O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
Assim, um pobre brasileiro
De povo dito faceiro
Pergunto-me o dia inteiro
Quando sairemos desse chiqueiro?
Um país tão maravilhoso
Com umas terras tão benditas
Que tem destino horroroso
Com essa canalha maldita
Que tem destino horroroso
Com essa canalha maldita
Políticos tão asquerosos
Ladravazes sem qualquer pudor
E ainda assim poderosos
Que perpetuam nosso horror
E ainda assim poderosos
Que perpetuam nosso horror
Súcia em tudo maldita
Sanguessuga do que é público
Que provoca tanta desdita
E o povo? Olha a tudo abúlico!
Povo desprovido de cultura
Que se vende por tão pouco
Talvez sirva uma dentadura
Ou em seu barraco um reboco
Onde estão os homens honrados?
Por onde anda a probidade?
Esses, que pena – estão acuados
Perdidos nessa imoralidade
E nesse beco que parece
Não possuir uma saída
O que nos resta – uma prece?
Fingir que não há desdita?
Eu acredito que não
Não desisto de minha terra
Resolva-se então no canhão
E que seja bem-vinda a guerra
Nenhuma grande Nação
Em toda a história do Mundo
Obteve glória e projeção
Sem caudais de sangue profundo
Desvios de todos os valores
Degradação da família
São hoje alguns fatores
Que a todos corrompe e vicia
Confesso, sinto-me envergonhado
De ser de um povo tão fuleiro
Um território privilegiado
Mas – é triste ser brasileiro
E assim, nas calhas de roda
Gira, a esmagar a razão
Esse comboio de corda
Que se chama coração
Saint-Clair Paes Leme – poeta de botequim pé-sujo, com a licença poética do fantástico Fernando Pessoa
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