- Publicado em Domingo, 17 Fevereiro 2013 19:00
- Escrito por Sérgio Paulo Muniz Costa

Na sua incapacidade de se reinventar como autora no jogo democrático, essa
esquerda aposta na militarização da memória nacional. Aferrados a tempos e
palavras distantes, ainda como "camaradas em armas", seus militantes
incrustrados no poder insistem em reduzir o debate nacional à miserável
dicotomia luta armada – repressão. Nada a estranhar, pois esse foi o seu campo e
parece que vai continuar a ser.
Essa militarização sem militares é promovida pelos que premiam invasores e
agressores, pelos que pretendem suprimir a liberdade de expressão e opinião, e
principalmente, pelos que sempre detestaram o dissenso na sua volúpia da verdade
única, do conhecimento único, da vontade única. Nada a estranhar também que
esses mesmos não aceitem que algo estranho a seu credo seja ensinado numa
sociedade que não conseguem enxergar múltipla, mas tão somente na totalidade que
pretendem controlar.
O que causa estranheza é assistir grandes jogadores do jogo político e de
opinião aceitarem participar dessa esquizofrenia que boa parte da esquerda já
abandonou. Algumas questões sempre presentes no cenário brasileiro podem
explicar isso.
A primeira é o desconhecimento na sociedade brasileira quanto ao papel e
destinação das Forças Armadas. Tem-se como marca de competência das forças
armadas a proficiência em combate, quando, na verdade, mais do que isso, a
competência militar em questão é do país, que é medida pela sua capacidade de
dissuadir conflitos, de vencê-los quando inevitáveis e, principalmente, de
extrair da vitória a paz.
Forças armadas de grandes países desenvolvem hoje estratégias de preparo e
emprego baseadas em capacidades e não em materializações do inimigo. Nem a
hiperpotência ousa algo diferente. O critério é, portanto, político-militar, e a
medida de competência é a prova histórica. O Brasil não é grande, coeso
nacionalmente e relevante no cenário regional por acaso.
Isso é competência, de gerações. A segunda questão está na qualidade do
revisionismo histórico que se pretende praticar no País. Ele é natural e
necessário à evolução da sociedade. O que o valida é a coerência e
fundamentação, e o marxista, tão conspícuo em nossa academia, costuma claudicar
em ambos. Afinal, revoluções não fazem dirigentes depostos desaparecerem do país
num passe de mágica, nem guerras acontecem sem mortos e desaparecidos, ambas
formas de contabilização de baixas em qualquer conflito.
Parece que a campanha de 2014 realmente começou e a esquerda revolucionária
colocou o bloco na rua com seu samba da mesma nota. Não aprendeu nada de novo e
não é para ser levada a sério. O divertido é que agora ela quer ensinar.
Sérgio Paulo Muniz Costa é historiador
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