Publicada em
14/09/2007 às
18h24m
Por Sérgio
Costa
Continuam a se
derramar sobre a opinião pública as informações, aparentemente contraditórias e
desconexas, sobre a situação econômica e social do país. Deixemos de lado, por
enquanto, a política, demasiado conturbada e deprimente para qualquer análise
desapaixonada.
O crescimento do PIB
aferido no período dos 12 últimos meses ultrapassou os 5%. Rumores
inflacionários imediatamente fizeram com que o Banco Central mudasse o viés do
corte da taxa de juros, ressoando o alarme presidencial em relação a um
"crescimento explosivo". A produtividade do empregado brasileiro caiu a níveis
inferiores aos verificados em 1980. A taxa geral de emprego vem aumentando. A
moeda brasileira continua valorizada, mais devido ao dinheiro que vem do
exterior em busca das ações e títulos nacionais do que ao sucesso das
exportações dos setores de mineração e agricultura, o que dá vazão a comentários
sobre uma "bolha de investimento" e "mudança da paisagem industrial". O consumo
cresce, alimentado pelo dinheiro que entra. A pauta das exportações brasileiras
coloca o país em uma posição bem acima da média mundial de setores intensivos em
recursos naturais, enquanto que no tocante à participação dos seus setores
intensivos em tecnologia diferenciada e baseada na ciência, o Brasil fica
distante dos três núcleos geoeconômicos que mais prosperaram nas últimas
décadas, Estados Unidos, Europa e Sudeste Asiático.
A Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílio (Pnad) mostra a diminuição do número de matriculados em
todas as faixas de escolaridade no país. Mostra ainda um aumento anual na
disponibilidade de bens de consumo pelas famílias, embora a renda não haja
retornado aos níveis de dez anos atrás. A detecção de amplo movimento migratório
nacional explica taxas negativas de atendimento de serviços de água esgoto em
alguns estados, queda do número de matriculados na rede de ensino pública e
desindustrialização de algumas regiões.
Ampliando o foco
sobre os dados que cobrem um período de mais de duas décadas, a conclusão
possível não é favorável quanto aos rumos da economia brasileira. A apreciação
geral da economia de um país tem uma resultante óbvia - a qualidade de vida da
população - e ela não é positiva, no presente e muito menos no futuro. Como
esperar que a educação seja valorizada em um país cujas exportações se
especializam em recursos naturais? Como esperar que a renda do trabalhador
aumente onde os produtos têm pouco valor agregado? Como esperar que aumente a
poupança nacional se existe uma pressão para o aumento do consumo e a renda não
cresce? Como interpretar "migração" de empregos e de matrículas escolares num
país com precária infra-estrutura?
A profecia dos BRIC,
contida no documento "Global Economics Paper Nº 99 - 'Dreaming With BRICs: The
Path to 2050'", do banco Goldman Sachs, e construída pelos economistas Dominic
Wilson e Roopa Purushothman, contém uma maldição para o Brasil que estamos nos
incumbindo de realizar antecipadamente. Chegaremos a ser em 2050, juntos com
Rússia, Índia e China, uma das maiores economias do mundo, mas com grandes
bolsões de pobreza e desigualdade social. Em suma, mais ricos, porém tão
irrelevantes na capacidade de influir no cenário internacional em nosso favor
quanto hoje, devido às nossas contradições e insuficiências. Além disso, sendo o
único BRIC desarmado, sem tecnologia espacial e ensimesmado em termos de
segurança, o Brasil tem escassas possibilidades de vir a se tornar um ator
geopoliticamente influente. Não passará de um mero exercício de retórica a
pretensão brasileira em alterar a matriz energética mundial, por mais que se
alegue uma capacidade tecnológica aplicada, atual ou futura. De nada servirá se
estiver isolada numa sociedade pouco educada, desigual, perdulária e
desorientada. Em pouco tempo essa tecnologia será envolvida por outros
conhecimentos pelos quais pagaremos caro e será transformada num mero insumo
informação.
Considerando a
diferença entre desenvolvimento econômico e crescimento econômico, é preciso que
o Brasil alinhe as suas ações políticas e estratégicas no sentido de ser o
grande detentor de recursos naturais dotado do capital físico, humano e
financeiro capaz de transformá-los em riquezas, tornando-o mais próspero e mais
igual. Poderemos então construir a nossa própria profecia e realizá-la,
encerrando mais um ciclo de frustração, pela última vez.
Sérgio Costa é
historiador
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