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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Nem mais, nem Menos

Sergio Paulo Muniz Costa *

Ao contrário dos oráculos, que lucraram com a crença na infalibilidade de suas previsões, quem trabalha com a História nem sempre deseja estar certo. A predicação da História por Marco Túlio Cícero – lembrada pelo Padre José Carlos Brandi Aleixo em prefácio a livro de minha autoria – como "testemunha dos tempos, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida e mensageira da antiguidade" ultrapassou a dimensão mesquinha das querelas humanas. 
Há algo de trágico quando a inevitabilidade do desastre se delineia. Por isso, diante das enormes ameaças que passaram a pesar sobre a humanidade desde o último século, a História tenha se aventurado à prospectiva, dadas tantas e nefastas perspectivas. 
Mas prospectar tendências a partir da análise de fatos não concedeu à História nenhum predicado novo, apenas aplicabilidade na vida moderna. Sim, pois não há prospectiva sem sentido histórico. É preciso distinguir, entre o turbilhão de fatos, quais são acontecimentos e, destes, quais são decisivos. 
Longe de ser fatalista, é esse senso histórico que prevê as medidas e provê as energias para o enfrentamento do desastre. Assim como o governo inglês que, logo após a trapaça de Hitler em Munique em 1938, reconheceu a guerra inevitável e se preparou para sobreviver a ela. 
Os acontecimentos no Brasil contemporâneo configuram uma tendência ao confronto dentro da sociedade brasileira. Passamos de um momento de aproximadamente quatro ou cinco anos atrás, onde ainda havia perspectivas de composição e diálogo na busca de soluções para as grandes questões nacionais, para um presente no qual a acumulação de poder pela esquerda revolucionária criou um quadro de afrontamento às instituições, à democracia e ao Estado de Direito no País. 
Consumado o longo processo de aparelhamento do Estado pelo PT, o governo por ele controlado se sente agora em condições de, contando com operadores formais na Justiça, no Legislativo e nas entranhas do Leviatã, aplicar a Lei como bem lhe aprouver e, dispondo de operadores informais que militam incansavelmente nas muitas expressões da vida social, justificar o desrespeito à Lei quando esta, pontualmente, ainda oferece resistência ao seu projeto de poder. 
Até aqui, não se vislumbra nenhuma reação da sociedade à ameaça que vai se consubstanciando em agressão. O legal, o legítimo, o razoável, o justo e o moral são descaradamente varridos pela máquina de poder tocada pelo PT. 
Na paisagem política do País parece não existir perspectiva de contraponto consistente ao rolo compressor que a tudo intimida, compra e neutraliza. Por incompetência, impotência ou conveniência, quem poderia se opor à maneira truculenta pela qual o País está sendo governado não o faz. Perverteu-se o próprio sentido de governo: pasmos, assistimo-lo promover, patrocinar e conspirar o desgoverno. 
Talvez estejamos diante de um daqueles momentos em que as respostas acontecem em função dos desafios, e há um grande desafio colocado à sociedade brasileira. 
É consternador aqui voltar a acusar o quanto muitos continuam a se omitir na defesa da sua liberdade, quão menos levantam a voz para se opor ao arbítrio instalado e o tanto que todos já começamos a pagar por isso. Este 7 de setembro, além de legítima celebração cívica, é uma excelente oportunidade para lembrar que seremos como Nação o que respondermos ao que está acontecendo. 
Ou nos dobramos ao caos ou exigimos respeito à Democracia que constituímos. Grandes países não se fazem com facilidades, benesses e certezas, mas sim com convicções.

(*) Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador

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