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Caserna

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

CARNAVAL 2015






Estamos agora em época de folia carnavalesca

E o brasileiro brincando. Que coisa mais pitoresca!

Decerto não é prioridade toda essa corrupção

Essa enorme falsidade que o PT impõe à nação

Toda essa safadeza que deixa os de bem descrentes

E eles rindo com certeza bem no nariz da gente

Deus, que país é esse com gente de tal leniência

Que olha essa coisa indecente sem perder a paciência!

Esse povo tão abúlico e com uma atitude bovina

Vendo o bem que é público servindo para propina

São dezenas de bilhões que nos são surrupiados

E uma massa de bobalhões vira o rosto para o lado

O Congresso só tem safado com raríssimas exceções

Ah, como fico irado vendo esses porcos vendilhões!

E vá você meu amigo errar em sua Declaração

Veja o que ocorrerá contigo. A multa é uma extorsão!

Mas é claro que devemos pagar e não tem apelação

Para custear essas bolsas desse governo ladrão

Vai dinheiro em mala, envelope, em Sedex e cueca

E a nossa gente bovinamente vai sentando na boneca

O Brasil à beira do abismo agora deu um passo à frente

E graças a tanto cinismo vai mesmo ficar diferente

Bem que a Dilma prometeu que tudo iria mudar

E agora você se fudeu não adianta mais chorar

A "nega" já está lá dentro e é inútil você reclamar

Resta fazer como a Marta: "é só relaxar e gozar"

Ao menos no carnaval podemos fazer uma economia

Pois com toda essa orgia já estamos com fantasia

O "Bloco do Picolé" sai todo com o mesmo som

Um enorme tarugo no "fiofó" e vai gritando: KIBON!

Peço perdão aos amigos por postar essa grossura

Mas já perdi a noção vendo tanta gente caradura

E vamos vivendo assim com o que nos enfiam na goela

E em curto prazo, podem crer: seremos uma Venezuela"

Saint-Clair Paes Leme

Poeta maldito de botequim pé-sujo

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Autonomia Tecnológica e Estratégica


Aléssio Ribeiro Souto – 6/12/2014

A concepção e implementação ou a transformação de qualquer sistema de ciência & tecnologia pode, e talvez deve, levar em conta condicionantes históricas, científico-tecnológicas e estratégicas. Neste texto, sem preocupação com a estruturação adequada e com embasamento conceitual, tento abordar essas condicionantes.

A autonomia tecnológica e estratégica é essencial para qualquer força armada e para o país que a abriga. Como origem ou corolário dessa autonomia, na história da Humanidade, não há vitórias militares relevantes com armamentos concebidos, projetados e construídos no exterior. Um brilhante aluno da ECEME se contrapôs a essa assertiva citando-me as vitórias norte-vietnamitas e israelenses. Asseverei-lhe que não foram as armas que deram a vitória aos vietcongues, mas a vontade daquele povo, estimulada por um militar estadista, o General Giap. Afirmei também que os israelenses usaram carros de combate e aeronaves compradas no mercado externo, mas instrumentalizadas com a aviônica e demais controladores e sensores — isto é, toda a inteligência dos sistemas bélicos — concebidos e produzidos pelos cérebros locais. Isso sem esquecer o que afirmara Ben Gurion, nos primórdios do Estado judeu, em tradução livre e descompromissada com a precisão: “Somos poucos, em um pequeno território, mas temos os melhores cérebros!”. E incontinenti, determinou a escolha de alguns dos mais talentosos jovens da área de física e engenharia para fazer doutorado em consagradas universidades europeias e americanas, voltar a Israel e estabelecer as fundações do que se conhece hoje como uma excepcional condição tecnológica e estratégica daquele Estado.

Como ilustração da autonomia nas duas vertentes fundamentais, vale a pena lembrar outros exemplos díspares, mas emblemáticos, envolvendo os Estados Unidos, Rússia, França,  China, África do Sul, Paquistão, Coréia do Norte e Irã. Os exemplos aqui citados estão apoiados na pesquisa e autonomia nuclear, permeada de dificuldades científico-tecnológicas, políticas e econômicas, a tal ponto que o Brasil renunciou ao desenvolvimento de armamento atômico. Entretanto, o conhecimento da evolução das conquistas nucleares pode ser considerado exemplar e serve de referência para outras áreas com menos sensibilidade e barreiras internacionais.

Os Estados Unidos produziram e testaram a primeira bomba atômica em Los Alamos, em 1945, no âmbito do Projeto Manhatan, reunindo alguns dos maiores cientistas de todos os tempos, oriundos de vários países — dentre os 24 cientistas mais relevantes, 11 eram americanos e 13 eram europeus. Entre eles podem ser mencionados: o italiano Enrico Fermi; os húngaros Leo Szilard, John von Neumann e Edward Teller; o dinamarquês Niels Bohr (com pequena mas importante participação, já que pode ser considerado, depois de Einstein, o mais notável cientista do século XX); todos reunidos sob a inexcedível liderança do americano Robert Openheimer (que mais tarde, fora muito contestado, entre outras coisas, por ser ligado a socialistas e comunistas). Ademais, o êxito americano resultou da contribuição de cerca de dezenas de centros de pesquisa tecnológica ou universidades.

A União Soviética construiu e testou sua primeira bomba atômica em 1949, após replicar, próximo dos montes Urais (com cerca de 40 000 profissionais, do servente de pedreiro ao engenheiro, envolvidos somente na construção civil), a infraestrutura americana do Projeto Manhatan e tendo obtido o projeto completo da primeira bomba atômica americana, que lhes foi repassado por Klaus Fuchs, cientista britânico, nascido na Alemanha, que trabalhou em Los Alamos e atuou como espião soviético.

Passando para o exemplo francês, é oportuno lembrar que após o término da Segunda Guerra Mundial, De Gaulle cobrou de Truman o apoio para o desenvolvimento científico-tecnológico e militar francês, em contrapartida acertada com o falecido presidente Roosevelt pelo apoio francês, em cientistas nucleares, que saíram da França por ocasião da invasão nazista. Nessa época, De Gaulle queria apoio para submarino e para a área nuclear. Truman fez-se de desentendido, asseverando que não havia qualquer acordo formal nesse sentido. De Gaulle tomou a decisão de implementar programas autônomos. Daí, resultaram as indústrias de carros de combate, de aeronaves bélicas, de submarinos e de armas nucleares, como hoje as conhecemos — ressalte-se que os franceses explodiram a bomba de fissão nuclear, chamada Gerboise Bleue, em Reggane/Argélia, em 1960 e a bomba de fusão nuclear, no atol de Fangataufa, no Pacífico, em 1968). É conveniente não esquecer que os americanos negaram apoio nuclear também para Israel. Por razões comuns, e também distintas, ocorreu a cooperação nuclear franco-israelense, a tal ponto que, por ocasião do teste nuclear com a Gerboise Bleue, afirmou-se que com uma única explosão, duas nações tornaram-se nucleares: França e Israel. Fontes não oficiais declaram que, na atualidade, Israel dispõe de arsenal atômico com mais de 100 bombas.

Mao Tse Tung triunfou na China em 1949 e foi a Moscou pedir apoio a Stalin. Tomou chá de cadeira durante quase uma semana. Foi recebido e ganhou a promessa de assistência militar, educacional e científico-tecnológica. Inicialmente, essa promessa foi cumprida e um extenso programa de cooperação foi estabelecido — até mesmo uma bomba atômica foi prevista no apoio para que os chineses pudessem ter dados para seu próprio projeto nuclear. No final da década de 1950, Kruschev encerrou o programa de cooperação, nos termos em que fora implementado, naturalmente com ênfase na negação do apoio nuclear. E o que fizeram os chineses? Sorriram! Na área científico-tecnológica para fins militares, eles montaram um programa espelho secreto, no qual tudo o que era feito em parceria com os soviéticos, era reproduzido no programa paralelo. Disso resultou, por exemplo, a primeira bomba atômica chinesa, que foi denominada “596” — número que se tornou emblema da honra e vergonha chinesas, uma vez que a negativa do líder soviético fora feita em junho de 1959 (59/6).  A China construiu seu primeiro artefato atômico por essas razões, mas também porque obteve o projeto do mesmo espião que o entregou para a União Soviética (depois de ser preso na Inglaterra durante mais de dez anos pelos malfeitos como espião, ele foi morar na antiga Alemanha Oriental e ao ser contatado pelos chineses entregou-lhes o projeto); e também com alguma colaboração francesa, já que o líder do projeto chinês, cientista Qian Sanqiang, trabalhou 11 anos na França com os renomados cientistas Frédéric e Irène Joliot-Curie (ele, membro do Partido Comunista Francês e demitido da liderança do projeto nuclear francês em 1950) e, ao retornar à China, recebeu de Mao Tse Tung a incumbência de manter a ligação com o casal Curie. Foi por essa época que os chineses lançaram as oito prioridades estratégicas de Ciência e Tecnologia, cujo objetivo era torná-los uma das potências dominantes 100 anos depois, ou seja, em 2050 — parece que vai acontecer antes! Sem querer ser exaustivo, convém lembrar que, das cinco potências que dispõem das bombas A e H, a China foi a que menos tempo levou para passar da explosão da bomba de plutônio para a de hidrogênio — a primeira foi testada em 1964 e a termonuclear em 1967.

No que concerne à África do Sul, a política do apartheid ocasionou rigoroso embargo internacional àquele país. Então, os sul-africanos não hesitaram e desencadearam processos científico-tecnológicos autônomos. O CSIR (Council for Scientific and Industrial Research) é um exemplo extremamente revelador. Centraliza a maior parte da pesquisa & desenvolvimento civil e militar da África do Sul e tem avanços surpreendentes para o inequivocamente problemático país. Como o maior embargo internacional, direcionado para qualquer longitude ou latitude, pode estar na área nuclear, vale a pena relatar que os sul-africanos produziram seis bombas atômicas. Esse fato é pouco divulgado, mas em 1993, antes de passar o poder para Mandela, o presidente De Klerk anunciou, em sessão secreta do Parlamento, a interrupção do programa nuclear e a desmontagem e, supostamente, o reaproveitamento em atividades industriais ou a destruição do material nuclear. Obviamente, a inequívoca autonomia sul-africana foi reduzida expressivamente após a ascensão de Mandela, com a consequente abertura para o exterior e as pressões e influências resultantes do poder econômico, científico-tecnológico e político internacional.

A Coréia do Norte e o Irã — este ainda não tem a bomba atômica, mas tem uma ampla infraestrutura nuclear, com o objetivo inarredável de construí-la — receberam ajuda da China.

Por intermédio de A. Q. Khan, o Paquistão obteve tecnologia nuclear europeia de forma ilícita, quando por vários anos esse cientista trabalhou em projetos nucleares europeus; contou com engenheiros nucleares da África do Sul, disponíveis após a interrupção do projeto nuclear sul-africano; e também recebeu ajuda da China.

Às questões de desenvolvimento nuclear, ao contexto em que ele historicamente ocorreu nos diversos países com êxito nesse tipo de empreitada, agregue-se a condição de beligerante de todos os países que se tornaram detentores de armas nucleares. Fundamental é refletir que, conquanto as conquistas dependam do exterior, as vitórias científico-tecnológicas, industriais e estratégicas nesse campo são individuais de cada nação.

Em face da recorrente citação de armas nucleares nessas notas, devo ressaltar que não considero primordial produzir bomba atômica. A Alemanha e o Japão não a produzem. Entretanto, a autonomia pode ser buscada nas tecnologias correlatas e na pesquisa & desenvolvimento de vetores de outras áreas, como o fazem de forma magistral os alemães e os japoneses.

O que é relevante mencionar quanto à autonomia tecnológica e estratégica no Brasil? Ressalvada a modéstia de conquistas, os resultados obtidos no âmbito do Plano Básico de Ciência e Tecnologia do Exército/2005 — um vigoroso (para a época) programa de pesquisa & desenvolvimento — devem ser considerados exemplares. Pois bem, a equipe de pesquisadores do Exército, em cooperação com outros centros de pesquisa e universidades, bem como com a participação do segmento industrial nacional — nacional e de brasileiros, eu ressalto! —, logrou êxito em pesquisar, desenvolver e produzir pelo menos 6 sistemas bélicos que jamais foram obtidos ao Sul do Equador: radar para defesa antiaérea, simulador para treinamento de piloto de helicóptero, sistema de comando e controle, sistema de guerra eletrônica, viaturas tubulares sobre rodas com suspensão independente nas quatro rodas e sistema para emprego automático de metralhadora em viatura blindada. Convém enfatizar que todos estão em uso ou poderiam estar em uso no Exército. Essa amostra, pequena é bem verdade, comprova que o desenvolvimento autônomo é possível.

E um contra exemplo de nosso País? Tomemos uma referência industrial, alicerçada em evolução tecnológica: a indústria automobilística brasileira que é uma das seis maiores do mundo (pode ser a quinta, sétima ou oitava; isso é irrelevante). Entretanto, somos o único país dentre os 10 maiores produtores de automóvel que não possui uma empresa automobilística nacional, de propriedade de nacionais e com capital majoritariamente nacional. Por imperioso, esse segmento industrial pode ser considerado uma metáfora dos demais segmentos importantes para qualquer país. O impacto disso sobre a área militar é enorme. A quem recorrer para termos vetores de deslocamento nacionais? A solução: pagar a pesquisa & desenvolvimento para empresas estrangeiras que já produzem vetor similar. É nonsense em estado puro.

Por ocasião da concepção de nossa Estratégia Nacional de Defesa, tive a oportunidade de examinar as estratégias similares, britânica, francesa, chinesa e australiana. Na época, fui quase inconveniente, pleiteando que, do ponto de vista científico-tecnológico, fosse levado às mais altas instâncias militares a necessidade de intensa e pertinaz participação no processo. Curiosamente, tive no CTEx uma manhã como o Sr. Mangabeira Unger e cheguei a ser, ao lado de outros, cogitado para participar de algumas reuniões para tratar do tema — não foi possível! E eu aduziria que o setor de Ciência & Tecnologia militar terrestre teve uma participação menor do que poderia! Um indicador das consequências da END (ou EDN) foi o interesse das empresas estrangeiras do setor de defesa em atuar no Brasil e até mesmo em adquirir empresas brasileiras que, a duras penas e com apoio do Exército, pesquisaram e produziram alguma coisa. Essas multinacionais entenderam o recado algo como: “É a hora, venham que lhes acolhemos!”. Lamente-se similarmente a associação de empresas brasileiras do setor de construção civil com multinacionais estrangeiras do setor de defesa. As empresas brasileiras conseguem até construir mais no exterior e as estrangeiras mantém a supremacia e impedem a nossa autonomia. Nesse sentido, há companheiros que pregam com desassombro a associação como forma de aceleração do crescimento. Eu também posso defender a ideia, desde que haja uma participação paritária — o que é uma impossibilidade quando o insumo essencial é o conhecimento, pois prevalece quem o detém.

O que posso inferir do conteúdo dessas notas e informações? Não tenho a pretensão de transmitir conhecimento ou convencer sobre isso ou aquilo. Mas é inquestionável asseverar que no Brasil não há prioridade para o desenvolvimento científico-tecnológico, como de resto, não há prioridade para o processo educacional. Não há uma mentalidade de pregação da autonomia tecnológica e estratégica. Tudo que vem do exterior continua sendo bom. De um simples objeto doméstico a aeronaves e equipamentos militares, passando pelos serviços culturais como, por exemplo, a música e o cinema. Fala-se com ar de superioridade quando se tem acesso ao que vem do exterior. Penso que há uma enorme lacuna a ser preenchida em nosso País. É a ausência de pensadores e formadores de opinião concernentes aos interesses das Forças Armadas, alicerçados no campo científico-tecnológico. Então, estes garranchos com características panfletárias, sem preocupação com a estruturação e com o embasamento conceitual, podem servir de estímulo para que companheiros talentosos, com maior conhecimento e qualificação possam tratar apropriadamente da fundamental questão da autonomia tecnológica e estratégica de nosso País.

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Este texto foi elaborado com dados colhidos em fontes bibliográficas e obtidos em visitas a centros de pesquisa científico-tecnológica da África do Sul, China, Rússia e Reino Unido. Para um estudo mais cuidadoso e confirmação dos dados vale a pena consultar:

  1. The nuclear express, de Thomas C. Reed e Danny B. Stillman, Zenith Press, 2009;
  2. Defend the Realm – The authorized history of MI5, de Christopher Andrew, Borzoi Book, 2009;
  3. The making of the atomic bomb, de Richard Rhodes, Simon & Schuster, edição revista de 2012;
  4. Spying on the bomb, de Jeffrey T. Richelson, W. W. Norton & Company, 2007; e
  5. Robert Oppenheimer – A life inside the center, de Ray Monk, Dobleday, 2012.

 

PS1. Conquanto os dados levantados possam ser considerados ultrapassados e/ou irrelevantes, vale ressaltar que as fontes bibliográficas citadas, à exceção de uma apenas, foram elaboradas no período de 2009 a 2012. Nosso patamar organizacional impõe a renúncia a temas que os países organizados não descuram.

 

PS2. O presente texto pode ser encontrado no endereço:
http://ribeirosouto.blogspot.com.br/2014/12/autonomia-tecnologica-e-estrategica.html

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Análise Contemporânea


Por João Cesar de Melo

Como um delinquente bêbado, pouco mais da metade da população decidiu continuar acelerando inconsequentemente na mesma curva que seus vizinhos capotaram. Capotará também, porém, levando consigo a outra metade da população que o acompanha sentada à sua direita, no banco do carona.

Devemos ter pena dessa outra metade? Devemos vê-la como inocente? *Não.* Apesar de sua lucidez e honestidade, ela sempre foi passiva, tanto que virou cúmplice de sua própria tragédia. Foi covarde. Teve medo de impor limites àqueles que pediram e depois assumiram o volante.

Os culpados pela reeleição de Dilma:

Fernando Henrique Cardoso, por sua tolerância com as sabotagens, ofensas e calúnias que sofreu durante seu governo, o que soou aos ouvidos do PT como uma permissão para continuar com aquela estratégia de se chegar ao poder.

Qual foi sua atitude diante dos falsos dossiês sobre sua vida? Nenhuma.

Qual foi sua atitude com aqueles que invadiram, depredaram e saquearam (com apoio de Lula) a fazenda de sua família? Nenhuma.

Fernando Henrique Cardoso não foi homem nem para defender sua mulher (que dedicou sua vida a projetos sociais) das calúnias que sofreu.

Nas três eleições seguintes, José Serra e Geraldo Alckmin concorreram à presidência sem bater no PT, afundado em casos de corrupção e permitindo que Lula e Dilma pejorassem (depreciassem) as privatizações de FHC.

Nesses 12 anos de governo petista, o PSDB não apenas fez uma oposição frouxa, mas assistiu passivo o PT promovendo uma massiva campanha de desconstrução do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Enquanto os tucanos tentavam conquistar votos exibindo a beleza de suas penas, a imprensa e a Justiça também se continham diante dos desvios e afrontas da esquerda liderada pelo PT.

Temendo serem vistos como a continuidade da postura antidemocrática do regime militar, a maior parte dos jornalistas, dos meios de comunicação, dos promotores e dos juízes deram espaço e liberdade para o movimento socialista divulgar suas ideias, por mais absurdas que fossem, e Lula construiu carreira pregando a espoliação do capital e da propriedade privada.

Viram, passivos, o PT sendo preenchido por aqueles que defendiam o alinhamento do Brasil com todos os líderes da extrema esquerda latino-americana.

Ignoraram o Foro de São Paulo.

Assistiram o PT acolhendo e projetando politicamente ex-guerrilheiros e comunistas declarados. Livraram muitas e muitas vezes o PT e sua militância do peso da lei para evitar serem taxados de repressores.

Obviamente, artistas e intelectuais também passaram a endossar todas as ações de Lula e do PT por vê-los como um poema revolucionário que levaria progresso ao país.

Sustentando esta tolerância irresponsável estavam pequenos empresários, profissionais autônomos e assalariados comuns que tentavam construir suas vidas por si mesmos, por meio de seus esforços e talentos.

Mesmo sentindo a faca estatal lhe cutucando o pescoço com cada vez mais força por meio de impostos e burocracias, mantiveram-se indiferentes aos absurdos do governo por... não gostar de se manifestar sobre essas coisas de política; covardia que permitiu aos cretinos e canalhas ditarem o caminho que o Brasil seguiria.

Aqui estamos assistindo uma ex-guerrilheira comunista sendo reeleita Presidente da República, ovacionada por uma militância que prefere ostentar bandeiras do PT em vez de bandeiras do Brasil.

Aécio Neves e seus eleitores foram bravos, porém, tardios. Levantaram-se apenas quando o PT já estava com a maior parte da máquina estatal trabalhando para si. Depois de tantos anos sendo complacentes com as boas intenções e com os métodos petistas, agora sentem o amarguíssimo gosto de se verem condenados a serem meros financiadores de um projeto ideológico.

Gabeira, Gullar e outros intelectuais demoraram demais para se posicionar contra os absurdos do PT.

Como símbolo da covardia da metade não corrompida do Brasil, aponto Joaquim Barbosa. Mesmo sendo reconhecido pela população como um herói por seu posicionamento no processo do Mensalão, retirou-se covardemente de cena logo quando a sociedade mais precisava dele. Foi ameaçado e caluniado de todas as maneiras pelo PT, mesmo assim se manteve distante do processo eleitoral. Teriam bastado duas ou três manifestações públicas dele em apoio ao candidato do PSDB para Dilma perder muitos votos. Mas não... Joaquim Barbosa não quis se meter na política. Prezou sua imagem. Foi covarde.

Infelizmente, foram em vão os esforços e a coragem das poucas pessoas que nestes anos todos denunciaram os absurdos do PT.

A certeza que tenho é que a metade não corrompida da sociedade voltará à sua covarde e histórica reclusão enquanto o PT acelerará a concretização de seu projeto de poder; e ninguém poderá acusá-lo de ter nos enganado.

Todos os seus objetivos sempre foram muito claros. Suas ações, seus pronunciamentos, suas alianças... Nada foi escondido.

Dilma Rousseff deixou bem claro que não mudará a condução da economia, que não enxugará a máquina pública, que não tirará nenhum companheiro das estatais, que não deixará de financiar projetos em Cuba e na Venezuela. O Brasil vai quebrar, pois o PT precisa que quebre.

Quanto pior for a situação do país, Dilma terá mais justificativas para intervir na economia, na justiça, na imprensa e na liberdade das pessoas.

O PT quer tirar o poder político e econômico da classe média para torná-la dependente do Estado.

Os ricos que não forem embora se aliarão ao partido. Anotem:

1. Dilma forçará sua reforma política para transferir poder do Legislativo para o Executivo e para os movimentos sociais ligados ao PT;

2. Perseguirá, sem pudor, toda a Justiça e imprensa não alinhadas ao PT, anulando os processos que estão em curso, blindando Lula de toda e qualquer acusação;

3. Remodelará a Constituição de modo que preserve o PT no poder;

4. Colocará sua militância na rua para intimidar qualquer manifestação da sociedade independente;

5. Efetivará as diretrizes do Foro de São Paulo, institucionalizando um bloco socialista de ajuda mútua entre Cuba, Venezuela, Bolívia e Argentina.

Adorarei reconhecer, daqui a uns anos, que minhas projeções estão erradas mas, hoje, não me é possível enxergar como processos distintos o que acontece aqui e o que aconteceu na Venezuela, onde a maior parte das pessoas que agora vão às ruas protestar contra o governo foram às ruas apoiá-lo anos atrás. Arrependeram-se tarde demais.

Arrependeram-se não como um delinquente depois da capotagem.

Arrependeram-se como um carona que permitiu ser conduzido por um bêbado irresponsável.

Agora, lá estão os venezuelanos, presos a uma maca e sobrevivendo de soro.

Logo, o Brasil será um "país de arrependidos."

 

João Cesar de Melo - Arquiteto, artista plástico e escritor. Autor do livro Natureza Capital