Ivo Salvany –Cel Cav
R/1
Estava sentado em meu lugar predileto para
meditação, sem ruídos eletrônicos ou “zapzap” para me desconcentrar, quando me
veio à mente a difícil questão da exata compreensão da disciplina militar. Conceitualmente,
para os estudiosos deste tema, só existe a disciplina consciente.
Didaticamente, a disciplina pode ser vista sob quatro aspectos: o consciente, o
intelectual, o complementar. Nos seus vários aspectos e manifestações, sempre
visa o nobre fim a que se destina: a transmissão e o exato cumprimento de
ordens, condição necessária e suficiente da verdadeira disciplina consciente.
É dela que vem a ênfase na importância da cadeia de comando e nas
subordinações consequentes. A disciplina pressupõe, assim, um código de normas,
ou doutrina, a ser seguido na transmissão e na execução de ordens.
A ética
militar impõe a disciplina consciente, aquela que necessariamente faz sentido e
é compreendida por todos. Instrua-se o militar no entendimento do que faz no
cumprimento da missão, e não será preciso humilhar ninguém, coagido a obedecer
cegamente. A disciplina consciente também não existe se não há, por parte
do superior, a compreensão do seu papel como superior hierárquico. Cultua-se a
hierarquia, e não a pessoa do superior, obrigado a se mostrar à altura do lugar
que ocupa. A disciplina quando humilha, achaca e deprime
não é disciplina.
A
disciplina norteia o coração e a mente do militar. De tão importante, é absurdo
alguém na ativa – comandante, oficial, praça – agir apenas por instinto, e não
conscientemente, por não dominar os verdadeiros valores da disciplina. Nessa
condição é grande o risco da disciplina se transformar em subserviência com os
superiores, e em arrogância com os subordinados.
A
bíblia dos cavalarianos, o manual C 2-50, define como: “A disciplina é a
principal força dos exércitos. A rigorosa observação das prescrições do
regulamento disciplinar, a prática do manejo das armas e os exercícios de ordem
unida são eminentemente próprios para o desenvolvimento desse sentimento. [...]
Os hábitos de exatidão, de ordem, de correção e de obediência devem ser
profundamente incutidos e mantidos no soldado. Ser disciplinado é aceitar
conscientemente e sem vacilação a necessidade de uma lei, ou regulamento comum,
que estabelece e coordene os esforços de todos. ”
Então,
ciente desses conceitos e definições acima, rotular intempestivamente de
indisciplinado um militar inativo, por suas singulares ideias, teses e opiniões
pessoais livres e soberanas, mesmo que muitas delas sejam controversas e
chocantes, deixa claro que muitos de nossos pares estão confundindo a
disciplina militar consciente,
com a liberdade
intelectual acadêmica, filosófica, de opiniões, teses, pensamentos e ideias! Ou
seja, confundindo alhos com bugalhos!
Deixando supor, também, que o tempo deletou de velhas mentes brilhantes
que disciplina intelectual militar, essencialmente aplicada em todos os
exércitos, significa tanto o
direito como o dever de todos de contribuir para o aperfeiçoamento das ideias
que levam à melhor solução dos problemas e tomada de decisões.
A
disciplina intelectual militar acontece em todos os escalões, principalmente
nos Estados-Maiores, quando os chefes, geralmente os descentralizadores,
colocam em debate as questões antes da tomada de decisão. Significa,
também, que se pode discordar de tudo e de todos e discorrer livremente sobre o
que se pensa, durante as discussões, no chamado ”brainstorming”. Contudo,
mercê da disciplina consciente e intelectual, depois da decisão tomada, quem
foi voto vencido se obriga a trabalhar pelo sucesso da ideia vencedora. Isto
resultou na máxima de
que: “As ideias não têm hierarquia, as decisões sim! ” Claro, que as decisões
serão acatadas e cumpridas fielmente, desde que não firam a ética, dignidade
pessoal, moral e o pundonor militar.
Havemos
de recordar que o inigualável estadista e militar Winston Churchill considerava
que: “Todo método de trabalho de um militar de Estado-Maior se baseia na
disciplina consciente que induz à subordinação da opinião”. Por isto, nutria
clara simpatia pelos indisciplinados intelectuais que reagiam e lutavam com
veemência por ideias inovadoras e contrárias às opiniões unânimes calcadas em
velhos dogmas e doutrinas passadas.
Portanto,
havemos de refutar afirmativas
intempestivas que rotulem, infundadamente, de militar indisciplinado qualquer um de nós, cidadãos-soldados
inativos, fora da rígida cadeia de
comando e longe das decisões militares, apenas por ser excêntrico pensador, sui generis, autêntico,
opinativo e ter atitudes mentais livres, polêmicas, controversas, desassombradas e politicamente
incorretas, tudo isto, agindo a bem da justiça, da liberdade de pensamento e
opinião, e da verdadeira compreensão da essencial disciplina intelectual
militar. Assim seja!
Coronel Ivo Salvany tive a oportunidade e honra de tê-lo conhecido no 3° RCC RJ em 1998. Nesta época foi cunhado um brado, onde o comando dizia "Ferro e Aço" e a tropa respondia "Fogo e Balaço"... Eu era Sargento egresso da EsSA (três corações -MG)... Carreguei para Minha vida pessoal todo o ensinamento que o Sr. nos passou! Quando da sua passagem de comando eu estava numa das viaturas blindadas que o escoltou até a guarda do quartel... Dia inesquecível! Espero que chegue ao Sr. essa msg... Agora não mais no Exército brasileiro mas na Polícia Civil do RJ... A ALMA SEMPRE VERDE OLIVA!!! Sua corrida era conhecida como corridão do "aço", lembra? Fique com Deus e muita saúde!!! Um fraterno abraço do ex-Sgt Cav Rodrigo...
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