Sergio Paulo Muniz Costa *
Ao contrário dos oráculos, que lucraram com a crença na infalibilidade
de suas previsões, quem trabalha com a História nem sempre deseja
estar certo. A predicação da História por Marco Túlio Cícero –
lembrada pelo Padre José Carlos Brandi Aleixo em prefácio a livro de
minha autoria – como "testemunha dos tempos, luz da verdade, vida da
memória, mestra da vida e mensageira da antiguidade" ultrapassou a
dimensão mesquinha das querelas humanas.
Há algo de trágico quando a inevitabilidade do desastre se delineia.
Por isso, diante das enormes ameaças que passaram a pesar sobre a
humanidade desde o último século, a História tenha se aventurado à
prospectiva, dadas tantas e nefastas perspectivas.
Mas prospectar tendências a partir da análise de fatos não concedeu à
História nenhum predicado novo, apenas aplicabilidade na vida moderna.
Sim, pois não há prospectiva sem sentido histórico. É preciso
distinguir, entre o turbilhão de fatos, quais são acontecimentos e,
destes, quais são decisivos.
Longe de ser fatalista, é esse senso histórico que prevê as medidas e
provê as energias para o enfrentamento do desastre. Assim como o
governo inglês que, logo após a trapaça
de Hitler em Munique em 1938, reconheceu a guerra inevitável e se
preparou para sobreviver a ela.
Os acontecimentos no Brasil contemporâneo configuram uma tendência ao
confronto dentro da sociedade brasileira. Passamos de um momento de
aproximadamente quatro ou cinco anos atrás, onde ainda havia
perspectivas de composição e diálogo na busca de soluções para as
grandes questões nacionais, para um presente no qual a acumulação
de poder pela esquerda revolucionária criou um quadro de afrontamento
às instituições, à democracia e ao Estado de Direito no País.
Consumado o longo processo de aparelhamento do Estado pelo PT, o
governo por ele controlado se sente agora em condições de, contando
com operadores formais na Justiça, no Legislativo e nas entranhas do
Leviatã, aplicar a Lei como bem lhe aprouver e, dispondo de operadores
informais que militam incansavelmente nas muitas expressões da vida
social, justificar o desrespeito à Lei quando esta, pontualmente,
ainda oferece resistência ao seu projeto de poder.
Até aqui, não se vislumbra nenhuma reação da sociedade à ameaça que
vai se consubstanciando em agressão. O legal, o legítimo, o razoável,
o justo e o moral são descaradamente varridos pela máquina de poder
tocada pelo PT.
Na paisagem política do País parece não existir perspectiva de
contraponto consistente ao rolo compressor que a tudo intimida, compra
e neutraliza. Por incompetência, impotência ou conveniência, quem
poderia se opor à maneira truculenta pela qual o País está sendo
governado não o faz. Perverteu-se o próprio sentido de governo:
pasmos, assistimo-lo promover, patrocinar e conspirar o desgoverno.
Talvez estejamos diante de um daqueles momentos em que as respostas
acontecem em função dos desafios, e há um grande desafio colocado à
sociedade brasileira.
É consternador aqui voltar a acusar o quanto muitos continuam a se
omitir na defesa da sua liberdade, quão menos levantam a voz para se
opor ao arbítrio instalado e o tanto que todos já começamos a pagar
por isso.
Este 7 de setembro, além de legítima celebração cívica, é uma
excelente oportunidade para lembrar que seremos como Nação o que
respondermos ao que está acontecendo.
Ou nos dobramos ao caos ou exigimos respeito à Democracia que
constituímos. Grandes países não se fazem com facilidades, benesses e
certezas, mas sim com convicções.
(*) Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador
Nenhum comentário:
Postar um comentário