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domingo, 5 de outubro de 2014

MEU LAMENTO DE VERGONHA


 
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
 Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
Assim, um pobre brasileiro
De povo dito faceiro
Pergunto-me o dia inteiro
Quando sairemos desse chiqueiro?

Um país tão maravilhoso
Com umas terras tão benditas
Que tem destino horroroso
Com essa canalha maldita
Políticos tão asquerosos
Ladravazes sem qualquer pudor
E ainda assim poderosos
Que perpetuam nosso horror
Súcia em tudo maldita
Sanguessuga do que é público
Que provoca tanta desdita
E o povo? Olha a tudo abúlico!
Povo desprovido de cultura
Que se vende por tão pouco
Talvez sirva uma dentadura
Ou em seu barraco um reboco
Onde estão os homens honrados?
Por onde anda a probidade?
Esses, que pena – estão acuados
Perdidos nessa imoralidade
E nesse beco que parece
Não possuir uma saída
O que nos resta – uma prece?
Fingir que não há desdita?
Eu acredito que não
Não desisto de minha terra
Resolva-se então no canhão
E que seja bem-vinda a guerra
Nenhuma grande Nação
Em toda a história do Mundo
Obteve glória e projeção
Sem caudais de sangue profundo
Desvios de todos os valores
Degradação da família
São hoje alguns fatores
Que a todos corrompe e vicia
Confesso, sinto-me envergonhado
De ser de um povo tão fuleiro
Um território privilegiado
Mas – é triste ser brasileiro
E assim, nas calhas de roda
Gira, a esmagar a razão
Esse comboio de corda
Que se chama coração
Saint-Clair Paes Leme – poeta de botequim pé-sujo,
com a licença poética do fantástico Fernando Pessoa

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