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domingo, 13 de novembro de 2011

ENCERRANDO O CICLO...

Publicada em 14/09/2007 às 18h24m
Por Sérgio Costa

Continuam a se derramar sobre a opinião pública as informações, aparentemente contraditórias e desconexas, sobre a situação econômica e social do país. Deixemos de lado, por enquanto, a política, demasiado conturbada e deprimente para qualquer análise desapaixonada.
O crescimento do PIB aferido no período dos 12 últimos meses ultrapassou os 5%. Rumores inflacionários imediatamente fizeram com que o Banco Central mudasse o viés do corte da taxa de juros, ressoando o alarme presidencial em relação a um "crescimento explosivo". A produtividade do empregado brasileiro caiu a níveis inferiores aos verificados em 1980. A taxa geral de emprego vem aumentando. A moeda brasileira continua valorizada, mais devido ao dinheiro que vem do exterior em busca das ações e títulos nacionais do que ao sucesso das exportações dos setores de mineração e agricultura, o que dá vazão a comentários sobre uma "bolha de investimento" e "mudança da paisagem industrial". O consumo cresce, alimentado pelo dinheiro que entra. A pauta das exportações brasileiras coloca o país em uma posição bem acima da média mundial de setores intensivos em recursos naturais, enquanto que no tocante à participação dos seus setores intensivos em tecnologia diferenciada e baseada na ciência, o Brasil fica distante dos três núcleos geoeconômicos que mais prosperaram nas últimas décadas, Estados Unidos, Europa e Sudeste Asiático.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) mostra a diminuição do número de matriculados em todas as faixas de escolaridade no país. Mostra ainda um aumento anual na disponibilidade de bens de consumo pelas famílias, embora a renda não haja retornado aos níveis de dez anos atrás. A detecção de amplo movimento migratório nacional explica taxas negativas de atendimento de serviços de água esgoto em alguns estados, queda do número de matriculados na rede de ensino pública e desindustrialização de algumas regiões.
Ampliando o foco sobre os dados que cobrem um período de mais de duas décadas, a conclusão possível não é favorável quanto aos rumos da economia brasileira. A apreciação geral da economia de um país tem uma resultante óbvia - a qualidade de vida da população - e ela não é positiva, no presente e muito menos no futuro. Como esperar que a educação seja valorizada em um país cujas exportações se especializam em recursos naturais? Como esperar que a renda do trabalhador aumente onde os produtos têm pouco valor agregado? Como esperar que aumente a poupança nacional se existe uma pressão para o aumento do consumo e a renda não cresce? Como interpretar "migração" de empregos e de matrículas escolares num país com precária infra-estrutura?
A profecia dos BRIC, contida no documento "Global Economics Paper Nº 99 - 'Dreaming With BRICs: The Path to 2050'", do banco Goldman Sachs, e construída pelos economistas Dominic Wilson e Roopa Purushothman, contém uma maldição para o Brasil que estamos nos incumbindo de realizar antecipadamente. Chegaremos a ser em 2050, juntos com Rússia, Índia e China, uma das maiores economias do mundo, mas com grandes bolsões de pobreza e desigualdade social. Em suma, mais ricos, porém tão irrelevantes na capacidade de influir no cenário internacional em nosso favor quanto hoje, devido às nossas contradições e insuficiências. Além disso, sendo o único BRIC desarmado, sem tecnologia espacial e ensimesmado em termos de segurança, o Brasil tem escassas possibilidades de vir a se tornar um ator geopoliticamente influente. Não passará de um mero exercício de retórica a pretensão brasileira em alterar a matriz energética mundial, por mais que se alegue uma capacidade tecnológica aplicada, atual ou futura. De nada servirá se estiver isolada numa sociedade pouco educada, desigual, perdulária e desorientada. Em pouco tempo essa tecnologia será envolvida por outros conhecimentos pelos quais pagaremos caro e será transformada num mero insumo informação.
Considerando a diferença entre desenvolvimento econômico e crescimento econômico, é preciso que o Brasil alinhe as suas ações políticas e estratégicas no sentido de ser o grande detentor de recursos naturais dotado do capital físico, humano e financeiro capaz de transformá-los em riquezas, tornando-o mais próspero e mais igual. Poderemos então construir a nossa própria profecia e realizá-la, encerrando mais um ciclo de frustração, pela última vez.
Sérgio Costa é historiador

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