Muito tem se discutido neste blog
sobre o governo João Goulart e o golpe militar de 31 de março. Quem não
viveu aquela época não tem uma real noção do que aconteceu. Por
isso, vale a pena publicar a pesquisa da jornalista Cristiane Costa, postada
originalmente no blog BrHistória.
O levantamento mostra que a imprensa,
praticamente sem exceção, apoiou a derrubada do presidente João Goulart, em
função dos desatinos cometidos ao propor uma reforma agrária demagógica, que
atingiria todas as grandes fazendas produtivas, num país onde não faltam
extensas áreas improdutivas a serem cultivadas.
Além disso, Jango queria derrubar a lei da
oferta e procura, ao tabelar, também demagogicamente, todos os aluguéis nas
áreas urbanas. Sem falar na quebra da hierarquia nas Forças Armadas. Estas
foram as principais razões da queda, que teve expressivo apoio da classe média,
como os jornais registraram. É só conferir:
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“O Brasil já sofreu demasiado com o governo
atual. Agora, basta!” – (Do editorial “BASTA”, 31 de março de 1964 –
Correio da Manhã – Rio de Janeiro)
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“Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart:
Saia!” – (Do editorial “FORA!”, 1° de abril de 1964 – Correio da Manhã)
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“Desde ontem se instalou no País a verdadeira
legalidade … Legalidade que o caudilho não quis preservar, violando-a no que de
mais fundamental ela tem: a disciplina e a hierarquia militares. A legalidade
está conosco e não com o caudilho aliado dos comunistas” - (Editorial do Jornal
do Brasil – Rio de Janeiro – 1º de Abril de 1964)
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“Golpe? É crime só punível pela deposição pura e simples do
Presidente. Atentar contra a Federação é crime de lesa-pátria. Aqui acusamos o
Sr. João Goulart de crime de lesa-pátria. Jogou-nos na luta fratricida,
desordem social e corrupção generalizada.” – (Jornal do Brasil,
edição de 1º de abril de 1964.)
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“Minas desta vez está conosco”(…) “Dentro de
poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da
incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao
caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições.” – (Estado de S. Paulo
– 1º de abril de 1964)
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“Multidões em júbilo na Praça da Liberdade.
Ovacionados o governador do estado e chefes militares. O ponto
culminante das comemorações que ontem fizeram em Belo Horizonte, pela vitória
do movimento pela paz e pela democracia foi, sem dúvida, a concentração popular
defronte ao Palácio da Liberdade. Toda área localizada em frente à sede do
governo mineiro foi totalmente tomada por enorme multidão, que ali acorreu para
festejar o êxito da campanha deflagrada em Minas (…), formando uma das
maiores massas humanas já vistas na cidade” - (O Estado de Minas –
Belo Horizonte – 2 de abril de 1964)
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“A população de Copacabana saiu às ruas, em
verdadeiro carnaval, saudando as tropas do Exército. Chuvas de papéis picados
caíam das janelas dos edifícios enquanto o povo dava vazão, nas ruas, ao seu
contentamento” – (O Dia – Rio de Janeiro – 2 de Abril de 1964)
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“Escorraçado, amordaçado e acovardado, deixou o
poder como imperativo de legítima vontade popular o Sr João Belchior
Marques Goulart, infame líder dos comuno-carreiristas- negocistas-sindicalistas” – (Tribuna da Imprensa
– Rio de Janeiro – 2 de Abril de 1964)
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“Fugiu Goulart e a democracia está sendo
restaurada”… “atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e
progresso… as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na
integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado
pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal”. – (O Globo, 2 de abril de
1964)
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“Lacerda anuncia volta do país à democracia.” – (Correio da Manhã, 2
de abril de 1964)
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“A paz alcançada. A vitória da causa
democrática abre o País a perspectiva de trabalhar em paz e de vencer as graves
dificuldades atuais. Não se pode, evidentemente, aceitar que essa perspectiva
seja toldada, que os ânimos sejam postos a fogo. Assim o querem as Forças
Armadas, assim o quer o povo brasileiro e assim deverá ser, pelo bem do Brasil” – (Editorial de O Povo
– Fortaleza – 3 de Abril de 1964)
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“Ressurge a Democracia! Vive a Nação dias gloriosos.
Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente das vinculações
políticas simpáticas ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é
de essencial: a democracia, a lei e a ordem.
Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada …” - (O Globo – Rio de Janeiro – 4 de Abril de 1964)
Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas que, obedientes a seus chefes, demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ter a garantia da subversão, a ancora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada …” - (O Globo – Rio de Janeiro – 4 de Abril de 1964)
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“Feliz a nação que pode contar com corporações
militares de tão altos índices cívicos”(…) “Os militares não deverão ensarilhar
suas armas antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria.” – (Estado de Minas, 5
de abril de 1964)
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“A Revolução democrática antecedeu em um mês
a revolução comunista”. – (O Globo, 5 de abril de 1964)
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“Pontes de Miranda diz que Forças Armadas
violaram a Constituição para poder salvá-la!” - (Jornal do
Brasil, 6 de abril de 1964)
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“Congresso concorda em aprovar Ato
Institucional”. – (Jornal do Brasil, 9 de abril de 1964)
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“Milhares de pessoas compareceram, ontem, às
solenidades que marcaram a posse do marechal Humberto Castelo Branco na
Presidência da República …O ato de posse do presidente Castelo Branco
revestiu-se do mais alto sentido democrático, tal o apoio que obteve” – (Correio Braziliense –
Brasília – 16 de Abril de 1964)
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“Vibrante manifestação sem precedentes na
história de Santa Maria para homenagear as Forças Armadas. Cinquenta mil
pessoas na Marcha Cívica do Agradecimento” - (A Razão –
Santa Maria – RS – 17 de Abril de 1964)
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Nota de Redação – Seis dias depois da derrubada
de Goulart, a Tribuna da Imprensa de Helio Fernandes foi o primeiro jornal a se
posicionar contra o regime militar. Depois, o Correio da Manhã de Paulo
Bittencourt também foi para a oposição. Mas todos os outros destacados
órgãos da chamada grande imprensa seguiram apoiando indefinidamente a ditadura,
como fica demonstrado nesses dois editoriais que seguem abaixo, também
pesquisados pela jornalista Cristiane Costa:
“Vive o País, há nove anos, um desses
períodos férteis em programas e inspirações, graças à transposição do desejo
para a vontade de crescer e afirmar-se. Negue-se tudo a essa revolução
brasileira, menos que ela não moveu o País, com o apoio de todas as classes
representativas, numa direção que já a destaca entre as nações com parcela
maior de responsabilidades”. – (Editorial do Jornal do Brasil – Rio de Janeiro
– 31 de Março de 1973)
“Participamos da Revolução de 1964 identificados
com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas,
ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção
generalizada”. – (Editorial assinado por Roberto Marinho, publicado no
jornal” O Globo”, 7 de outubro de 1984, sob o título “Julgamento da Revolução”)
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