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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Nós, os brasileiros


A frase de Hayek: "quanto mais o Estado planeja, mais difícil se torna para o indivíduo traçar seus próprios planos", continua atual quanto a um aspecto vital da estabilidade econômica de qualquer nação: o investimento. Estimulá-lo, interna e externamente, tornou-se grande preocupação dos responsáveis pela política econômica, quase consenso entre economistas de diferentes escolas. Menos percebida é a convergência do público e do pessoal no investimento.
Em termos econômicos, fazer planos de vida significa investir. Nem sempre nos damos conta da importância do investimento para a nossa realização individual. Mas investir significa esperar confiando e a questão toma uma nova dimensão: a social. É da confiança generalizada no depósito das esperanças materializadas monetariamente que nascem os recursos que permitirão a construção de nossos sonhos.
Quando a capacidade de investir do indivíduo é comprometida e a confiança nas instituições de investimento é quebrada, assiste-se à deterioração das contas públicas. As mudanças e as improvisações que se introduzem então, em geral pouco transparentes, só agravam a situação, afastando mais o investidor, interno e externo. É o momento em que o planejador, paternalmente, comete prodígios legislatórios e o cidadão comum cria as mais inusitadas formas de salvar seu dinheiro e seus sonhos.
Mas a questão do que fazer com o nosso dinheiro (e o direito de fazê-lo) decorre de outros fatores menos evidentes que, na verdade, são cruciais para as nossas vidas. A começar pelo reconhecimento do dinheiro como instrumento da afirmação da soberania individual, enriquecendo todo ser humano que, independentemente de suas posses, o utiliza para realizar os seus talentos, predileções e aptidões.
Uma soberania de objetivos individuais é a garantia contra qualquer forma de opressão e nada é mais falso do que presumir ser a lei dispensável numa sociedade livre.
Bem elaborada, na medida em que se desconhecem os efeitos particulares de sua aplicação, a lei é imprescindível para liberdade. Mas se uma lei pode ser injusta ou arbitrária, o que pode garantir a igualdade de todos os cidadãos? Só o Estado de Direito, legitimado por uma ordem jurídica inspirada numa nomogênese autônoma poderá garantir a igualdade dos cidadãos perante a lei.
Assim não é difícil entendermos a lei associada à política. Se "a política é a ação dos homens livres" (Crick) que se colocam de acordo sobre objetivos comuns para atingir propósitos distintos, é possível compreender a ideia da limitação da ação política. Esta só é exequível onde for possível estabelecer e perseguir objetivos comuns.
Objetivos atingidos que não através da política foram estabelecidos por pessoas com os mesmos propósitos individuais, uma comunhão contrária aos desígnios de uma sociedade livre. Atribuir à política assuntos circunscritos à esfera individual que não estejam catalisados em objetivos comuns é a melhor maneira de desacreditá-la. É o que se assiste hoje no Brasil.
Os descaminhos da política no País recomendam a reflexão sobre referências históricas que parecem esquecidas.
A liberdade é o fim de toda ação política e é a limitação do poder que impede que ele seja arbitrário. Certos meios podem servir a diferentes fins, o que desmente a ideia de que os fins justificam os meios, principalmente na política.
Foram os métodos de justiça distributiva que serviram ao carreamento de riquezas em benefício de uma raça superior e foi o declínio do Estado de Direito em benefício do Estado Justo que redundou na supressão de todas as liberdades individuais.
Mais: em qualquer país, os esforços para o controle de uma economia sempre caracterizaram uma luta pelo poder, jamais uma necessidade social.
E, finalmente, nos países em que não se consolidou uma forte tradição parlamentar democrática, a única coisa que o socialismo conseguiu fazer foi abrir caminho para a ditadura.
Muito bem: onde ficamos nós?

Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador

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