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Caserna

sexta-feira, 21 de junho de 2013

De que lado?



Sérgio Paulo Muniz Costa *




Deve ser muito difícil para autoridades, políticos e formadores de opinião que sabem o que realmente está acontecendo no País ficarem calados ou virem a público para declararem as platitudes de conveniência com que nos brindam nesses dias de tumulto que vivemos. Tanto quanto as suas atribuições institucionais, serão as suas consciências individuais que lhes dirão como lidar com isso. Isso não nos subtrai o direito de apreciar autonomamente o que ocorre, mesmo desconfiando que jamais se saberá o que realmente aconteceu por detrás da violência que tomou as cidades brasileiras.  
A palavra de mobilização já estava no ar semanas antes de os protestos começarem, chegando aos nossos lares com uma desfaçatez chocante.   O que se seguiu foram manifestações sincronizadas nos lugares emblemáticos da paisagem cívico-institucional de várias capitais brasileiras, depredando patrimônio público e privado de forma nunca antes ocorrida, enfrentando com desenvoltura tropas de choque da polícia e se justificando amplamente num discurso uníssono que parte de redações e universidades.
Portanto, o que está nas ruas não é espontâneo, é profissionalmente dirigido; não é pacífico, é factualmente destrutivo; não é reformista, é assumidamente revolucionário, e cada uma dessas antinomias expressa bem os caminhos que temos pela frente: a reafirmação da democracia ou o eclipse desta República, sem sabermos o que a substituirá. O assalto à Praça dos Três Poderes na noite de 20 de junho tem um significado grave para a História do Brasil. Cabe a nós, brasileiros, dizer qual será ele, e não aos desajeitados analistas gringos ou à expertise trotskista que vem do exterior.  
O oxigênio que alimenta essa convulsão social tem diversos componentes: a degeneração da política partidária, o sectarismo que tomou conta da sociedade, a deterioração das condições de vida nas cidades; e o autoritarismo e arbítrio estatal na vida social. É consensual que esses fatores geraram uma insatisfação surda e generalizada, mas não é razoável admitir que tenham deflagrado o que se assiste. Seria confundir causas com condicionantes, objetivos com circunstâncias e, mais do que tudo, vontade com oportunidade. A chama que acendeu o desatino que varre o País está numa vontade política que tem por objetivo a tomada do poder e essa simplicidade que se esconde em fingidas perplexidades precisa ser assumida urgentemente pela sociedade brasileira.
Os acontecimentos em curso no Brasil nos remetem a cinco ou seis décadas atrás, quando se plantou a crise que culminaria no fim da República de 1946. Dado o seu polimorfismo e infinidade de agentes e fatores, a História não se repete, mas se existe um aspecto comum a essas conjunturas políticas difíceis é a incontida vontade de poder de um homem cujos áulicos não mediam (ou não medem) as consequências dos atos para atingir seus objetivos.
Muitas perguntas foram feitas nesses últimos dias, mas diante de um silêncio e de uma inoperância insustentável começa a tomar forma a pergunta que poderá responder a muita coisa perante a História.
De que lado está o governo?

* Historiador



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