinarem causas, importâncias e significados ao se desincumbirem de sua
complexa missão de interpretação e reconstrução histórica.
O
7 de setembro, pela sua importância e significado, está definitivamente
incorporado à História do Brasil como acontecimento cardeal onde culminaram
muitos antecedentes de autonomia e mesmo de soberania, e a partir do qual
derivam outros, formais, como a aclamação do Imperador, impossível de acontecer
sem o 7 de setembro.
Não
é a falácia da república popular que estenderá a soberania a todos os
brasileiros. Mais sincero seria trabalhar para estender a todos os brasileiros o
direito de conhecer, para começar, a sua História, a partir do que poderão gerar
a riqueza que tornará o Brasil mais próspero e mais justo.
Conhecimento
e educação: esta é a agenda legítima para o povo brasileiro ser independente dos
que pretendem subjugá-lo pelo populismo e pelo clientelismo.
Sérgio
Paulo Muniz Costa é membro do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro.
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