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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Meu Amigo Petista" - Elizabeth Rondelli

Tenho um amigo petista (pessoa incrível e honestíssima), que escreveu sobre o relatório da OIT - Organização Internacional do Trabalho, mostrando que a pobreza no Brasil caiu 36% em 6 anos, e dizendo que deve ter gente mordendo os cotovelos de tanta raiva. Não resisti e respondo publicamente.
         'Rir com dente é fácil'.
Quero ver agora que o preço das commodities caiu, que o modelo de exploração de petróleo criado pela presidenta prova-se inviável, que a Petrobras não consegue mais segurar a inflação artificialmente baixa, que o pibinho petista não vai sequer chegar a 2%, que o Brasil começa a ser encarado como um país onde é difícil fazer negócio por tanta intervenção e achaques às empresas, que o prazo razoável de fazer as importantes reformas (previdenciária, tributária, fiscal, política...) já venceu, que não houve um mísero progresso nas variáveis que impactam o aumento da produtividade e da competitividade (infraestrutura, educação, ciência e tecnologia), que todos os esforços foram direcionados à anabolização dos números no curto prazo em detrimento da poupança e do investimento no longo, que os sete (eu disse SETE) pacotes lançados nos últimos meses para tentar ressuscitar o paciente moribundo mostraram-se tão patéticos quanto as pessoas que os maquinaram, que as famílias estão endividadas até o talo de tanto estímulo ao consumo, que a arrecadação já dá demonstração de queda (mesmo com o aumento das alíquotas, o que representa perda real em base tributável — ou atividade econômica)...
Eu poderia continuar por mais uma semana elencando a sequência de burradas dos governos petistas. E olha que eu nem entrei no mérito moral — aí, é "capivara" mesmo, ficha policial.
Com economia aquecida e uma carga tributária boçal (em ambos os sentidos: quantidade e qualidade), é fácil ter muito dinheiro para gastar. Distribuir aos pobres parece coisa de gente de bom coração. Renda na mão de pobre vira consumo e consumo conta para o PIB. E, na mão de petista, vira voto na certa. Mas, agora que o dinheiro vai começar a rarear, quero ver onde vai estar o coração dessa gente. Ou vão cravar mais fundo os dentes no setor produtivo da sociedade ou vão ter que escolher o que deixa de receber recursos. Tenho certeza de que o caixa 2 das campanhas eleitorais deles está garantido — até porque este parece ser (por mais surreal que possa parecer) o ÁLIBI dos 36 réus do mensalão.
O fato é que, 10 anos depois, o pobre brasileiro pode ter ficado momentaneamente menos pobre na carteira, mas não se tornou um milímetro mais capaz de enfrentar os desafios do mundo moderno em que o país compete. Basta ver que os analfabetos funcionais das faculdades de gesso do Luladdad chegam a 38% (é inacreditável, mas é verdade).
Acabada a farra da gastança, voltaremos para a mesma estaca em que estávamos antes. Um pouco piores, na verdade, graças aos retrocessos que representam os constantes ataques às instituições da sociedade (a Justiça, a liberdade de imprensa, a independência dos poderes, o que restava de honradez no Congresso, a política externa que deixou de servir à nação para se dobrar a um projeto particular de poder...) e às bases da economia de mercado tão sólidas que os petistas herdaram de seus antecessores mais capazes (a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa Escola — este, sim, carregava uma contrapartida que produzia um efeito positivo no longo prazo em vez de boçalizar a população com esmola–, a autonomia do Banco Central, a confiabilidade dos dados oficiais, o modelo de privatização, o ordenamento jurídico que atraiu o investidor estrangeiro, a estabilidade econômica e de regras...).
Eu não mordo os cotovelos porque as pessoas estão menos pobres. Mordo de ver que o PT transformou em mais um vôo de galinha a maior oportunidade que o Brasil jamais teve de entrar definitivamente para a elite global. Mordo de ver que gente inteligente como você não consegue perceber a destruição do nosso futuro que está sendo promovida dia após dia por gente que só quer se locupletar e perpetuar seu poder sobre a máquina estatal — cada dia maior e mais nefasta para a economia e, por extensão, à sociedade. Mordo de ver que estamos abandonando as fontes que trouxeram riqueza para este país para nos alinharmos cada dia mais aos membros do Foro de São Paulo — do qual fazem parte o mais abominável ditador do século na América do Sul e o grupo narco-guerrilheiro que ele apóia no país vizinho. Mordo de ver que gente do bem ainda se alinha com os maiores bandidos que já ocuparam o poder central deste país. Mordo de pena. Mordo de tristeza. Mordo de desesperança.
 
 
 
 
Elizabeth Rondelli, doutora em Ciências Sociais, professora aposentada das Universidades Federais do Rio de Janeiro e Juiz de Fora

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