Continencia

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Caserna

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Com saída


* Sérgio Paulo Muniz Costa

A resultante das manifestações que se desenvolvem no País não poderia deixar de ser política e a essa altura ela está por demais evidente. O Executivo se arroga a convocar um plebiscito sem que ninguém saiba o que vai ser perguntado à população, mas que ninguém duvida que vai acontecer de acordo com a vontade dele. Se o noticiado envolvimento de setores do governo com os primeiros incidentes nas ruas e se a descarada pressão de cúpula exercida pelo Planalto sobre o Congresso em sincronia com a pressão de base não fossem suficientes para concluir sobre a manipulação do movimento pelo PT, o ululante cui prodest (a quem interessa?) que atravessou os séculos nas penas de Cícero a Lenin não deixa mais quaisquer dúvidas.
O que começou como manifestação popular por causas tidas como justas - graças ao oportunismo e a um monumental erro de foco de autoridades, políticos e formadores de opinião ‐ adquiriu uma dinâmica que agora prescinde de motivos e justificativas para espalhar o caos nas ruas e continuar a alimentar a pressão sobre as instituições e lideranças políticas da Nação. Protesta-­se sem que se saiba mais por que. As manifestações que haviam tomado inicialmente o cenário cívico das cidades se deslocou para as periferias, numa manobra estratégica que vai reposicioná-­‐las nos espaços controlados pelo PT, justamente onde há os maiores problemas de segurança pública, o que gera um potencial de agitação e violência muito maior. O que aconteceu na Maré, no Rio de Janeiro, é uma pálida amostra do que pode vir por aí.
Em um cenário ampliado, o que se assiste é a tentativa petista de rompimento do impasse decorrente do esgotamento político, econômico e moral da fórmula lulista. A resultante disso, materializada na insatisfação crescente da população, na aproximação entre oposicionistas e setores que apoiam o governo e na inevitabilidade do desenlace do mensalão, delineiam um revés em 2014 que o PT deseja evitar a todo custo. Não é possível garantir qual será a via que o PT profundo vai priorizar nos próximos passos: se a radicalização direta que leve a um vácuo de poder, algo factível com a possibilidade até aqui contida de colapso da ordem pública, ou a combinação da pressão de cúpula e de base que dá os seus primeiros frutos. Para quem gosta de cronologia, repete-­‐se o golpismo quadrienal que o PT pratica desde que assumiu o poder: em 2005, no mensalão; em 2009, com o pacote de medidas contra a imprensa, forças armadas e agronegócio; e agora, com o emprego de seus satélites ideológicos radicais para agitação popular, como sempre, no ano anterior à eleição. É, golpe mesmo, mais um, mais grave e melhor elaborado.
A oposição liberal ao regime de 1964 que emergiu vitoriosa em 1985 e fundou a atual República está sendo irremediavelmente suprimida e com ela a democracia no Brasil. Cabe perguntar como chegamos até esse ponto e as razões para esse estado de coisas não poderiam deixar de resultar da história recente do País, que parece perdida. Um autoritarismo que se reconhecia como tal e que pregava a auto-­‐extinção é julgado univocamente por um autoritarismo muito mais abrangente que pretende se eternizar no poder, e pior, sob o manto democrático. E isso ocorre por que a batalha pela história está sendo vencida pela esquerda revolucionária que conseguiu calar seus companheiros de palanque das Diretas Já, apagou as próprias responsabilidades pela ruptura ocorrida em 1964 e pelo posterior endurecimento do regime e, por fim, suprimiu da agenda nacional o potencial de livre iniciativa, autonomia e valorização da atividade produtiva que surgira no Brasil na década de 1970, substituindo-­‐o pela quimera do Estado em tudo e em todos.
As declarações feitas no dia 25 de junho em reação às iniciativas do Planalto não desmentem os riscos à democracia que estão bem presentes na atual crise. Mas, neste momento grave, o maior risco, o primeiro, imediato, aquele que abre um caminho sombrio para o Brasil, é o eclipse das lideranças políticas comprometidas com a liberdade e a democracia no País, independentemente de posições ideológicas. Não é só o PMDB a bola da vez, mas todos os partidos, tal como se entendem numa democracia representativa e plural. Essas lideranças políticas têm que vir a público, veementes, nas tribunas, nas ruas, nas páginas dos jornais, nas TV, nos rádios, em todos os espaços possíveis, para denunciarem o que acontece. Se estamos falando em fim de conchavos e acordos de gabinetes que corroem a representatividade política no País, este é o primeiro passo da atitude que tem duas pernas e há de impedir os efeitos da tsunami que já secou a praia: reação política e resiliência institucional. 

* Historiador

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