Um futuro para a educação
Sérgio Paulo Muniz Costa
A professora, diante de seus alunos, tirou da pasta um caderno escolar
estampado com a figura da heroína Lara Croft, ícone sensual
do início do século XXI. Em seguida, exibiu a gravura de um ídolo feminino do
Neolítico. Em frente à pintura de uma dama do século XVII, ela começou então a
explorar através das imagens as diferenças na representação da mulher ao longo
de oito mil anos. Que disciplina ela ensinava? Pouco importa. O notável da cena
ocorrida no Museu do Prado, em Madri, era a atenção com que os adolescentes
acompanhavam a exposição, anotando ou levantando a mão para fazer suas
perguntas.
Cenas semelhantes se repetem no Louvre, na Museumplein em Amsterdam, nos
museus em Berlim. Jovens são conduzidos pelos seus professores para aprenderem
através de aulas vivas, na forma e conteúdo. Nas crianças menores, observa-se
uma sadia mistura de competição e cooperação, alvoroçando-se quando encontram
nos expositores as peças que vão lhes permitir responder seus questionários. Em
outros museus, de época ou específicos, como Cluny e La Cité, são estudantes
mais maduros os observados perambulando entre relevos e relíquias, fazendo suas
anotações.
Qualquer que seja a área a que tais jovens irão se dedicar no futuro, é
razoável prognosticar profissionais com uma noção de conhecimento ampla, bem
estruturada e sem barreiras formais, sendo por aí possível compreender o estágio
de desenvolvimento integral (BUNGE) daquelas sociedades.
Claro está que aqui se privilegiou a vertente histórica, ancorada na referência
cronológica e espacial da produção cultural. Outras são possíveis, no corte
científico ou social. Sociedades de países maiores, como os Estados Unidos, na
impossibilidade de fazerem peregrinar seus alunos aos centros culturais,
trazem-nos às salas de aula, pela literatura e arte. São os pilares da
construção educacional em cada indivíduo.
Diante deste testemunho, cabe refletir sobre o que assistimos em nosso país.
Não se trata de uma comparação, incabível nesta nossa idade histórica de
imensas carências. Trata-se sim do caminho para superá-las, partindo-se da
premissa de que a situação em que nos encontramos é inaceitável. Tampouco é
elitismo, pois elitista é a naturalidade com que a nossa sociedade, de alto a
baixo, encara o escapismo da disfuncionalidade do sistema
educacional brasileiro, com alguns privilegiados que enviam seus filhos para
estudarem no exterior ou em nichos temporários de excelência no país. O
resultado está aí. Uma elite pequena, que produz pouco conhecimento e prefere
copiá-lo ou adaptá-lo, mal. Uma sociedade que não privilegia o conhecimento e se
limita a consumi-lo, sem noção de valor. Hoje, tudo escamoteado numa miríade de
estatísticas que se mostra absolutamente insuficiente para indicar o caminho da
superação do nosso déficit educacional.
A questão é qualitativa e não quantitativa, nunca é demais repetir, à
exaustão. É preciso conceber uma política de transformação da sociedade
brasileira baseada no conhecimento, alinhando-o à educação e pesquisa, em todos
os níveis escolares. Só assim será possível fazer os alunos irem à escola para
aprender e os professores lá estarem para ensinar. Tão simples quanto pedir a um
aluno do ensino médio que escreva uma página sobre o que acabou de aprender.
Quem se habilita?
Se quisermos um futuro para a educação, é preciso reverter a catástrofe.
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