Fernando
Meirelles e os Villas Boas
Fiquei sabendo, por um dos noticiários da tarde, que
está a se realizar em Manaus o 8º Amazonas Film Festival.
Naturalmente uma das estrelas do evento é o grande produtor nacional Fernando
Meirelles, de quem sou admirador e de quem já vi muitas obras. Sem nenhum favor,
considero-o um dos maiores gênios de nossa arte cinematográfica. Em dado momento
do noticiário ele fala de sua nova produção, o filme XINGU, de Cao Hamburguer,
e, como não podia deixar de ser, tece merecidos elogios aos três irmãos Villas
Boas: Orlando, Cláudio e Leonardo. Comete, todavia, lamentável erro histórico ao
dizer que, na década de 70, quando foi aberta a rodovia Cuiabá-Santarém, “houve
sério risco de o Exército Brasileiro dizimar milhares de índios”, o que apenas
não ocorreu por intervenção dos Villas Boas. Felizmente estou aqui para
contradizer tamanha inverdade.
Nunca, desde sua formação nas guerras contra os
holandeses, o Exército Brasileiro adotou ou apoiou políticas de seleção e, muito
menos, de eliminação de etnias. Basta lembrar que Felipe Camarão, índio
potiguar, foi um dos fundadores do que hoje é o Exército. Em época mais recente,
no século XX, o índio matogrossense Cândido Mariano da Silva Rondon ascendeu, no
Exército, ao posto de marechal e alcançou renome mundial por sua saga
desbravando os sertões, desenvolvendo nosso sistema de comunicações e fazendo
contatos com índios ainda bravios. É dele a frase: “morrer, se preciso; matar,
nunca”. Universalmente respeitado, realizou, no interior do país, ao contrário
do que ocorreu em outras nações americanas, um trabalho ímpar, sem paralelo no
mundo. Em minhas andanças pela Amazônia muitas vezes conversei com pessoas que o
conheceram e dele se tornaram admiradoras. Rondon e os Villas Boas foram
contemporâneos e se davam muito bem. Realizaram vários excelentes trabalhos em
conjunto. Se algumas vezes divergiram foi na busca da melhor maneira de servir
ao país. (Até entre os próprios irmãos, por vezes, havia
divergências).
Em 1969 o governo federal, considerando a vastíssima
experiência do Exército no trato dos problemas amazônicos, decidiu engajá-lo na
construção de estradas naquela área. Logo no início houve um problema sério na
BR 174 (Manaus-Boa Vista) em que onze homens não pertencentes ao Exército –
entre os quais um padre – foram massacrados por índios waimiris/atroaris. Nossa
pronta intervenção impediu que o conflito se alastrasse e permitiu o
prosseguimento da obra sem ocorrência de nenhum outro incidente grave até
hoje.
Tempos depois, na construção da BR 163
(Cuiabá-Santarém), foram flechados alguns funcionários do 9º Batalhão de
Engenharia de Construção pertencentes a uma turma de topografia. Imediatamente
foram tomadas todas as providências cabíveis, inclusive com a colaboração dos
próprios Villas Boas, para que os trabalhos pudessem prosseguir em harmonia com
os índios, feito esse que mereceu aplausos internacionais.
Em nenhum momento índios foram mortos por soldados
e, graças à experiência e à habilidade do Exército e dos Villas Boas, da mesma
forma soldados não foram mortos por índios. Soldados, índios e Villas Boas
sempre se deram bem. Quem pensa diferente precisa conhecer nossas guarnições
existentes na Cabeça do Cachorro. Certamente ficará entusiasmado ao ver o
orgulho com que o índio enverga a farda de soldado.
Minhas palavras expressam a mais pura verdade e
disso dou fé. E, graças a Deus, ainda estão por aí dezenas e dezenas de
oficiais, sargentos e praças do Exército que vivenciaram os fatos aqui citados e
podem comprová-los. Insinuar que o Exército é genocida é distorcer a verdade ou,
no mínimo, desconhecer a História. São inúmeros os filmes nacionais que
rememoram façanhas de conhecidos bandidos, como Lampião, Fernando da Gata, Lúcio
Flávio e muitos outros. Seria assaz interessante produzir também mais algumas
obras que realmente informassem a juventude sobre a verdadeira atuação dos
nossos grandes heróis. O Barão de Mauá já foi contemplado. Que tal, agora, um
filme sobre o Duque de Caxias? Sobre Rondon?
João Pessoa, PB, 11 de novembro de
2011
Mário Ivan Araújo Bezerra
Oficial-General reformado
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